?A reorganização do movimiento operário necessita avançar para a construção de uma alternativa à burocracia?A chegada a Madrid da Marcha mineira combinada com o “resgate” de julho e o duríssimo pacote de guerra social do governo Rajoy e da troika, produziu uma mudança na correlação de forças. Cresce no movimento de massas a exigência de que saia Rajoy e abre-se uma situação revolucionária inicial, na qual nem todos os elementos estão desenvolvidos, mas cuja dinâmica vai em direção à explosão social.
A greve mineira e sua recepção de massas em Madrid foi seguida depois do resgate de julho de uma sucessão de manifestações espontâneas contra o novo pacote do governo, que entre outras medidas acabou com a “paga de navidad”, ou seja, o 14º salário de todo funcionalismo, e subiu o imposto sobre consumo de toda população. Estas manifestações levaram a sucessivos enfrentamentos com a polícia e começaram a produzir divisões nos aparatos repressivos, além de contar com a presença de policiais na luta contra os cortes.

Dia 19 de julho foi um dia de manifestações em todo o Estado: mais de 500 mil em Madrid, 400 mil em Barcelona e mais de 10% da população nas demais cidades importantes do país.

A Luta mineira iluminou o caminho da luta
Os mineiros entraram em pé de guerra e com eles os povos das comarcas mineiras que se vêm na eminência da destruição e da miséria.
Os métodos de luta da classe operária, a greve, e também as ações radicalizadas dos mineiros se converteram em exemplo e referência. A greve, as ações radicalizadas e a Marcha, transformaram-se num conflito político e os mineiros ganharam a simpatía e o apoio de todo o povo.

É por isso que, na noite do dia 10 de julho, uma multidão foi às ruas receber os mineiros sob os gritos: “Madrid obrero, apoya a los mineros” (Madrid operária apoia os mineiros).

É evidencia, também, dessa nova situação, que a manifestação convocada pela plataforma “Hay Que Pararle los Pies” (HQPLP), ou seja, pelo sindicalismo alternativo, reuniu 25 mil pessoas e permitiu que fosse possível ouvir os minieros e não somente a burocracia sindical, dando um importante passo na construção de uma alternativa classista, democrática e de luta à burocracia.

A caminho do resgate
A decadência do imperialismo espanhol é um processo fortemente acelerado pela crise econômica que afeta seu coração, o capital financeiro, e sua inserção na cadeia imperialista europeia e mundial. Este processo marcha junto com o desemprego galopante (25%) e a deterioração generalizada das condições de vida e trabalho.
Este processo caminha para um salto. O resgate bancário de julho e a intervenção da Troika colocou o Estado espanhol numa espiral a grega, acentuando a recessão e colocando o país à beira da quebra. O ataque especulativo não cessou. Os bancos alemães e a Troika pressionam por um “resgate total”, ou seja, por um pacote ainda mais draconiano, que rebaixe salários, pensões, empobreça mais o país e acabe com sua soberania.

O dilema colocado é se o Estado espanhol continuará (mesmo debilitado) “o mais pobre dentre os ricos” ou se se converterá no “ rico dos pobres”, ou seja, se continuará sendo um país imperialista europeu de terceira ordem ou se, como a Grécia, se transformará numa semicolônia.

Em setembro as lutas tendem a recrudescer
Nenhum governo, nas últimas três décadas, sofreu uma Greve Geral antes de seis anos. O governo Rajoy sofreu uma logo aos três meses.

Esta resistência está na base das dificuldades do governo e da União Europeia, da “desconfiança dos mercados”, como da aceleração da crise do governo e do regime. É um movimento poderoso que, entretanto, por sua dispersão e falta de direção, carece ainda de força suficiente para quebrar os planos do governo e da troika. Superar essa debilidade é uma das necesidades mais urgentes e exige forjar a construção de uma alternativa à burocracia sindical, que sofre a maior crise de todos os tempos, mas ainda segue viva.

Depois da Marcha mineira, das manifestações espontâneas contra o pacote, da participação de setores da polícia nas manifestações e das mega manifestações do dia 19 de julho, colocou-se na ordem do dia a necessidade de uma greve geral.
Algo que estará ainda mais presente em setembro. Como se não bastasse o pacote atual, que precisa ser derrotado, o país caminha para um novo “resgate” com ataques ainda maiores aos trabalhadores.

A burocracia, caminha na direção oposta. Se nega a chamar a Greve Geral para setembro, tirou os mineiros da greve, ao mesmo tempo em que propõe um referendo sobre o pacote do governo, quando todo mundo sabe que 90% é contra o ajuste.
É possível que a burocracia se veja forçada a convocar uma greve geral, mas ela a posterga, mesmo sabendo da iminência de outro pacote. A burocracia tenta colocar-se em oposição aos ajustes, ao mesmo tempo em que buscam ser interlocutores de Merkel, Holande e até do Rei Juan Carlos. A burocracia e também Esquerda Unida fazem uma oposição eleitoral e gostariam de ajustes pactuados.

No dia 8 de setembro vai acontecer, em Barcelona, a reunião estatal do Sindicalismo Alternativo. A Central do país Basco está convocando greve geral para 26 de setembro. Este pode ser um dia assumido como dia de luta por todo sindicalismo alternativo e pelos movimentos sociais, inclusive com paralisação onde for possível. Além de acertar um calendário de lutas, o desafio será forjar aí uma Frente Única que defenda um programa mínimo alternativo ao da burocracia, que possa puxar mobilizações, sem deixar de fazer unidade de ação com CC.OO e UGT [as principais centrais sindicais do país] quando possível e necessário.

Neste sentido, a Corriente Roja, defende e apóia a proposta de que esta articulação possa – junto com um programa mínimo e um calendário de lutas – convocar um Encontro Estatal de base, de classe e democrático, que reuna o ativismo combativo do sindicalismo e dos movimentos sociais, para forjar uma alternativa às desgastadas cúpulas da burocracia.

A reorganização do movimento operário e popular
A burocracia sindical da CC.OO e UGT está imersa em uma crise como nunca conheceram. Estes aparatos viveram décadas como instituições ligadas ao Estado, pactuando e mantendo a paz social. Agora, acabou a paz social. Elas não são as organizações destes tempos de guerra social.

O desafio atual é organizar um espaço de Frente Única que possa aglutinar os que querem lutar. Um espaço amplamente democrático, onde a base debata e decida.
Para este objetivo estratégico é fundamental avançar em organizações sociais de Frente Única e de luta, mas também construir uma organizalção revolucionária, que possa levar suas propostas nestes organismos de massas.

A Corriente Roja luta hoje pela construção de ambas as alternativas.

Post author Mariúcha Fontana, de Madri
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