Redação

Lançado mundialmente em março deste ano, o novo álbum do Pearl Jam já faz parte da história do rock moderno. Afinal, é muito raro ver tamanha vitalidade e força criativa numa banda perto de completar duas décadas de estrada, especialmente em tempos de “celebridades“ instantâneas e descartáveis como os que vivemos.

Intitulado simplesmente de “Pearl Jam“ (segundo o vocalista Eddie Vedder, o álbum já tinha informação demais para ainda precisar de um título), esse novo trabalho combina duas forças incríveis: a inconfundível e potente voz de Vedder e o excelente trabalho de arranjos em todas as músicas. Fica a sensação, sempre positiva e presente, de que nada foi colocado nas músicas sem muito trabalho, dedicação, num processo criativo por excelência, de maturação de boas idéias em grandes concretizações.

Fruto do movimento grunge de Seattle do início da década de 90, que deu ao mundo grandes bandas como Nirvana, Soundgarden, Alice in Chains e Mudhoney, o Pearl Jam continua com as melodias e baladas que sempre fizeram dela a banda menos grunge do movimento grunge, ou como diz o vocalista do Mudhoney: “Pelo menos eu sei que desse grupo (de bandas pertencentes ao grunge) o Eddie Vedder não gosta de ser colocado ao nosso lado“.

Entre as músicas de trabalho do álbum, para usar um jargão da vampiresca indústria fonográfica, a vibrante “World Wide Suicide“ ainda resultou em um ótimo vídeo-clipe. Na esteira de outros clipes igualmente memoráveis da banda, como o apocalíptico “Do the Evolution“, “World Wide Suicide“ é uma bomba no pensamento confortável tipicamente pequeno burguês. Enquanto no primeiro clipe vemos a linha do tempo da exploração do homem pelo homem, saindo das cavernas até chegar ao capitalismo selvagem e dos homens que ainda compram ações no dia da quebra da Bolsa (buying stocks on the day of the crash), o segundo mostra a “inofensiva“ brincadeira de um garoto como uma esfera azulada. Acontece que no final do clipe fica claro que a esfera tão indefesa e manejável é a própria Terra, nosso pequeno e finito planeta azul.

Críticas à Bush
É verdade que os fãs do Pearl Jam já se acostumaram com essa qualidade em todos os trabalhos da banda até aqui. A novidade é a consolidação do pesado tom político, anti-guerra, chegando mesmo a ser ácido. O penúltimo trabalho da banda (Riot Act) já trazia os germes desse processo. Músicas contundentes tais como Bushleaguer e Greendisease davam o tom das críticas ao seu alvo predileto, George W. Bush e sua camarilha. “Ele não é um líder, ele é um líder do Texas” (He´s not a leader, he´s a Texas leader) é dito sobre Bush filho, representante de um estado norte-americano não conhecido exatamente por ser a vanguarda do pensamento livre e revolucionário.

Até aqui, no entanto, a crítica ainda era específica, pessoal mesmo. As causas e verdadeiros interesses por trás desses facínoras ficavam eclipsados, como se eles não estivessem sempre ali, sempre sedentos. Sobre esse “eclipse” da figura do Poder, é impossível não relacionar e personificar o infalível personagem (?) de Fausto Wolff – Nataniel Jebão – e sua criatura – O COISO, senhor de todas as decisões, anônimo e onipresente.

Nesse sentido, Pearl Jam – o álbum 2006 é um avanço significativo. Basta ler a letra “World Wide Suicide“ (algo como Suicídio em Escala Global), com frases como: “é uma vergonha acordar num Mundo de sofrimento“ (it`s a shame to wake in a world of pain) e “assinando cheques que os outros vão pagar“ (writing checks that others pay), numa clara alusão aos “governantes“ e ao “povo“) para saber que a força exploradores X explorados, típica de bandas como Rage Against The Machine (infelizmente já desfeita) e System of a Down, está aí ao nosso alcance para ser sentida e, porque não, levada para a prática.

À parte todo o “ativismo“ da banda; Vedder faz parte, por exemplo, de uma associação chamada Earth First (algo como A Terra em primeiro lugar); o Pearl Jam permanece como uma das mais importantes bandas do cenário contemporâneo graças à sua qualidade, criatividade e, agora, por sua interessante visão sócio-política. Esse seu novo lado só reforça sua já excelente posição, que, esperamos, ainda dure muito tempo. A nova turnê da banda, que inclusive já passou pelo Brasil, continua a todo vapor, com shows previstos até o final de 2006. A boa música agradece.