No dia 2 de julho, a revista Veja publicou informações sobre as relações financeiras entre o publicitário Marcos Valério e o PT que abalaram as estruturas do governo e do PT. Segundo a revista, que recebeu as informações do Banco Central, o publicitário negociou e avalizou um empréstimo de R$ 2,4 milhões para o PT no banco BMG, em Belo Horizonte. Um das agências de publicidade de Marcos Valério, a SMPB, ainda pagou uma das prestações para o partido, no valor de R$ 349.927,53.

O problema é que tudo indica que esse dinheiro que financia os empréstimos petistas pode ter vindo dos cofres públicos. Isso porque as empresas de publicidade das quais Marcos Valério é sócio possuem contratos publicitários com o governo e com empresas estatais. As agências de publicidade de Valério detêm cinco importantes contas no governo federal: Banco do Brasil, Eletronorte, Correios e ministérios do Trabalho e do Esporte. A imagem da Câmara dos Deputados também está sob a responsabilidade do empresário. Além disso, há indícios de que tais contratos tinham valores superfaturados, originando o caixa-dois.

Segundo a documentação apresentada pela “Veja“, três pessoas assinaram o contrato de empréstimo ao PT: Delúbio Soares, tesoureiro do PT, José Genoino, presidente do PT, e Marcos Valério. O publicitário aparece como “avalista e devedor solidário“. Até então, o publicitário afirmava que sua ligação com o PT se resumia à amizade com o tesoureiro Delúbio Soares e à participação de duas agências das quais é sócio em campanhas do PT.

As denúncias também mostram que Marcos Valério participou diretamente das negociações com o BMG para a liberação do empréstimo, pois Delúbio estava com dificuldades para conseguir a liberação do dinheiro. Valério, então, teria negociado com o banco a realização de uma reunião de executivos do BMG com o então ministro José Dirceu.

Quando essas informações chegaram às bancas de jornais, no sábado, dia 2, o presidente do PT, José Genoino, apressou-se em culpar Delúbio pelo empréstimo. Anteriormente, Genoino havia negado que Marcos Valério fosse o avalista do financiamento. Depois da publicação dessas informações, Genoino disse que recebeu “uma informação equivocada da Secretaria de Finanças“ e que assinou o contrato “sem ler”, confiando no tesoureiro.

De onde vem o caixa-dois
O jornal Folha de S. Paulo divulgou que as duas principais agências de publicidade das quais Marcos Valério é sócio, a DNA Propaganda e a SMPB Comunicação, registraram entradas superiores a R$ 500 milhões em suas contas no ano passado. Especialistas do meio publicitário calculam que essa entrada de recursos é três vezes superior ao que poderia ser justificado com a atividade de publicidade em 2004.

Além disso, dados da própria Receita Federal atestam o superfaturamento que geraria o caixa-dois petista. Em novembro de 2004, a Receita multou a DNA em R$ 63,25 milhões por crimes contra a ordem tributária, entre eles depósitos milionários de origem não comprovada nas contas da empresa.

Soma-se a isso o fato de que já foi confirmado que saques milionários em dinheiro eram feitos da conta do publicitário nas mesmas datas e valores denunciados por Jefferson como sendo o esquema de pagamento de propina aos deputados. Aos poucos, todas as peças vão se encaixando nesse quebra-cabeça lamacento.

Na corda bamba
Diante das novas denúncias, os partidos da direita reivindicaram a alteração da agenda da CPI mista dos Correios para convocar, o mais rápido possível, o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e o presidente do partido, José Genoino.

Também já se fala na realização de uma acareação entre o deputado José Dirceu (PT-SP) e Roberto Jefferson. O presidente da CPI, Delcídio Amaral (PT-MS), disse que antes de qualquer acareação, tem que haver o depoimento individual dos envolvidos.

Mas não foi só na agenda da CPI que as novas denúncias influenciaram. Segundo publicado pela Folha de S. Paulo, o presidente Lula reivindicou que José Genoíno, Delúbio Soares e Silvio Pereira fossem afastados da direção do PT, para evitar mais danos às imagens do governo e do partido. A princípio, foi divulgado que José Genoíno teria acordo com essa proposta, mas, no dia 3, em entrevista ao “Fantástico“, Genoino disse que não pretendia renunciar. Delúbio e Silvio Pereira disseram que concordavam com a renúncia, desde que fosse de toda a Executiva, para que suas saídas não parecessem confissão.

Entretanto, apesar das resistências, as cabeças já começaram a rolar. Na tarde de 4 de julho, foi anunciado o afastamento de Silvio Pereira da Secretaria Geral do PT. Ele apresentou uma carta, se afastando da executiva do partido enquanto durar a CPI. Nesta terça, dia 5, a Executiva do PT se reúne em São Paulo, e é provável que haja novas mudanças.

Fonte inesgotável
O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) afirmou em entrevista na rede Bandeirantes, que tem novas denúncias contra o ex-ministro José Dirceu (PT-SP). Jefferson disse que vai guardá-las para uma possível acareação entre os dois. “Eu vou encontrar Dirceu na acareação. Tem coisas que eu guardei para ele e o país vai escutar. Vou dizer na cara dele“, disse. Pelo jeito, muita lama ainda vai rolar embaixo dessa ponte…