A violência policial na ilha não tem mais limites. A brutalidade contra os lutadores que querem derrotar o abusivo aumento da passagem do ônibus cresce a cada diaHá três semanas, Florianópolis é palco de intensos protestos contra o aumento de 8,8% nas tarifas de ônibus. Nesta quinta-feira, dia 16, ocorreu mais uma das grandes manifestações e, a Polícia Militar, a mando do governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira (PMDB), intensificou a repressão aos manifestantes, numa verdadeira guerra armada contra os lutadores.

Pela manhã, houve uma audiência pública na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) para discutir os problemas do transporte coletivo na cidade. O secretário de Transportes, Norberto Stroisch, foi muito vaiado e obrigado a assistir a um vídeo mostrando as ações violentas da PM contra os protestos.

Às 14h, os manifestantes começaram a se concentrar em frente ao Terminal do Centro, de onde partiram em passeata até a prefeitura. Por volta das 19h, diversos manifestantes bloquearam as avenidas que dão acesso às pontes que ligam a ilha ao continente. De acordo com Gilmar Salgado, da direção do PSTU de Florianópolis, “mesmo sendo um ato pacífico, a tropa de choque partiu pra cima do protesto, com bombas de gás e balas de borracha”.

Gilmar ainda conta detalhes da brutalidade policial: “a repressão continuou quando os manifestantes novamente se concentraram no terminal. Lá novamente, as bombas de gás lacrimogênio e os tiros de borracha foram usados pela polícia, desta vez mirando também em direção da população que estava por lá”.

Quem estava no protesto revidou, atirando pedras na polícia. Após a dispersão forçada, vários manifestantes passaram pelas ruas do Centro quebrando as entradas de bancos, da prefeitura e da Secretaria de Finanças. Durante o confronto da polícia com o ato, ao menos oito pessoas foram presas e não se sabe o número de feridos. Após terminado o confronto, a população que presenciou as cenas de repressão vaiou a polícia.

Manobra para desmobilizar
Nesta semana, a prefeitura resolveu fazer um recuo e apresentou uma nova proposta, amenizando o aumento. O projeto encaminhado pelo prefeito à Câmara no dia 15 de junho sugere a revogação do aumento apenas das tarifas acima de R$ 2. A ação teria validade por três meses, com mais três prorrogáveis, e seria subsidiada pelo Orçamento municipal, mantendo o lucro dos empresários do transporte. A Câmara ainda vai analisar e votar o projeto.

A proposta do prefeito não conta com o apoio do movimento pela redução das passagens. Contra a vontade dos estudantes e trabalhadores mobilizados, a UCE (União Catarinense dos Estudantes), a UBES e a UNE estão apoiando o projeto. A medida mantém o aumento em uma parte das tarifas e garante os lucros das empresas através de subsídio público. Além disso, é uma ação temporária, uma manobra para desmobilizar a população. O recuo da prefeitura apenas serviu para mostrar a força da luta radicalizada e que esta pode pressionar os governantes e trazer uma vitória real.

Além de iniciar a análise sobre a proposta do prefeito, a Câmara encaminhou no dia 15 uma CPI para investigar nos próximos três meses as finanças das empresas de transportes de Florianópolis.

Mais luta na semana que vem
O movimento contra o aumento da passagem em Florianópolis deve continuar. Novas manifestações estão sendo prometidas para a próxima semana e a proposta da prefeitura não atendeu as reivindicações do movimento. A luta não deve parar até que se conquiste uma vitória real e os manifestantes não esmorecem diante da repressão brutal cotidiana que tomou conta da cidade. A Conlutas e a Conlute também estão à frente de todas essas lutas.

A mobilização de Florianópolis está mostrando o caminho, com radicalidade e unificando os trabalhadores e a juventude. Já existem reflexos dessa luta em todo o país, com levantes semelhantes em outras cidades do estado, como Criciúma (SC) e Blumenau (SC), ou país afora, como em Uberlândia (MG).