Na assembleia do dia 8, dezenas de operários foram feridos e alguns foram presos.

Como ocorreu em 2011, uma nova explosão de revolta entre os 51 mil trabalhadores da construção da refinaria Abreu e Lima, em Suape- PE, ganhou destaque na mídia do país. Os motivos são os mais diversos, mas para o sindicato da categoria e da patronal, o culpado é o PSTU e a CSP Conlutas.A história de uma greve
A data base da categoria é 1º de agosto e, no dia 26/07, o sindicato dos trabalhadores da construção pesada do estado do Pernambuco, SINTEPAV-PE, filiado à Força Sindical, encaminhou para a votação a proposta negociada com a patronal: 10% de aumento salarial, correção no vale alimentação ou cesta básica para R$250,00 e a equiparação salarial entre todas as empreiteiras para daqui a 60 dias. Os trabalhadores, em sua grande maioria, rejeitaram a proposta. Como estava chovendo, a maioria dos trabalhadores entrou para dentro da obra. O presidente do sindicato, instantes depois, voltou ao microfone do carro de som e anunciou que a patronal aceitava aumentar a cesta básica/vale alimentação para R$260,00 e o aumento salarial para 10,5%. Sem a maioria dos trabalhadores que já tinham entrado por causa da chuva, o sindicato colocou novamente em votação. A proposta foi aceita pela minoria dos operários que ficaram, e assim se assinou o acordo com o sindicato patronal. Estava aceso o pavio do barril de pólvora em Suape.

No dia 1º de agosto, às 8h da manhã, os trabalhadores começaram a paralisar as obras por dentro, e no final do dia, os 51 mil operários estavam parados. A partir daí, o SINTEPAV-PE começou a lançar seus ataques ao PSTU e a CSP CONLUTAS, e junto com a patronal dispensou os trabalhadores até a próxima assembleia do dia 8.

A reação patronal, da justiça e a omissão dos governos Dilma e Eduardo Campos
Entre o dia 1º e 8 de agosto, tanto a patronal como SINTEPAV-PE iniciaram uma operação de guerra contra os trabalhadores. Primeiro, lançaram ataques ao PSTU e a CSP CONLUTAS pelo início de nova greve. Segundo, a patronal entrou com pedido de abusividade e ilegalidade da greve, que rapidamente é acatada pelo TRT-PE, Tribunal Regional do Trabalho do Estado. O TRT também isentou o SINTEPAV-PE de qualquer responsabilidade da greve e acusou “o mesmo grupo que iniciou os tumultos de 2011” como responsáveis pela revolta um ano depois, referindo-se ao PSTU e CSP CONLUTAS.

Assim, chegou-se na assembleia do dia 8 com a greve decretada ilegal e abusiva. O SINTEPAV-PE anunciou que a assembleia seria apenas informativa, que a proposta da patronal era a mesma rejeitada e que quem quisesse trabalhar naquele dia poderia entrar, mas o trabalho seria retomado apenas no dia seguinte.

Os trabalhadores se revoltaram. Uma chuva de pedras e vaias caíram sobre o carro de som do SINTEPAV-PE. O batalhão de choque da polícia militar rapidamente entrou em ação com balas de borracha, bombas de gás e também armas de fogo, pois nas gravações de vídeos, realizadas pelos operários, é nítido os estampidos das armas de fogos. Dezenas de operários foram feridos e alguns foram presos.

Eduardo Campos e Dilma silenciam
O silêncio dos governos Eduardo Campos(PSB) e Dilma(PT) chega a ser escandaloso. As condições de trabalho nas grandes obras como Suape e as condições de vida e moradia que estes operários estão submetidos são das mais degradantes. Estas condições que geraram as revoltas de 2011 e 2012, fruto da sede de mais lucros das empreiteiras.

Toda região viu uma explosão demográfica que vem gerando aumentos da violência, estupros e prostituição infantil em toda a Grande Recife. As cidades de Cabo, Ipojuca e até Porto de Galinhas, tradicional local de turismo, estão vivendo um inchaço de suas populações, onde os operários e operárias são jogados em qualquer lugar para morar. Qualquer construção é usada como alojamento.

A favelização da região lembra o que aconteceu com a grande São Paulo nos anos 60 e 70, quando os trabalhadores migrantes, chamados para trabalhar nas grandes montadoras do ABCD paulista, simplesmente eram jogados em qualquer lugar para morar e assim cumprir o papel de mão de obra barata. O governo Dilma trabalha com a mesma lógica dos militares de crescimento a qualquer custo, ou melhor ao custo da degradação de vidas, do meio ambiente, de homens e mulheres que buscam seu sustento pelo trabalho.

O PSTU-PE, desde o início, apoia os operários e operárias nas obras de Suape. O culpado pela nova explosão de revolta dos trabalhadores são, em primeiro lugar, as condições de trabalho e de vida a que estão submetidos a grande maioria destes operários. Em segundo lugar, o próprio sindicato pelego que, ao não ouvir e respeitar a opinião da maioria dos trabalhadores, gera revolta. É só lembrarmos que, no ano passado, um segurança bate pau do SINTEPAV-PE deu um tiro no rosto de um trabalhador em meio à assembleia que questionava a atuação deste sindicato.

Assim, como já vimos mais de uma vez nas obras do PAC e que lembra bem o tal crescimento da época do milagre econômico dos militares, período que a presidenta estava presa e era torturada pela Ditadura Militar, vemos hoje o seu governo usar a mesma lógica daqueles que ela um dia combateu. Um crescimento ao custo de sangue, suor de milhares de homens e mulheres pelo país afora, largados para trabalharem até a exaustão, sem as mínimas condições de moradia e saneamento, como nas grandes obras na época da Ditadura Militar.