A imprensa de todo o planeta relembra nesse dia 11 de setembro o atentado terrorista nas torres do World Trade Center, em Nova Iorque. O maior ataque sofrido pelos EUA em seu próprio território teve seu impacto multiplicado pelo fato de, numa época regida pela comunicação via satélite, ter sido filmado e transmitido ao vivo. Quase que instantaneamente, habitantes dos quatro continentes puderam ver as imagens dos aviões atingindo as torres gêmeas, assim como o desmoronamento dos prédios e a enorme fumaça negra engolindo parte de Manhantann sob o olhar atônito dos nova-iorquinos.

Os EUA se aproveitaram do ataque para imprimir uma nova orientação de sua política externa, concretizada através de uma ofensiva militar no Oriente Médio. Menos de um mês depois dos ataques, George W. Bush, eleito através de uma fraude eleitoral e contando com uma rejeição altíssima, ordena a invasão do Afeganistão, sob a justificativa de caçar Osama Bin Laden, seu antigo aliado. Em março de 2003, os EUA invadiam o Iraque, utilizando agora a já comprovada farsa da existência de armas de destruição em massa no país.

Os escombros do WTC já foram há muito removidos, mas os fatos por trás do 11 de setembro ainda permanecem encobertos. É amplamente conhecido, por exemplo, o fato de Washington ter farta informação sobre a movimentação dos terroristas de Bin Laden nos EUA. Até que ponto, porém, o governo norte-americano sabia sobre o atentado? Ou a estranha permanência de Bin Laden em uma cidade militar do Paquistão até que fosse assassinado pelas forças especiais norte-americanas, em circunstâncias não menos bizarras.

Talvez a verdade sobre isso nunca venha à tona. O fundamental, porém, é tentar entender o que significou para o imperialismo o 11 de setembro, e seus desdobramentos tanto nos EUA quanto no mundo.

Crise e retomada
Os EUA que entravam no século XXI já não contavam com todo o otimismo que vigorava na década anterior. Os anos 1990 foram marcados pela reafirmação dos EUA como potência hegemônica em uma nova ordem mundial que já não contava com a URSS ou os países do bloco do chamado “socialismo real”. O avanço do neoliberalismo, sob o discurso da ‘globalização´ da economia promovia o fim de direitos e a redução de salários aos trabalhadores de todo o mundo, assim como a derrocada de fronteiras para os produtos e investimentos do imperialismo.

A entrada plena dos países do Leste ao mercado capitalista e a integração da China, como fornecedora de abundante mão-de-obra barata e destino de investimentos (assim como consumidora voraz de commodities de países como o Brasil) conferiam grande impulso ao crescimento econômico mundial, apesar de certas turbulências no meio do caminho. Ao final dos anos 1990 e início de 2000, porém, os limites desse crescimento já se tornavam evidentes. Uma crise de superprodução capitalista se expressava na formação, e estouro, da bolha financeira das empresas de tecnologia nos EUA (as empresas ‘pontocom´).

A estratégia do imperialismo para manter e ampliar seu domínio e crescimento, na forma de acordos de livre comércio como a Alca e o TLC, esbarrava no ascenso das lutas dos povos dos países semi-coloniais, como nos países centro-americanos e em toda a América Latina. Era necessário dar uma saída a essa crise, e a solução para isso ganhou contornos militares.

A saída militar
Para retomar as taxas de lucros anteriores, Bush apostou na elevação dos gastos públicos, o que ocorreu através do aumento dos gastos militares com defesa. Bush na verdade multiplicou um processo que já havia começado no governo democrata de Clinton. Curiosamente, o governo dos EUA incrementava seus gastos com defesa desde 1999, quando o elevou em mais de 5%.

O ataque do 11 de setembro serviu para conferir legitimidade ao governo Bush ampliar de forma exponencial os gastos militares por um lado, e por outro ampliar seu controle sobre o Oriente Médio, a fim de tomar conta diretamente de importantes reservas de petróleo da região. Longe de ser um aspecto secundário, os gastos com a indústria armamentista pelo governo dos EUA nas duas guerras possibilitou a abertura de um novo ciclo de crescimento, via injeção direta de recursos públicos.

O documentário ‘Iraque à Venda´ (Iraq for Sale), de Robert Greenwald, de 2006, dá uma mostra dos lucros conquistados pelas empresas norte-americanas durante a guerra do Iraque. Só a Halliburton, que teve como presidente o ex-vice-presidente Dick Cheney, lucrou 13,6 bilhões de dólares com a guerra. A empresa atua tanto na infra-estrutura na prospecção de petróleo como na logística para ações militares. A Parsons, empresa de engenharia, lucrou outros 5,3 bilhões.

No total, as duas guerras consumiram nada menos que 4 trilhões de dólares, segundo levantamento da Universidade Brown. Já os gastos com segurança interna representam outro 1 trilhão. O superávit que Bush encontrou quando assumiu a presidência em 2001 se transformou em um déficit de 9% do PIB ao final de 2010. Aos bilionários gastos militares se somaram os pacotes de ajuda financeira quando a nova crise explodiu.

Uma nova crise
O grande problema do imperialismo é que a saída militar de Bush não só conseguiu sustentar um período de crescimento prolongado, como acumulou as contradições de uma nova crise, muito mais profunda que a de 2001. Em setembro de 2008, a quebra do banco de investimentos Lehman Brothers foi o marco da crise mais grave que atingiu os EUA desde 1929.

Uma nova crise de superprodução explodia sob a forma de um crash financeiro e precipitava um novo período de turbulências no mundo. Se em 2001 o excesso de capital especulativo se concentrava nas empresas de tecnologia, após o estouro dessa bolha, esses capitais migraram para outro setor. Desta vez no mercado imobiliário e nos “complexos” instrumentos financeiros, como os chamados “derivativos”. Desta vez, uma massa de capital especulativa infinitamente superior à bolha da Nasdaq.

O imperialismo sofre então uma dupla derrota. Primeiro, a ofensiva militar de Bush, que pára na resistência afegã e iraquiana, o que influi na retomada da crise e na vitória de Obama. E a própria crise, que rapidamente desgasta o novo governo e cuja perspectiva aponta uma longa recessão.

Se na década passada as lutas dos povos latino-americanos frustraram a estratégia da imposição de uma zona de livre comércio do imperialismo, nos anos seguintes a resistência no Iraque e Afeganistão não permitiu que os EUA levasse a cabo sua estratégia para a região. Mais que isso, criou um enorme problema ao imperialismo e um agravante a mais num cenário de profunda recessão.

Sem poder aumentar os gastos públicos e com milhares de soldados atolados no Oriente Médio, os EUA apostam agora no corte do orçamento e no ataque aos trabalhadores a fim de restaurar a taxa de lucro, em estratégia seguida pelo conjunto dos países europeus, imersos numa grave crise fiscal e com alguns Estados à beira da falência. Agora, porém, temos a resistência armada no Oriente Médio, as revoluções árabes que sacodem o Norte da África e o conjunto das lutas na Europa contra os ataques dos governos.

As cenas das torres gêmeas e dos militares norte-americanos foram substituídas pela transmissão ao vivo dos rebeldes líbios tomando a capital Trípoli. Ou das mobilizações na Grécia e na Espanha.

Para que se abra um novo período de crescimento, o imperialismo vai ter que derrotar os trabalhadores e promover uma queima gigantesca de capitais que vai se traduzir na forma de desemprego e cortes de salários e direitos sem precedentes. Essa é a estratégia. O futuro, porém, vai mais uma vez ser definido no terreno da luta de classes.