Trabalhadores do setor vestuário em Nova Friburgo (RJ). Fábrica Filó, Grupo Rosset/ CSP-Conlutas

Hugo Moreno, de Nova Friburgo (RJ)

O moinho de vento nos deu uma sociedade com senhor feudal; o motor a vapor, uma sociedade com o capitalista industrial. E a máquina de costura, uma sociedade com o empresariado da moda íntima. Com a devida licença poética, eu me referencio em Karl Marx (1818 – 1883) para falar da situação dos operários do setor de vestuário em Nova Friburgo, cidade localizada na Região Serrana do estado do Rio de Janeiro. A fome de lucro da burguesia local da cidade lança o proletariado ao risco de morte comparável aos desatinos da 1ª Revolução Industrial. Até Engels mencionaria os absurdos perpetrados pelo polo da moda íntima contra a categoria do vestuário se ele fosse reescrever, nos dias atuais, sua célebre obra As Condições da Classe Trabalhadora na Inglaterra (1845).

O programa televisivo RJ INTER-TV, 2ª edição, exibido pela Rede Globo de Televisão, no dia 8 deste mês, noticiou a reiterada inobservância de protocolos sanitários de contingência e segurança por parte das fábricas de confecções de Nova Friburgo nas linhas de produção, durante o auge da pandemia do novo coronavírus. O cardápio é recheado de atentados contra a classe trabalhadora, que vão desde o desrespeito ao distanciamento interpessoal mínimo, até o absurdo de alguns empresários esconderem os funcionários para escapar de fiscalização e assim causando aglomeração dos mesmos, passando pela desconsideração da recomendação expressa de isolamento social nas hipóteses de confirmação de casos de Covid-19 entre os trabalhadores.

Não temos dúvidas de que o compromisso do empresariado friburguense é, apenas e tão somente, com o próprio lucro. No entanto, submeter um sem número de pessoas, pais e mães de família, às agruras da morte já ultrapassa o limite da humanidade. Na selvageria capitalista, demonstrada por tal situação, o importante para estes empresários é o amontoado crescente de dinheiro em suas contas bancárias; nada mais tem valor. A vida dos operários do setor vestuário da cidade não vale nada para estes senhores!

A “responsabilidade” faz parte do corolário básico do Princípio Republicano, que eles juram defender. A falta de responsabilização é condizente com as monarquias absolutistas, já derrubadas Ocidente afora, desde o nascimento do Iluminismo. O vertiginoso aumento do número de casos da Covid-19 na cidade, acompanhado pela elevada taxa de ocupação de leitos de UTI no Hospital Municipal Raul Sertã, há de suscitar a responsabilização do prefeito da cidade, Renato Bravo (PP), e as demais autoridades locais de saúde. Eles são complacentes com as condutas abomináveis nestas fábricas bem como em toda cidade. Eles criaram a uma quarentena “para inglês da 1ª Revolução Industrial ver” e se deliciar.

Outro ponto relevante é a quase nula atuação dos órgãos federais de fiscalização das relações de trabalho. O chacinado Ministério do Trabalho e Emprego sofreu um desmonte por parte do governo do negacionista Jair Bolsonaro, de tal sorte que as equipes de auditoria foram, praticamente, eliminadas. Assim, a costureira, o cortador e os demais profissionais do setor estão relegados à própria sorte em matéria de direitos trabalhistas. Produzir, produzir, produzir, comer, produzir e, agora, mais um verbo é acrescentado às linhas de produção do vestuário friburguense: morrer. Assim, o polo de produção da moda íntima aproxima-se dos “casos de sucesso” da 1ª Revolução Industrial, retrocedendo três séculos em se tratando de Direito do Trabalho.

Em tempos de pandemia, o trabalhador e a trabalhadora saem em busca do alimento e encontram o absurdo de cada dia. O pão é o luxo de uma elite que insiste em abrir a economia a qualquer preço, nem que custe a vida das pessoas mais pobres que passam horas a fio à frente de uma máquina de costura.

A manutenção da quarentena, e a garantia de emprego e renda ao proletariado, são a única medida de salvaguarda social ante a pandemia da Covid-19. A vida deve estar, sempre, em primeiro lugar.

É preciso responsabilizar o empresariado da moda íntima friburguense que submete a categoria ao risco de contágio indiscriminado do novo coronavírus. É preciso responsabilizar os agentes públicos coniventes com tal situação. É preciso respeitar a vida humana!

Além disto, é necessário nos somar ao processo de derrubada do genocida-mor, Jair Bolsonaro, e seu vice, Mourão, que carregam em suas costas quase 78 mil mortes pela doença. O genocídio promovido por estes senhores, em nível nacional, caminha junto ao genocídio provocado pelas elites, empresários, magnatas e burgueses de toda sorte do mundo inteiro. São estes mesmos que mantem este sistema apodrecido – o capitalismo – que nós temos que destruir.