Nesta segunda-feira, 10 de fevereiro, o país recebeu a triste notícia do falecimento do cinegrafista Santiago Andrade, de 49 anos, ferido enquanto trabalhava na cobertura da manifestação do dia 6 contra o aumento da passagem no Rio de Janeiro. Neste momento, é necessário oferecer toda solidariedade e apoio aos seus familiares, colegas de trabalho e amigos.

O protesto no Rio, mais uma vez, foi marcado pela violência policial e por confrontos. A Tropa de Choque da PM reprimiu duramente os manifestantes, como vem fazendo ininterruptamente desde as manifestações de junho.

Independentemente das investigações e da suspeita sobre quem teria lançado o rojão que atingiu o cinegrafista, é preciso levar em conta que o conflito ocorrido nas ruas do Rio de Janeiro ocorreu apenas em função da repressão policial. Foi assim na Central do Brasil, naquele mesmo dia, quando a polícia lançou bombas dentro da estação com milhares de pessoas no local. A truculência da PM não poupou nem um senhor idoso, como revelam imagens que circulam na internet mostrando um senhor sendo agarrado por um policial e obrigado a deitar no chão com as mãos para o alto. Essa é a forma como os governos tratam aqueles que ousam protestar. Foi assim com as prisões arbitrárias dos lutadores e os assassinatos de nossos Amarildos e Douglas.

Esta é uma situação que pode piorar. Às vésperas da Copa do Mundo, a repressão dos governos tende a se ampliar ainda mais. Em São Paulo, o estudante Fabrício Nunes, baleado com arma de fogo por  PM’s depois de um protesto contra a Copa, mostra qual tem sido a escolha dos governos: tratar mobilizações sociais como casos de polícia. Desta forma, querem prosseguir com o aumento sistemático do preço das tarifas e tornar “inquestionáveis” os gastos abusivos nos megaeventos enquanto transporte, saúde, educação e moradia seguem um caos.

A maior responsabilidade pela tragédia que atingiu a família de Santiago, portanto, é do governo de Sérgio Cabral, do prefeito Eduardo Paes (ambos do PMDB) e da polícia. São os governos que buscam conter o movimento a qualquer custo, ao invés de atender as demandas da população. Santiago é mais uma vítima dos governos que insistem em atender os empresários mesmo à custa do sangue do trabalhador.

Na grande imprensa, circula a notícia de que o rojão que vitimou o cinegrafista Santiago Andrade pode ter sido disparado por um grupo de manifestantes. Opinamos que isso não exime os governos e sua violência policial da responsabilidade pela tragédia. O PSTU já se pronunciou contra esse tipo de prática isolada nos protestos, pois isso acaba prejudicando o movimento. Diante da violência policial, que tende a aumentar devido a realização da Copa, é legítimo que os movimentos sociais procurem se defender e organizar a resistência. No entanto, essa tarefa cabe ao próprio movimento e deve ser decidida por ele, e não por aqueles que se autoproclamam seu defensores. Esse tipo de prática acaba fortalecendo as ações dos governos e para que Cabral e Paes possam aumentar ainda mais a repressão e a criminalização do movimento. É justamente isso o que estamos vendo neste momento. Erros desse tipo acabam por facilitar a ação vergonhosa dos governos.

No entanto, mesmo que se confirmem as informações veiculadas pela imprensa, a tragédia é, em ultima instância, de responsabilidade do governo do estado e do município. Seja porque são eles os responsáveis pelas injustiças que geram as manifestações (neste caso, mais um aumento da tarifa de um transporte que continua com péssima qualidade); seja porque estes governos lançam mão de uma violência brutal para tentar impedir a população de exercer seu direito legítimo de manifestação. É essa violência que tem levado às reações que podem produzir tragédias como a que estamos assistindo agora.