Dinheiro do leilão de Libra não será destinado a investimento em saúde, educação ou transporte de qualidade, mas ao pagamento da dívida pública

No centro do Rio de Janeiro (RJ), em frente ao Edifício-sede da Petrobras, integrantes de movimentos sociais e sindicatos petroleiros acampam há algumas dezenas de dias para protestar contra o leilão de Libra. Em Aracaju, capital de Sergipe, dirigentes do Sindipetro AL/SE discutem com os operários em cada local de trabalho, através de comitês de base, a necessidade de lutar contra a entrega do petróleo brasileiro. Em Santos (SP), um dos berços do pré-sal, outdoors espalhados nas ruas e avenidas da cidade exigem: “Dilma, cancele o leilão de Libra!”.

É neste cenário, marcado por manifestações e agitações que pipocam em vários cantos do país, que movimentos sociais e trabalhadores petroleiros começam a intensificar as ações contra o leilão de Libra, agendado para 21 de outubro. Comitês em defesa do petróleo, que reúnem entidades sindicais, estudantis e movimentos populares, foram reativados em diversos estados para garantir que a campanha ganhe ainda mais visibilidade com a incorporação de novos ativistas e organizações nesta batalha.

Neste sentido, um apoio de peso para se aproximar deste objetivo foi consolidado nos últimos dias 28 e 29 de setembro, durante a reunião da Coordenação Nacional da CSP-Conlutas: as entidades presentes definiram a luta contra a privatização do petróleo como centro de atuação da entidade para o próximo período.

Em meio a tantas movimentações, um primeiro objetivo do governo Dilma e da direção da Petrobras já sofreu um revés: marcada para ser uma grande festa em todas as unidades da companhia, a celebração dos 60 anos da Petrobras, em 3 de outubro, passou a ser encarada pelos trabalhadores petroleiros como uma afronta da empresa, diante de tantos ataques que a categoria vem sofrendo.

Para se ter uma ideia, em 60 anos de Petrobras o país acumulou aproximadamente 15 bilhões de barris de petróleo. Só no Campo de Libra a estimativa é de que existam 12 bilhões de barris de petróleo, que convertidos significam R$ 3 trilhões. O governo irá vender por R$ 15 bilhões.

Esta simples comparação é suficiente para ilustrar o tamanho do crime cometido pelo governo do PT e, por consequência, o tamanho da insatisfação dos trabalhadores petroleiros, que ainda sofrem com condições inseguras de trabalho, assédio moral e uma desvalorização salarial expressada em um número absurdo: 17 anos de aumento real zero no salário base.

Dessa forma, atos e paralisações foram aprovados para o aniversário da companhia em diversas assembleias, enterrando as pretensões do governo de transformar o 3 de outubro em um dia de festa.

O que Dilma não diz
A política econômica petista segue à risca a gestão tucana durante os anos neoliberais de FHC. Já foram privatizados os portos, os aeroportos, as ferrovias e as rodovias brasileiras. A “chave de ouro” do governo PT é, justamente, o leilão do pré-sal. Se durante a campanha eleitoral a presidenta Dilma considerava a entrega do petróleo brasileiro às multinacionais um crime, hoje a opinião é diferente e para justificar esse giro afirma que “estes leilões vão injetar bilhões e bilhões na economia, gerando centenas de milhares de empregos”.

Em seu discurso de 7 de setembro, em cadeia nacional de televisão, chegou a afirmar que o leilão de Libra irá “estimular toda cadeia produtiva e gerar milhares e milhares de empregos” e que “os royalties das áreas já em exploração e daquelas descobertas neste e em outros campos, vão gerar recursos gigantescos para a educação”.

Infelizmente, a presidenta Dilma não falou a verdade para todos os brasileiros que assistiam ao seu pronunciamento na tevê. Em primeiro lugar, o leilão de Libra não será destinado a investimento em saúde, educação ou transporte de qualidade. Os R$ 15 bilhões previstos à União como bônus pela entrega do petróleo serão revertidos pelo governo diretamente para o pagamento da dívida pública do país, que nada mais é do que a injeção de ainda mais dinheiro aos bancos e especuladores financeiros internacionais. Dívida, aliás, que já foi paga dezenas de vezes e que nunca passou por uma auditoria.

O mesmo acontece com os demais leilões realizados. O governo usará todo este recurso para “ajustar as contas”. Fernando Pimentel, Ministro do Desenvolvimento de Dilma, deu uma declaração – durante evento em Nova York para investidores – que é sintomática. “O governo colocou em oferta pública o maior pacote de concessões na história do Brasil. Nem no tempo do Império, da Colônia, houve uma oferta tão grande. Então o objetivo nosso aqui é mostrar isso ao investidor americano, às grandes empresas, aos grandes bancos e fundos”, explicou o ministro.

Outra mentira é afirmar que os royalties farão uma revolução na educação do país. Pelo contrário. Os royalties gerados pela exploração dos atuais poços de petróleo gerarão no máximo 0,6% do PIB em… 2022! Ou seja, mais uma vez o governo usa os royalties, um recurso ínfimo do petróleo, como cortina de fumaça para a principal discussão que deve ser levada a cabo pela sociedade: a entrega do petróleo brasileiro através dos leilões.

17 de outubro, greve nacional e unificada!
Até o dia 21 de outubro, data marcada pelo governo Dilma para realizar o maior leilão da história do país, estão agendadas diversas atividades. Entretanto, uma delas se destaca e deve ser o eixo das próximas ações contra o leilão de Libra: no dia 17 de outubro está colocada a possibilidade de uma greve nacional e unificada da categoria petroleira que, neste momento, também está em campanha salarial. Ainda no dia 17 estão previstas marchas nas principais capitais do país com a presença de diversas entidades estudantis, sindicatos e movimentos populares. A CSP-Conlutas e a ANEL certamente estarão presentes, fortalecendo a luta contra o leilão de Libra e por uma Petrobras 100% Estatal, com o resgate do monopólio estatal do petróleo.