Júlio Anselmo

Júlio Anselmo, do Rebeldia, Juventude da Revolução Socialista

As manifestações do dia 13 de agosto foram um importante passo na luta em defesa da educação e da aposentadoria. Mas é preciso muito mais se queremos derrotar os planos de Bolsonaro que retira direitos de trabalhadores e estudantes, transformando o país em uma colônia dos EUA. O discurso autoritário do governo está a serviço da pavimentação de uma verdadeira semiescravidão do nosso povo. Reforma da previdência, Medida Provisória que retira mais direitos trabalhistas, “Future-se” que irá privatizar as universidades, aumento do genocídio da juventude negra e violência contra os povos indígenas, junto com destruição da Amazônia e privatização das riquezas do país. Diante disso, todas as movimentações das grandes organizações, que deveriam se jogar de cabeça na luta, se mostram muito aquém do necessário para barrar a barbárie que o governo vem promovendo no país.

Aprofundar a luta ou negociar com o governo?
Se é verdade que há uma polarização social e política forte no país, com o governo ainda tendo uma base de apoio, não é verdade que não há disposição de luta por parte dos trabalhadores e da juventude. O movimento estudantil ao longo do ano mostrou sua disposição para lutar e ser linha de frente na resistência contra o governo. O dia 15 de maio foi o maior exemplo disso. Uma luta conjunta dos estudantes com os trabalhadores em Educação conseguiu realizar as maiores manifestações dos últimos anos.

E mais, para resolver a polarização social e política, ou o governo vence e derrota os trabalhadores, ou os trabalhadores vencem e derrotam o governo. Mas sem preparar as lutas já, só teremos a certeza da derrota. Então a luta é o caminho, mas as direções das centrais sindicais, com exceção da CSP-Conlutas, e a maior parte das organizações de esquerda preferiram o caminho das negociações. Os governadores do PT abertamente fizeram este movimento. E algumas centrais sindicais também como a Força Sindical e outras mais acanhadamente como a CUT.

A UNE inclusive se reuniu com o ministro da Educação, em uma movimentação inócua, que mostra mais o afã de ficar pelos gabinetes e palácios do que preocupação de mobilizar de fato. Tanto é que na base a movimentação da entidade segue baixíssima. Negam-se a se colocar a serviço da greve geral. Recusam-se a construir uma luta real com os trabalhadores. Vivem apenas de marcar atos de rua que não constroem. O PCdoB, que dirige a UNE, inclusive votou no Rodrigo Maia (DEM-RJ), um dos grandes responsáveis pela aprovação da reforma da Previdência, para a presidência da Câmara. E Flávio Dino, governador do Maranhão do PCdoB, segue reprimindo a luta com despejos violentos no Maranhão.

O movimento estudantil na encruzilhada
Para avançar é preciso que o movimento estudantil se coloque como tarefa construir a unidade necessária com os trabalhadores para parar o país. Aprofundar as mobilizações de rua. Mobilizar escolas e universidades com paralisações, ocupações, greves, etc. Há disposição no conjunto dos estudantes para a luta, mas não há organização na base ou sequer a preocupação com isso. O papel dessas organizações burocráticas que promovem verdadeiras traições ajuda a dispersão daqueles que querem lutar.

Há um problema político grande para que as mobilizações ganhem o vulto necessário e incendeiem o país. O problema é que cada vez mais a pauta do “Lula Livre” divide a luta e gera uma ojeriza por parte daqueles milhões que poderiam ir as ruas contra os projetos de Bolsonaro. Para angariar apoio da massa é preciso que as pessoas compreendam que ir para a rua não tem nada a ver com defender Lula e o PT. Mas o PT faz o exato contrário. Tenta manipular as lutas da educação, por exemplo, e transformá-la em manifestações pró-PT. E aí a coisa toda desanda. A unidade para lutar está sendo surrupiada por aqueles que miram apenas o calendário eleitoral e a volta do PT ao governo como suposta saída para o país.

Defendemos a mais ampla unidade para lutar contra os ataques. Essa unidade deve ter como centro derrotar os ataques de Bolsonaro e colocar milhões em luta. Mas negociações, traições e a desorganização, estão minando a luta.

Duas estratégias n a luta dos trabalhadores
A polarização política e social que estamos vivendo reforça a importância de fazermos um debate estratégico. Sem abrir mão da unidade para derrotar Bolsonaro, os estudantes e trabalhadores tem que saber que para derrotar o projeto autoritário e de semiescravidão do governo é preciso que os trabalhadores construam uma alternativa sua.

Os ricos devem pagar por essa crise que eles criaram. Temos que parar de pagar a injusta dívida pública para garantir investimentos em educação e aposentadoria. Expropriar as 100 maiores empresas e os grandes bancos que vivem de superlucros enquanto o povo fica na miséria. Diante do desgaste dessa democracia dos ricos, Bolsonaro vem querendo impor uma ditadura militar. O que só irá piorar ainda mais. Estamos na linha de frente contra a escalada autoritária de Bolsonaro e em defesa das liberdades democráticas.

O papel que cumpre o PT só demonstra que seguem com o mesmo projeto eleitoralista de alianças com os empresários. Querem voltar ao governo para repetir o que fizeram: governar com a burguesia.  São parte do sistema e defendem um capitalismo mais humano, que é impossível. São também responsáveis pela situação que vivemos, ajudaram no fortalecimento da direita. Por isso também não são a solução. É preciso superar o PT e seu projeto que também capitalista.

A saída dos trabalhadores passa por rechaçar a estratégia do PT de conciliação de classes.  Defendemos o poder na mão dos trabalhadores, através de conselhos populares, construindo uma verdadeira democracia dos trabalhadores, que seja capaz de solapar esse sistema. Inclusive, só com esta revolução dos socialistas será possível garantir as reivindicações dos trabalhadores, da juventude e do povo pobre.