Por alguns dias circulou pela internet uma página com o nome ?UEM lá em Casa?, cujo conteúdo expressava, nada mais nada menos, o machismo que impera em nossa sociedade. Após vários protestos a página saiu do ar, assim mesmo o episódio merece uma reflexão, já que não é a primeira nem a última vez que nos deparamos com sites como esse em que mulheres são tratadas como mercadorias“Criar um cardápio de mulheres”, essa foi a expressão utilizada pelo tumblr para se referir à utilidade da página. O site funcionava como um catálogo de mulheres, todas estudantes da Universidade Estadual de Maringá e, segundo a página, destinava-se a construir um “catálogo das beldades” que estudam na UEM a partir de fotos encaminhadas por homens que conhecem estas garotas.

Se o espaço fosse devidamente construído com a autorização das mesmas, de forma respeitosa e para que fossem admiradas sem apelo, talvez o problema não fosse tão grande. Mas não parece ser esse o caso. Então a primeira questão é: Estas garotas foram consultadas a respeito da utilização de sua imagem neste site? Porque não se trata simplesmente de uma foto de perfil em alguma rede social e de uso pessoal, ali no tumblr “UEM lá em casa”, elas são expostas com um propósito e tratadas como “possibilidades” para os homens em possíveis encontros. Toda utilização de imagem pessoal que não seja feita pela própria pessoa configura uma utilização indevida da imagem, que necessita autorização.

Segundo e mais importante, por que além de serem expostas -indevidamente- na Internet, estas mulheres são citadas na forma de “catálogo” ou de forma ainda pior, como “cardápio”? Até onde sabemos, cardápio é uma palavra destinada à listagem de alimentos ou iguarias, que mediante indicação de preço, se trata de uma mercadoria que está disponível ao consumo. Há uma contradição notória aqui! Mulher não é comida! Mulheres não são mercadorias!

E pior ainda, por que esta não é a primeira e nem a última vez que encontramos um espaço em que mulheres são tratadas desta forma? A resposta é direta e simples: Vivemos em uma sociedade machista! Ser mulher não significa apenas ser tratada como um ser humano igual aos demais, ser mulher nesta sociedade significa ser rotulada, classificada, oprimida, padronizada, explorada e posta como mercadoria consumível.

Esta sociedade entende que mulheres são seres inferiores, destinadas a funções menos privilegiadas, menos remunerada e limitadas a atuação de coadjuvantes em relação aos homens, além das “naturalmente responsáveis” pela realização de trabalhos domésticos. Pois, segundo essa lógica, nós mulheres, tidas como o “sexo frágil” seriamos incapazes de realizar atividades elaboradas, já que afinal de contas, teríamos nascido menos favorecidas intelectualmente e não nos caberia outro recurso do que servir aos homens e atender aos seus desejos.

Infelizmente é necessário dizer que não são apenas os homens que “apreciam” este tipo de página, erroneamente muitas mulheres tomam como um elogio ou ainda um privilégio estar catalogada assim, isto porque o machismo reproduzido sistematicamente acaba se naturalizando entre as pessoas.

Mas é preciso lutar contra isto! Não podemos continuar a ser classificadas e rotuladas. Todas as mulheres são seres humanos e possuem sua beleza, os padrões que a mídia impõe, nos agride todos os dias, dizem que estamos gordas, que temos não temos o corpo perfeito, o cabelo liso e loiro que uma mulher bonita deve ter. Dizem o tempo todo que estamos fora do padrão e por mais que tentemos, sempre estaremos “imperfeitas”. Tratam-nos como objeto de propaganda nas campanhas publicitárias, apenas como mais um recurso ou uma mercadoria a ser vendida.

Não! Nós dizemos, não! Estas ideias machistas que são construídas sobre a mulher, justificam a existência de sites como o “UEM lá em casa”, justifica que em espaços como este e nos meios de comunicação em geral, se fortaleça e reafirme a ideologia machista, de que a mulher é propriedade do homem, e que por isso estes podem fazer delas o que bem entender, é esta lógica que reproduzida sistematicamente se materializa nos altos índices de violência contra a mulher, fazendo com que a violência doméstica ainda seja um dos grandes causadores de mortes entre as mulheres, mostrando é mais fácil uma mulher ser agredida dentro do que fora de casa, ou ainda, que muitas sejam violentadas a caminho do trabalho ou da escola. Por isso, sites como este, nunca devem ser tratados como demonstrações de bom humor ou bem intencionados, porque o resultado disto é a sustentação da violência.

Nenhuma mulher ou homem deve ser catalogado, pois não somos produtos! O site padroniza as mulheres, as trata como mercadoria consumível e catalogável. Em nada demonstra a valorização da beleza feminina, pois ele tem o objetivo de fornecer opções do “produto” mulheres para que os homens possam vir a “consumir”!

Manifestemo-nos diante de toda opressão, não devemos nos calar, a luta contra o machismo é todo dia!

Liane M é Militante do PSTU e ativista do MML/Maringá

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