Vitória - Presidente Michel Temer durante cerimônia de inauração do novo aeroporto de Vitória-ES (Alan Santos/PR)

A crise política em que está metido o governo Temer ganhou novos e talvez decisivos capítulos na manhã deste dia 29 de março, quando as figuras mais próximas e comprometedoras do presidente foram presas provisoriamente pela Polícia Federal.

Quase seis meses após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, ter autorizado a abertura de inquérito para investigar crimes como lavagem de dinheiro e corrupção no caso do decreto dos Portos baixado por Temer em maio passado, o presidente já enfrentou a quebra do sigilo bancário e agora tem a prisão de gente que pode deixá-lo ainda mais enrolado.

Foram presos o amigo de Temer, o empresário José Yunes, o coronel da reserva da PM João Batista Lima, uma espécie de faz-tudo do presidente e o ex-ministro da Agricultura dos governos Lula e Dilma, Wagner Rossi, pai do atual líder do MDB na Câmara, Baleia Rossi. O dono da Rodrimar, Antônio Celso Grecco, e a empresária  Celina Borges Torrealba Carpi, do grupo Libra, que atuam no Porto de Santos, também estão entre os 13 presos desta manhã.

Portos
A investigação que culminou nas prisões desta quinta-feira foi pedida pelo então Procurador Geral da República (PGR), Rodrigo Janot, no ano passado e tem como alvo, além de Temer, Rodrigo Rocha Loures, o famoso homem da mala. É um desdobramento das investigações realizadas no caso da JBS, e trata sobre o pagamento de propinas e fraudes em licitação envolvendo o Porto de Santos. Nesse caso específico, um decreto que ampliava as concessões para operar no porto para 35 anos, prorrogáveis por até 70.

Esse esquema de pagamento de propina em troca de benefícios no porto funcionaria há pelo menos 20 anos. Mas as investigações também analisam corrupção no setor de energia. A empresa do faz-tudo de Temer, o coronel Lima, a Argeplan, teria recebido nada menos que R$ 160 milhões num único contrato com a Eletronuclear. Lima é um ajudante pessoal de Temer há 30 anos e certamente tem muito o que falar.

Polícia Federal prende José Yunes

Crise e mais crise
As prisões realizadas na manhã desta quinta-feira aprofundam a crise política e, ao que tudo indica, pode embasar uma nova denúncia da PGR contra Temer, a terceira em seu mandato. As duas primeiras foram derrotadas no plenário da Câmara em troca de cargos, favores e, sobretudo, muito dinheiro. Agora, com os cofres mais vazios e a popularidade abaixo do volume morto, em pleno período eleitoral, Temer pode não ter mais a mesma sorte. Se aprovar a reforma da Previdência já não foi possível, menos ainda seria salvar novamente o seu mandato.

Este novo capítulo da crise se reflete também na unidade da burguesia. Se a tarefa de encontrar uma candidatura que unificasse o andar de cima já se mostrava difícil, com uma enorme fragmentação, agora a própria permanência deste governo vai se recolocando em xeque.

O tal do “pacto nacional” defendido por Romero Jucá (MDB-RR), “com o STF e com tudo”, que parasse a crise política, pelo jeito, não deu tão certo, apesar das sucessivas tentativas do governo, do Congresso Nacional e da própria Justiça.

Esse país precisa de uma rebelião!
Enquanto setores da esquerda empreendem uma campanha contra o julgamento e a prisão de Lula, e se lançam como um puxadinho da campanha eleitoral petista disfarçada de “defesa da democracia”, vão aparecendo esquemas de corrupção que perpassam diferentes governos, do PSDB ao PT até o atual MDB, e que se cruzam e relacionam. As instituições se desmoralizam cada vez mais, e com ela, seus partidos.

O aprofundamento da crise interburguesa em cima, e a guerra social contra os trabalhadores e o povo pobre, cujo sintoma mais dramático se expressa hoje na intervenção militar no Rio de Janeiro, mostra que a saída para a crise, para os debaixo, passa por uma rebelião que derrube por completo esse governo e esse sistema, endemicamente corrupto. Esse país precisa de uma revolução.