Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Na última sexta feira, dia 6 de julho, foi divulgado pelo O Globo um vídeo em que Crivella promete vantagens para seus aliados, em uma reunião secreta com cerca de 250 pessoas. O Prefeito oferece desde facilidade para isenção de IPTU aos pastores até cirurgias de catarata e varizes para seus fiéis, que teriam acesso aos serviços sem ter que passar por uma fila que chega a 15 mil pacientes. Uma nítida e incontestável prova daquilo que sabemos que fazem os políticos que estão no poder: governam com interesses próprios e de forma corrupta.

Marcelo Crivella (PRB) foi eleito prefeito do Rio de Janeiro prometendo cuidar das pessoas. Mas menos de dois anos à frente da Prefeitura já foi suficiente para mostrar que as únicas pessoas de que ele cuida são os empresários e seus aliados. Atacou a previdência dos servidores, aumentou a passagem dos ônibus em aliança com a conhecida máfia dos transportes carioca e não para de precarizar e privatizar a educação e a saúde públicas. Tais ataques não são feitos sem resistência dos trabalhadores, que vem protagonizando greves e manifestações. Especialmente o setor da saúde vem se mobilizando, dando um exemplo de unidade entre diversas categorias profissionais e com os usuários do SUS.

O último escândalo causou uma justa indignação e revolta por parte dos trabalhadores e instalou uma forte crise política no governo de Crivella. Na próxima quinta feira, dia 12, haverá uma sessão na Câmara de Vereadores para discutir o fato e a possibilidade de impeachment do prefeito.

Confiar apenas na mobilização para botar o Crivella para fora já!
A crise política do governo municipal se explica em primeiro lugar pela luta dos trabalhadores que não vem aceitando todos os seus ataques. Mas também é fruto de uma disputa de interesses entre os próprios poderosos. Não é de hoje, por exemplo, que as organizações Globo fazem oposição a Crivella. Também não é à toa que o ofício que garantiu o fim do recesso parlamentar para que pudesse ser apreciado o caso e discutida a possibilidade do impeachment tenha sido assinado por vereadores de diversos partidos notadamente corruptos e inimigos dos trabalhadores, como o MDB e o PSDB. Ou seja, os políticos poderosos e a burguesia estão brigando entre si.

O papel dos trabalhadores é se aproveitar da briga entre eles para impor as nossas vontades e necessidades, aproveitando que os de cima não estão se entendendo para unificar os debaixo contra todos eles. Isso não pode significar confiar em nenhum poderoso e nem nas suas instituições. Portanto, a luta contra o Crivella não pode estar focada em garantir o impeachment a partir de uma disputa parlamentar e sim em fomentar e organizar a luta dos trabalhadores para que coloquemos ele para fora do governo já.

Em primeiro lugar, porque a Câmara dos Vereadores não pode ser digna de um pingo de nossa confiança, assim como nenhuma outra instituição da suposta democracia, pois são por esses espaços que são legitimados os ataques que sofremos a cada dia. Também não devemos aguardar pacientemente o calendário e os trâmites parlamentares, que coloca por meses o governo nas mãos de Jorge Felippe do MDB. A tarefa de derrubar o Crivella é para agora.

Nesse sentido, discordamos da nota da bancada parlamentar do PT na Câmara, que afirma que problemas como a “falência crescente dos serviços públicos” e a “condução imperial da gestão Crivella”, “nada disso está em questão”. Fala ainda da necessidade de uma investigação responsável e “desapaixonada” contra as “suspeitas” e “indícios” de improbidade e do fortalecimento do Estado Democrático de Direito. Em nossa opinião, a gravação do Crivella não se configura como uma “suspeita”. É uma prova inconteste de como o governo está a serviço dos poderosos e do favorecimento pessoal de políticos e pessoas ligadas ao prefeito. E está intimamente ligada aos demais problemas da prefeitura, como o desmantelamento dos serviços públicos, que o PT afirma “não estar em questão”. Além disso, clamar pelo fortalecimento do Estado Democrático de Direito é querer jogar mais ilusão em um sistema que de democrático não tem nada.

Também criticamos a postura do PSOL, que aposta todas as suas fichas na saída institucional da crise da prefeitura. Como se só o impeachment resolvesse os tão sentidos problemas dos trabalhadores cariocas. Mesmo novas eleições, em nossa opinião, não resolvem, já que as eleições são todas marcadas por profundo controle do poder econômico e fortalecem o já conhecidamente corrompido sistema.

Somente uma forte mobilização dos trabalhadores poderá garantir isso. E somente uma rebelião dos debaixo garantirá um novo governo, que coloque os interesses dos trabalhadores acima dos da burguesia, a partir do rompimento com a Lei de Responsabilidade Fiscal (que na prática transfere dinheiro do serviço público para os cofres dos grandes bancos) e do fim das isenções fiscais para os mega empresários. Um novo governo, em que os trabalhadores poderão ter acesso a uma saúde e educação públicas de qualidade. Em que garantamos um estado laico, em que as religiões são respeitadas, mas em que as políticas públicas não sejam influenciadas por ideologias religiosas. E que seja gerido pelos próprios trabalhadores, sem corrupção e sem privilégios.