Na parte da manhã, após o café, conversamos com os companheiros da Batay Ouvriye. Eles estavam preparando uma nota sobre o 1º de Maio para ser discutida com representantes de outras entidades e frentes que constituem a comissão organizadora das manifestações e lutas dos trabalhadores haitianos.

Pedimos uma cópia da nota para enviarmos ao Brasil. Assim, ela poderá ser lida durante as manifestações do 1º de Maio em nosso país. Acreditamos que ela deve ser vista como exemplo concreto de sintonia da luta entre os trabalhadores haitianos e os brasileiros, de solidariedade de classe. A perspectiva de internacionalização da luta dos trabalhadores se impõe cada vez mais, sobretudo no contexto de crise do capital em que estamos inseridos.

À tarde, fomos à sede da Batay, onde participamos de uma reunião com suas lideranças. Os companheiros foram surpreendidos por uma comunicação da polícia militar, direta e indiretamente controlada pela Minustah – as tropas de ocupação da ONU. A polícia informava que não permitiriam realização de manifestações no dia 1º de maio.

Segundo a polícia, o motivo da proibição era o fato de os organizadores não terem solicitado, formalmente, autorização com uma explicação clara sobre itinerário, horários, envolvidos e tempo de duração das manifestações. Além disso, argumentaram que na região central havia hospital. Por “coincidência”, essa foi a mesma desculpa usada pela polícia paulista para coibir manifestações na avenida Paulista.

Disseram que o final da marcha não poderia ser em frente ao palácio presidencial, local que estava interditado para esse tipo de manifestação. O cômico da atitude policial se acentua ainda mais quando os companheiros lembraram que, neste ano, já houve duas marchas que passaram em frente ao hospital e pelo palácio presidencial. A primeira foi no dia 8 de março, organizada por mulheres em comemoração ao Dia Internacional da Mulher. A outra, promovida por religiosos protestantes, terminou exatamente em frente ao palácio presidencial.

Esta é uma verdadeira afronta ao movimento popular, à luta dos trabalhadores e à liberdade de manifestação aqui no Haiti. Essa atitude merece todo o repúdio e será respondida pelos trabalhadores no dia 1º de Maio com uma grande marcha. A Minustah, através da polícia local, não pode impedir que os trabalhadores expressem seus protestos e suas reivindicações.

É importante divulgar esse fato amplamente, em níveis nacional e internacional. Que manifestações internacionais cheguem ao Haiti em solidariedade e apoio à luta dos trabalhadores haitianos. Achamos que os movimentos sindical, popular e estudantil ligados à Conlutas e a outras organizações, como o Jubileu Sul, devem repudiar essa tentativa de intimidação por parte do governo haitiano e exigir respeito ao direito básico e democrático à manifestação.

Devemos mandar mensagens para o Ministério das Relações Exteriores e para o governo Lula, exigindo a garantia ampla e irrestrita da liberdade de manifestação e organização dos trabalhadores haitianos. Devemos destacar em nossos materiais do 1º de Maio essa situação e denunciar o papel nefasto da ocupação brasileira aos trabalhadores.

Terminada a reunião, fomos a outro prédio da Universidade do Haiti para participarmos de uma palestra-debate sobre “O significado do 1º de Maio para o Haiti e para o mundo”. A atividade era parte da programação de construção da luta e da resistência dos trabalhadores haitianos.

No final da tarde, voltamos ao alojamento. Os companheiros da Batay iriam dar uma entrevista às rádios para ampliar o chamado à manifestação do dia 1º de Maio, a mobilização das diferentes categorias, bem como denunciar a tentativa de cerceamento da luta dos trabalhadores no Haiti. Amanhã, faremos uma panfletagem numa fábrica para convocar o 1º de Maio.

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