Neste fim de semana, o presidente do PTB e pivô da maior crise política do governo Lula, o deputado federal Roberto Jefferson, resolveu falar um pouco mais sobre o esquema do mensalão mesadas pagas pelo PT a deputados da base aliada. Em nova entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, publicada neste domingo, 12 de junho, Jefferson revelou detalhes do esquema. Diz que o mensalão chegava a Brasília em malas e que o publicitário Marcos Valério, operador designado por Delúbio Soares, fazia a distribuição do dinheiro aos parlamentares. Segundo Jefferson, o dinheiro era recolhido de estatais e empresas privadas e que o deputado José Janene (PP) também era um dos operadores dos acertos com parlamentares.
Jefferson deixa pistas de como isso funcionava descrevendo como eram realizadas as negociatas sobre cargos e diz que os dirigentes petistas, qualificados por ele como os cabeças do PT, estavam diretamente envolvidos: Noventa por cento das conversas (sobre cargos) eram feitas no Palácio, numa salinha que era reservada ao Silvio Pereira (secretário-geral do PT). De vez em quando o Delúbio metia a mão na porta, entrava, sentava, conversava e saia. O Zé Dirceu participava da conversa e o Genoino também.
Em certo trecho da entrevista, Jefferson diz que não teme que algo possa acontecer a ele, pois se fizerem algo comigo, cai a República. O deputado ainda diz que caiu numa armadilha preparada por José Dirceu, quando este lhe convenceu a retirar sua assinatura do pedido de CPI. Retirar a assinatura foi o meu maior erro. Depois que fiz isso, recrudesceu o noticiário contra o PTB. Eu entendi que foi uma armadilha do Zé Dirceu para mim. Recrudesceu o noticiário, e eu vi claramente a mão do governo, disse Jefferson, que ainda afirmou ter reclamado com Dirceu sobre o linchamento promovido contra ele pela revista Veja e pelo jornal O Globo. De acordo com o deputado, Dirceu teria respondido: Roberto, na Veja não tenho nenhuma ação, porque a Veja é tucana. No Globo eu falo por cima. Dá para segurar. O ex-integrante da topa de choque de Collor ainda lança um desafio ao ministro chefe da Casa Civil: Eu duvido, du-vi-do, que ele (José Dirceu) negue o que eu estou dizendo. José Dirceu até o momento não se pronunciou.
Segundas intenções
Muitas das dúvidas sobre o que move o deputado Roberto Jefferson em sua enxurrada de denúncias ficaram mais nítidas nessa segunda entrevista. Ao explicar que José Dirceu armou uma arapuca contra ele ao convencê-lo a retirar seu nome da CPI dos Correios, Jefferson também diz que está fazendo as denúncias para tentar limpar a imagem do PTB. Na entrevista, ele defende o partido: Vão colocar no nosso colo. Vão enterrar a CPI e, enterrando a CPI, é inquérito, e o delegado da PF está agindo politicamente. Ele só vem pra cima do PTB.
Também não é coincidência a denúcia ser feita logo após o escândalo dos Correios, que colocou Roberto Jefferson no centro das investigações. Para tentar desviar de si as acusações, o deputado sacou da manga sua carta contra o governo petista. O governo, por sua vez, tentou resgatar os casos de corrupção da era FHC. No final das contas, ninguém está limpo na história.
Mas não é somente sobre a proteção ao PTB que giram as intenções do deputado. Além da defesa do PTB, a entrevista mostra que Roberto Jefferson também faz um esforço para poupar Lula, para fazer com que pareça que, apesar de toda a podridão que rola solta no Congresso e de todo mundo saber, Lula é o único ingênuo que durante dois anos e meio não desconfiou de nada.
Isso fica claro quando, contraditoriamente, Roberto Jefferson afirma que isso ninguém segura. Era de conhecimento público. Eu li que o próprio presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, já ouvira falar do mensalão. Era uma coisa que Brasília sabia. Em outro trecho, o deputado petebista diz que era conversa cotidiana na Câmara a repartição de mesada entre os deputados da base aliada. Difícil acreditar que Lula vivia no mundo encantado enquanto isso era assunto de tão amplo conhecimento.
Lenha na fogueira
A entrevista de Jefferson coloca mais lenha na crise em que vive o governo. Desde sua primeira entrevista, no dia 7 de junho, vários ministros e políticos citados por ele tiveram reações distintas. Alguns, como Palocci e os líderes do PP e PL, negaram veementemente que sabiam do mensalão. Até Lula confirmou saber do esquema. Outros, como Ciro Gomes e Miro Teixeira, confirmaram saber do mensalão, mas alegaram que a falta de provas os impediu de levar a cabo as denúncias.
O caso do mensalão é um enorme desastre para o PT. A única coisa que ainda distingüia o partido dos demais a tão apregoada ética na política – virou cinzas. Com isso a população desperta e começa a perceber que o PT é igual aos demais partidos tradicionais da direita corrupta brasileira. No dia 14 de junho, Roberto Jefferson irá depor na comissão de ética do Congresso Nacional. O depoimento poderá se transformar num grande evento, uma vez que será transmitido em cadeia nacional. Muita água ainda vai rolar debaixo dessa ponte. Novas denúncias poderão comprometer ainda mais o projeto de reeleição de Lula em 2006.