Leia a nota do PSTU de São Paulo sobre episódio de denúncia a um ativista que agrediu sua companheiraNo Brasil, por ano, mais de um milhão de mulheres são vítimas de violência doméstica. A cada três minutos, uma mulher sofre agressão física: a maior causa de invalidez de mulheres entre 16 e 44 anos é a violência doméstica.

Dez mulheres são assassinadas por dia, e 70% dos agressores são maridos, companheiros ou ex-companheiros. Um em cada cinco dias de trabalho perdidos pelas mulheres decorre de algum problema de saúde causado por violência doméstica.

Os números são alarmantes e assustadores, mas não podemos discutir a violência machista em abstrato, apenas com base em dados e números. As pessoas que sofrem as agressões são pessoas reais, com nomes e rostos. E as mulheres, perante a violência cotidiana, precisam de respostas e saídas.

Lutamos contra o machismo e suas expressões mais claras com atos, discussões, organização de mulheres, autodefesa e auto-organização. Lutamos também para o Estado garantir nossa segurança e a punição aos agressores, com projetos e leis como a Lei Maria da Penha. Essa luta por dentro do Estado é necessária, mas sabemos que esse Estado burguês não nos representa e sabemos que leis e delegacias não nos protegem como mostra a própria Lei Maria da Penha, que apesar de ter sido aprovada com pressão dos movimentos feministas, não é suficiente para evitar e combater a violência contra a mulher. Além disso, o Estado burguês nunca lutará para acabar com o machismo, pois ele se alimenta de todo tipo de preconceito, como o machismo, o racismo e a homofobia para seguir superexplorando os mais oprimidos e dividir a nossa classe.

Por isso, é necessário que nós, mulheres e homens, de forma organizada, respondamos politicamente às agressões cometidas, porque só assim, de fato, nos defenderemos.

A nossa moral
Porém existe uma confusão na esquerda. Muitos ativistas comparam a nossa moral à moral dos movimentos sociais, dos trabalhadores, da esquerda, com a moral da burguesia. A burguesia impõe a ideologia de que o diálogo é sempre a melhor forma de resolver os impasses, que qualquer tipo de enfrentamento é errado. Essa ideologia leva a acreditar que as melhores saídas para a classe trabalhadora são os “acordões” com os chefes, colaboração de classes, no lugar de enfrentamentos como greves, piquetes, luta de classes. O mesmo ocorre com o machismo, ainda mais em casos graves como agressões físicas e psicológicas. Ao invés de diálogos com os agressores, o feminismo reponde ao machismo com ação direta, denúncia e enfrentamento. O machismo é um inimigo de qualquer luta por outra sociedade. Essa é uma compreensão fundamental para mulheres e homens dessa luta.

As companheiras da Rede de Coletivas Feministas Autônomas Contra o Aumento, no último dia 30 de março, na concentração de um ato contra o aumento da passagem, denunciaram publicamente Xavier (Rafael Pacchiega), um ativista do Movimento Passe Livre (MPL) que cometeu diversos atos de machismo, como agressão física e psicológica a pelo menos duas companheiras com as quais ele se relacionou.

Ele prosseguia participando de espaços do movimento e atos contra o aumento da passagem, constrangendo as mulheres, na medida em que se sentiam inseguras por estarem nos mesmos espaços fazendo com que muitas se retirassem. Ao ver um homem que cometeu diversas atitudes machistas graves continuar participando livremente dos espaços e atos do movimento, as mulheres que não se sentiram a vontade com a situação foram penalizadas, pois tiveram suas liberdades podadas.

Acreditamos que o protesto e a denúncia não enfraquecem o movimento da luta contra o aumento nem o MPL. Na verdade, o fortalece. A esquerda não pode incorrer no mesmo erro dos stalinistas, que julgaram qualquer movimento contra opressões como um divisor do movimento. O que divide o movimento e qualquer luta é a opressão de mulheres e de todos os oprimidos! As mulheres são metade da classe trabalhadora, participam ativamente de diversas lutas e, inclusive, estiveram em peso em todos os atos contra o aumento da passagem. Aceitar o machismo nas fileiras da esquerda é perder preciosas militantes, jogar no lixo princípios históricos da esquerda e fazer o jogo da burguesia.

Não podemos compactuar com atos de machismo, que apenas destroem a classe trabalhadora, seja de dentro, seja de fora do movimento!

Na sua nota, o MPL expõe as medidas tomadas para a reintegração do ativista Xavier ao movimento, após um afastamento de quatro meses. Achamos importante que qualquer movimento discuta questões de gênero e como combater o machismo internamente, como o MPL fez. Porém achamos que o MPL não compreendeu a profundidade do caso e como isso afetou as mulheres. O MPL, com as medidas tomadas, pensou em reintegrar o ativista Xavier, mas pensou em como reintegrar e deixar confortável as mulheres do movimento? E as agredidas, que não são apenas uma, que auxílio daremos a elas? E a participação delas nas atividades, atos e espaços?

São questões centrais a serem debatidas em nossa opinião. Não fazendo isso, o MPL favorece um lado, o lado do agressor, fazendo com que muitas mulheres se afastassem da luta contra o aumento. Acreditamos na possibilidade de qualquer pessoa corrigir seu erros, mas achamos que, no momento atual, a presença do ativista impede a participação de diversas mulheres, entre elas as agredidas. Nesse momento, o movimento como um todo deve dar apoio e solidariedade a elas e não ao agressor.

Por isso, propomos a submissão do agressor a uma sanção pública debatida e organizada pelo movimento.

Posicionamo-nos nesse debate e propomos essa resolução porque acreditamos que não é possível nenhuma luta sem combater internamente qualquer tipo de opressão. A esquerda deve combater atos de machismo em suas fileiras e dar apoio e solidariedade às agredidas, e não ao agressor.

Por último, nós do PSTU queremos expressar aqui o nosso apoio à Rede de Coletivas Feministas Autônomas Contra o Aumento pelo seu corajoso ato e prestar solidariedade, já que a Rede está sofrendo acusações de todo o tipo. Elas não estão sozinhas e muito menos isoladas. Também estamos nessa luta contra o machismo!

Não nos calarão!

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