A UNE já não serve para as lutas dos estudantes. O que criar em seu lugar?De Norte a Sul, o movimento estudantil vem protagonizando fortes mobilizações. As coisas começaram a esquentar com a ocupação na USP e a greve das estaduais paulistas. De lá para cá, a temperatura só aumentou, como mostrou a UnB. Esse novo movimento estudantil surge a partir das lutas contra o modelo de universidade imposto pelo governo Lula, através de decretos como o do ReUni. Entretanto, as fortes mobilizações têm colocado na ordem do dia um debate importante. Diante da falência da UNE, como organizar nacionalmente o novo movimento estudantil?

Algumas entidades e coletivos do movimento vêm afirmando que é necessário construir uma nova entidade dos estudantes. No entanto, os mais desconfiados ficam sempre com uma pulga atrás da orelha: como assim uma nova entidade?

Esse é um debate que está aí e merece ser feito. Aqui vamos dar algumas opiniões da Juventude do PSTU sobre como deve surgir uma nova entidade nacional dos estudantes.

Em primeiro lugar pensamos que uma nova entidade deve ser construída a partir de um Congresso Nacional de base, com milhares de delegados eleitos em assembléias de cursos por todo o país. Isso é fundamental. Desde o seu surgimento, a marca desta nova entidade deve ser a democracia de base. Pensamos que esse congresso deve ser organizado por uma comissão aberta, para que todos possam construí-lo.

A democracia deve estar presente não apenas no congresso, mas também no dia-a-dia da entidade. Sua marca deve ser seu caráter democrático, de base e antiburocrático. Em nossa opinião para que isso seja possível, será preciso construir uma nova entidade sem direção fixa e eleita, mas a partir das entidades de base. Ou seja, a direção nacional da nova entidade não pode ser um grupo de iluminados, mas dezenas de representantes das entidades de base de todo o país, que se reúnem regularmente para organizar as lutas nacionalmente. Uma espécie de Conselho de Centros Acadêmicos nacional, que organize as diferentes reivindicações do movimento estudantil.

Em segundo lugar, consideramos fundamental que esta entidade seja marcada pela luta direta. Não podemos construir uma ferramenta que privilegie a luta institucional em detrimento da luta direta. A nova entidade deve ser um instrumento para as lutas, deve ser a entidade das ruas e não dos gabinetes. As negociatas e os acordos de cúpula devem ser varridos do movimento e substituídos pela mobilização democrática e permanente dos estudantes.

Queremos destacar a necessidade de a nova entidade resgatar o classismo no movimento estudantil. Vivemos numa sociedade de classes em que a neutralidade favorece os ricos e poderosos. O movimento estudantil não pode ser neutro. Ele deve estar lado a lado com a classe trabalhadora nas lutas e tomar como suas as bandeiras dos trabalhadores. Só assim o movimento estudantil poderá estar de fato, e não apenas em palavras, comprometido com a transformação radical da sociedade.

Sabemos que esta discussão ainda está iniciando e esperamos que ela possa seguir se desenvolvendo. Sem sombra de dúvida, vivemos um momento de fortalecimento do movimento estudantil. Para que possamos seguir fazendo avançarem as lutas, é preciso construir uma nova ferramenta nacional de luta dos estudantes. Debater como esta ferramenta deve funcionar e, a partir daí, dedicar nossos esforços para construí-la é fundamental. Não apenas para as lutas de hoje, mas também para as de amanhã.

O Encontro Nacional de Estudantes certamente é parte destes esforços e contribuirá no desenvolvimento deste debate e na construção de uma alternativa. A construção desta ferramenta é um desafio que está colocado para a nossa geração. Temos certeza que venceremos, se não tivermos desaprendido a aprender.