No final de julho, a “Voz dos Trabalhadores” (Worker’s Voice, uma organização norte-americana simpatizante da Liga Internacional dos Trabalhadores) participou de dois dias de protestos contra a ocupação pelas tropas brasileiras do Haiti

Em 26 de julho ocorreu nos EUA um ato contra a ocupação do Haiti. Esse ato foi uma iniciativa conjunta da International Workers Solidarity (IWS, “Solidariedade Operária Internacional”) e o “Solidar”, uma organização sediada em Nova Iorque, e marcou o aniversário de nove anos da ocupação brasileira, que começou em 1° de julho de 2004.

Apesar do pequeno número de manifestantes, houve uma significativa participação dos membros das comunidades brasileira e haitiana de Nova Iorque. O ato teve início no consulado brasileiro e marchou pelas ruas da cidade até o consulado do Haiti, localizado na Segunda Avenida, onde os manifestantes exibiram ao público seus cartazes e faixas contra a ocupação do Haiti por tropas brasileiras, as políticas de austeridade e a brutalidade policial que vigoram no país caribenho.

Contra o racismo e o imperialismo
No dia seguinte, ocorreu o “Fórum Brasil-Haiti Contra a Ocupação e a Repressão”, organizado pelo IWS e apoiado pela “Voz dos Trabalhadores”, pela One Struggle (“Uma luta”) e pela Rede de Solidariedade do Batay Ouvriye, uma organização haitiana.

O Fórum aconteceu num salão comunitário do Brooklyn, onde vive a maior parte dos haitianos. Mais de 50 pessoas, em sua maior parte haitianos e negros, participaram dessa combativa reunião. O salão da reunião – decorado com bandeiras, cartazes e fotografias de combatentes haitianos mortos – ficou pequeno para tantos participantes.

Uma bandeira vermelha do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), do Brasil, adornava uma parede ao lado de cartazes denunciando a ocupação.

O Fórum começou com uma apresentação cultural e muita música boa. Depois, houve um painel político no qual Diane Muste, membro da “Voz dos Trabalhadores”, desconstruiu o mito brasileiro da “democracia racial”.

Segundo Muste, “o Brasil é o resultado de mais de cem anos de uma suposta unidade e inclusão social e racial. Atualmente, esse país é dirigido por uma presidente cujo passado é fortemente ligado aos movimentos sociais. Parece que o Brasil foi ‘talhado’ para liderar essa missão da ONU de ocupação do Haiti. Porém, nove anos após a ocupação, nenhuma das promessas foi realizada. A suposta ocupação democrática e cordial do Haiti é tão falsa quanto o racismo cordial e a democracia racial no Brasil”.

Muste também contestou que a ocupação possa ser um instrumento de libertação do povo haitiano: “Esse exército está a serviço das classes dominantes imperialistas e nunca poderá ser o agente de liberação e emancipação do povo haitiano. Enquanto as tropas brasileiras permanecerem no Haiti, podemos estar certos que isso é um sinal de que o povo negro e a classe operária de ambos os países permanecem sendo oprimidas”.

Intensificar a solidariedade: “Fora as tropas do Haiti!”
Depois da ativista do “Voz dos Trabalhadores”, foi a vez de Kiki Makandal, da Rede de Solidariedade do Batay Ouvriye, falar sobre a luta de classes no Haiti e a importância de lembrarmos que o dia 28 de Julho marca o 98º aniversário da primeira invasão norte-americana do Haiti.

Makandal disse que “as intervenções e ocupações norte-americanas em 1915-34, e indiretamente, em 1994-2000 e de 2004 aos nossos dias, ainda não conseguiram quebrar a vontade de se rebelar das massas populares haitianas e a disposição que os trabalhadores haitianos têm para lutar por seus direitos.”

Em sua fala, Kiki Makandal também lembrou os militantes do Batay Ouvriye mortos durante os anos de luta, em especial Carl Henri Fetus (Tòtòf), morto num acidente de carro em  6 de junho de 2013.

Eventos como este são um passo importante para consolidar iniciativas conjuntas entre as comunidades brasileira e haitiana em Nova York. Também foi uma importante iniciativa para a construção de uma relação, baseada na confiança e no não-sectarismo, entre a Rede de Solidariedade do Batay Ouvriye e a “Voz dos trabalhadores”.

Tradução: Daniel Luz (Secretaria de Negros e Negras do PSTU)

ENTREVISTA: “Tropas agiram para esmagar as mobilizações dos trabalhadores e proteger os interesses imperialistas”