Nos dias 25 a 27 de março, a União Nacional dos Estudantes (UNE) realizará o seu 54º Conselho Nacional de Entidades Gerais (CONEG).

Mais uma vez, um fórum que deveria servir para organizar a luta do movimento estudantil em defesa da universidade pública, contra a reforma universitária e demais políticas neoliberais do governo Lula, servirá apenas para referendar a política de sua direção majoritária, o PC do B, ligado à UJS, e seus aliados da Articulação, DS e Cia, aprofundando o curso governista e burocrático da entidade.

O CONEG convocará ainda o próximo Congresso da UNE, que também já está definido de antemão: será uma festa de apoio ao governo e sua reforma, fraudes, falta de democracia e desmoralização dos estudantes e das correntes de oposição. Este congresso pavimentará o caminho para uma traição histórica da UNE, que é o apoio à aprovação Lei Orgânica da reforma no segundo semestre deste ano.

É por isso, que já no mês de Janeiro, durante o Encontro “A Reforma Universitária e os Rumos do Movimento Estudantil” resolvemos renunciar aos nossos postos na entidade, e dirigir nossos esforços à construção de uma nova alternativa de luta e organização para o movimento estudantil brasileiro, a Coordenação Nacional de Luta dos Estudantes – CONLUTE.

Reproduzimos abaixo o Manifesto da CONLUTE sobre a ruptura da UNE, e chamamos todos os estudantes, entidades e correntes que ainda não fazem parte da CONLUTE, a organizarmos juntos a luta contra a reforma universitária do governo e um grande encontro nacional verdadeiramente de luta no meio do ano. Chamamos ainda todo o movimento estudantil combativo para ajudar a construir e fortalecer a Conlute.

“ABANDONO DAS LUTAS E ADAPTAÇÃO AO GOVERNO

Durante 67 anos o movimento estudantil construiu a UNE como um instrumento de luta pelas suas reivindicações, cumprindo um papel decisivo diante dos principais fatos políticos do Brasil e do mundo.

Hoje esta entidade é vítima de um mal incurável: a adaptação cada vez maior ao Estado e ao governo Lula, fruto da política de uma direção ligada ao PCdoB e setores do PT, as duas principais forças do governo.

Não é de hoje que a UNE é um obstáculo para as lutas do movimento estudantil. Após o Fora Collor, quando a entidade parecia retomar seu prestígio histórico, a UNE apoiou o governo Itamar, que praticamente iniciou o projeto neoliberal no Brasil.
Em 1998, a UNE foi contra a greve das universidades federais, o que levou os estudantes a montarem um comando nacional de greve por fora da entidade e derrotar as posições do PCdoB – que tentava acabar com a democracia da UNE – no histórico CONEB de Viçosa.

Durante o governo FHC, a entidade foi contra a campanha do “Fora FHC”, só mudando de posição quando podia perder essa votação no congresso de 1999. O mesmo aconteceu nas sucessivas lutas e greves desde então, quando a principal preocupação da direção entidade passou a ser o aparato construído com o dinheiro das carteiras estudantis.

Mas houve uma clara mudança quando Lula venceu as eleições de 2002. A partir de então, a UNE passou a compor o governo através do PCdoB e do PT, ajudando a elaborar a Reforma Universitária que pode destruir as universidades públicas e salvar os tubarões do ensino privado. Ou seja, a UNE se transformou em um braço do governo no movimento estudantil.

UMA TRAIÇÃO HISTÓRICA
É por isso que toda a nossa luta em defesa da universidade pública e contra a Reforma Universitária está se construindo por fora da UNE e combatendo as posições da entidade.

Em 2004, fizermos centenas manifestações, como as lutas e passeatas na UFRJ, as greves das estaduais paulistas, da UFBA e outras, o Encontro Nacional contra a Reforma no Rio de Janeiro, a Plenária do dia 12 em Brasília, o boicote ao ENADE e a Marcha do dia 25 de Novembro. A atitude da UNE frente a estas lutas foi um vergonhoso boicote e um alinhamento com o governo, o MEC e os reitores em uma caravana para defender a reforma dentro das universidades.

Em 2005, a UNE tirou posição apoiando a Lei Orgânica da Reforma apresentada pelo governo, e está convocando uma paralisação nacional em apoio à Reforma. No segundo semestre, a UNE chamará os parlamentares a votarem a favor da reforma mais nefasta da história das universidades no Congresso Nacional: uma traição histórica.
Esta experiência que os estudantes tiveram com a UNE nos mostra que a UNE não serve mais para organizar a nossa luta.

É HORA DE ROMPER COM A UNE
Há 20 anos, os trabalhadores tiveram que romper com os velhos pelegos aliados da ditadura para construir a CUT, que foi fundamental para as greves operárias da década de 80. Hoje, centenas de sindicatos começam a romper com a CUT e construir a Conlutas, como o sindicato nacional dos professores universitários – o ANDES-SN – acaba de orientar.

Acreditamos que este movimento que estamos construindo para defender a universidade pública e lutar contra a Reforma Universitária tem a mesma tarefa histórica: abrir um amplo debate com todos os estudantes, todos os C.As, todos os DCEs, Executivas de curso e correntes, sobre a necessidade de ROMPER COM A UNE e construir uma nova alternativa de luta para o movimento estudantil. Sem construir esta alternativa, por mais heróicas que sejam as nossas lutas, elas serão dispersas, desorganizadas, e finalmente derrotadas pelo governo, com a ajuda da UNE.

Por isso, É HORA DE ROMPER COM A UNE, pra defender a universidade pública, combater os tubarões do ensino privado, e derrotar a Reforma Universitária do governo”.

CALENDÁRIO DE LUTA CONTRA A REFORMA UNIVERSITÁRIA:

  • Início do Semestre: Calouradas com debates e início das mobilizações contra a Reforma Universitária e sobre a ruptura da UNE em todo o país. O objetivo é ganhar os estudantes para a luta contra a reforma e para a construção da Conlute;
  • Semana de 28 de Março: Jornada de Lutas alternativa à da UNE/UBES, com mobilizações localizadas em algumas capitais e cidades importantes;
  • 1 a 6 de Maio: Semana Nacional de Mobilizações com Ocupações de Reitoria, delegacias do MEC e Paralisações em todo o país. Manifestações conjuntas com a Conlutas, envolvendo além da Reforma Universitária, as reformas sindical, trabalhista e temas políticos como Alca, Dívida e FMI. O objetivo é conseguir paralisar as aulas no máximo de universidades possível; Em Brasília, nesta mesma semana, atividade dentro do Congresso, reunindo dirigentes e ativistas do movimento estudantil e sindical (cerca de 500 pessoas) para criar um fato político relacionado com as reformas;
  • Meio do ano: III Encontro Nacional contra a Reforma Universitária
  • Início do segundo semestre: GRANDE MARCHA A BRASÍLIA conjunta com a Conlutas, que coloque a luta contra as reformas num patamar superior ao atual, aumentando a pressão dos movimentos sociais sobre o Governo e Congresso Nacional;
  • Novembro: Boicote ao ENADE;

    São Paulo, 22 de março de 2005

    Júlia Eberhardt – Ex-diretora de Universidades Públicas da Executiva da UNE
    José Erinaldo Júnior – Ex-diretor de Universidades Pagas da UNE
    Marcelo Bertolo – Ex-diretor de Cultura da UNE