Erlon Couto e Luís Mendonça, de Volta Redonda (RJ)

No dia 7 de novembro de 1988, tinha início uma das mais poderosas greves operárias do Brasil, mobilizando mais de 30 mil metalúrgicos e uma cidade inteira.

Volta Redonda vivenciava constantes agitações políticas, reflexo de um período de aprofundamento da crise econômica no Brasil. Estagnação, inflação galopante e arrochos salariais faziam com que ganhos conquistados pelas lutas salariais fossem sistematicamente corroídos pela inflação, que apresentava índices de 100% ao mês. Para os metalúrgicos só restava o caminho da luta e a ocupação da CSN pelos operários.

Invasão da Usina Presidente Vargas e Massacre
A direção da Companhia optou pelo conflito. No dia 9 de novembro, tropas do Exército invadiram a empresa. Três jovens operários foram assassinados a tiros (Carlos Augusto Barroso, 19 anos; Valmir Freitas Monteiro, 22 anos; e William Fernandes Leite, 23 anos). Outras 31 pessoas acabaram feridas. A tragédia ficou conhecida como o “massacre de Volta Redonda”. O Exército invadiu as instalações da CSN em manobra de guerra e espalhando o terror inclusive nos bairros e no centro da cidade.

Memorial 9 de Novembro: símbolo de luta e resistência
Mesmo após os assassinatos e várias prisões, a greve continuou até o dia 23 de novembro. Na época, os trabalhadores conquistaram todas as suas reivindicações, que hoje estão ameaçadas e sendo negociadas e vendidas pela Força Sindical, sendo a principal delas o turno de 6 horas.

No dia 1º de maio de 1989, foi inaugurado o Memorial 9 de Novembro que, horas depois, foi explodido por uma potente bomba. O memorial foi colocado de pé novamente e até hoje carrega as marcas da violenta explosão que não apagou seu símbolo de luta, resistência e vitória dos metalúrgicos da CSN.

CSN ressuscita turno de 8h sob a vigência das mudanças na CLT
Sob os anúncios da reforma trabalhista, já em vigor, a direção da CSN ameaça implementar o turno de oito horas, o que implicaria eliminar uma “letra” (grupo de trabalhadores que trabalham no mesmo turno) que se tornaria desnecessária e provocaria a demissão de aproximadamente 1200 trabalhadores.

Desde que o turno de seis horas foi implantado a direção da CSN, com a conivência dos lacaios da Força Sindical, vem manipulando ano a ano o retorno do turno de 8 horas e a possibilidade de uma escala de trabalho de até 12 horas.

Em 2000, a direção do Sindicato dos Metalúrgicos, comandado pela Força Sindical, assinou em 17 de abril o acordo pela volta do turno de oito de horas por dois anos, sendo prorrogável por mais tempo. No mesmo ano, o turno foi reimplantado na gestão de Carlos Henrique Perrut provocando a demissão de 900 trabalhadores.

Comitê em defesa do turno de seis horas
A reação dos movimentos sociais de Volta Redonda contra mais uma tentativa da direção da CSN de implementar o turno de oito horas gerou protestos e atos de repúdio. Cerca de 1500 pessoas, participaram na tarde do dia 16 de outubro da “Marcha pelo Emprego e pela Vida: salvemos o turno das 6 horas”.  O movimento percorreu as ruas do centro de Volta Redonda, contrariando os verdadeiros interesses da direção pelega do Sindicato dos Metalúrgicos, filiado à Força Sindical, que provocou duas famigeradas votações que foram repudiadas pelos operários.

Salários baixos e exército de reserva da juventude operária
Nestes últimos 10 anos, os salários dos metalúrgicos da CSN continuaram sendo um dos menores do país. Na região paulista do ABCD, de acordo com o DIEESE, a média salarial dos metalúrgicos excluindo cargos de liderança, é de R$ 3.242,83 enquanto a média nacional é de R$ 1.809,91. O piso salarial do metalúrgico da CSN é de R$ 1.125!

Algumas empreiteiras pagam salários acima da CSN, o que há muitos anos deixou de ser o principal atrativo profissional para as novas gerações de Volta Redonda e da região, e mesmo os jovens que são admitidos na empresa, permanecem tempo suficiente para se especializarem em outras áreas profissionais e saírem da UPV (Usina Presidente Vargas), mantendo uma rotatividade profissional muito grande dessa parcela da juventude, que cada vez mais torna-se alienada e distantes das lutas sindicais.

Aproximadamente são formados por ano em Volta Redonda e nas cidades vizinhas uma média de 1.500 jovens através de cinco ou mais escolas técnicas, como O IFRJ (Instituto Federal de Educação do Rio de Janeiro), FAETEC (Fundação de Apoio a Escola Técnica), CEFET (Centro Federal de Educação Tecnológica), ETPC (Escola Técnica Pandiá Calógeras), ICT (Instituto de Cultura Técnica), SENAI, e outros que fornecem mão de obra qualificada para a CSN.

Lucro da CSN só aumenta
Já o EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado para o terceiro trimestre somou R$ 1,213 bilhão, ante R$ 896 milhões no segundo trimestre e R$ 1,333 bilhão no primeiro trimestre deste ano.

Escritório Central : o elefante branco do abandono
O edifício, que foi construído na década de 1960 tem 37 mil metros quadrados divididos em 16 andares e está completamente vazio! O Escritório Central da CSN representou por décadas o centro administrativo da CSN e perdeu importância para a direção da empresa, que mudou sua administração para a capital paulista. Para a cidade a direção da CSN mantém um elefante branco vazio, deteriorado pelo tempo.

Da vitória do chão de fábrica ao peleguismo tradicional
O Sindicato dos Metalúrgicos de Volta Redonda e região é simbólico para a Força Sindical, pois foi sua primeira grande conquista realizada em outubro de 1992. Em meio ao impeachment do Presidente da República Fernando Collor de Melo, as eleições contaram com duas chapas: uma, ligada à CUT, defendia não só manifestações anti-Collor, como também passeatas contra o processo de privatização da então estatal, enquanto a outra chapa, ligada à Força, era favorável à privatização. A Força Sindical foi vitoriosa e a CSN foi privatizada em 1993.

A reviravolta ocorrida em 2007 quando os operários repudiaram as chapas pelegas da CUT e da Força Sindical foi se degenerando nos últimos 10 anos quando a direção se afastou das bases operárias e, entre negociatas, disputas de poder e rachas políticos, o grupo majoritário reata relações com a Força Sindical.