Caminhada e ato levam solidariedade às vítimas das tragédias das chuvas e denuncia descaso dos governosDiferenciando-se dos atos-shows realizados pelas centrais governistas, o 1º de Maio no estado do Rio de Janeiro foi uma expressão da independência dos setores combativos. Foi realizado um grande ato unificado nas comunidades de Niterói, reunindo cerca de 1.500 pessoas e diversos sindicatos, movimentos sociais, estudantis e populares, além de partidos de esquerda, como PSTU, PSOL e PCB. Organizado pela Conlutas e demais entidades que se organizam na Plenária de Movimentos Sociais (PMS) e pelo Comitê de Mobilização e Solidariedade das Favelas de Niterói.

Marcha
O ato começou com uma marcha entre as comunidades do Morro do Céu e do Morro do Bumba, duas das mais atingidas pelas tragédias das chuvas. Desde cedo na concentração na Rua A, próxima ao Lixão do Morro do Céu, no bairro do Caramujo, o ato já prometia. Os ativistas chegavam sozinhos, em grupos ou em ônibus vindos de toda a região metropolitana, como os comerciários de Nova Iguaçu, profissionais de educação do município do Rio e trabalhadores do Colégio Pedro II. Foi destacada também a presença de estudantes convocados pela Anel, vindos da UFF, UFRJ e UERJ (São Gonçalo) e também de outros estados como Pará, Bahia e Santa Catarina, reunidos para uma plenária da entidade.

Foi marcante a presença dos moradores do bairro do Caramujo, onde fica o Morro do Céu, além das outras comunidades, como Jerônimo Afonso, Morro 340, Grota, Teixeira de Freitas, Morro do Castro, Viçoso Jardim, Morro de Estado e do Bumba; certamente embaladas pela forte mobilização ocorrida durante a semana, quando da realização de audiências na Câmara Municipal de Niterói e na Assembléia Legislativa (ALERJ).

Após a chegada dos últimos ônibus e de falas iniciais para organizar o ato, os manifestantes saíram em uma longa marcha em direção ao Morro do Bumba, local mais atingido pela tragédia e que se tornou símbolo da luta pelo direito a moradia digna.

Emoção e solidariedade pelo caminho
A marcha talvez tenha sido o ponto alto da atividade. Já na saída os manifestantes receberam o apoio dos moradores, com vários acenando e aplaudindo das janelas e varandas de suas casas e outros se juntando à manifestação. Um jornal especial feito pela organização do ato foi distribuído e recebido com muito agradecimentos da população.

Por todo o caminho ficava evidente o descaso das autoridades. Em todas as ruas montes de entulho de lama e lixo ainda permaneciam acumulados, alguns da altura de uma casa. O mau cheiro era muito forte, com moradores denunciando que isso era efeito de corpos ainda não resgatados.

Diversos moradores saíam para chamar qualquer um, com uma câmera na mão, para entrar em suas casas e registrar que muitas ainda se encontravam praticamente soterradas. Denunciavam que nenhum órgão público havia aparecido por lá: nem bombeiro, nem defesa civil e nem a limpeza urbana.

Durante a marcha diversos representantes de comunidades fizeram uso da palavra para denunciar a verdadeira situação de abandono em que se encontram, ainda abrigados em igrejas e escolas, em precárias condições e superlotação.

As organizações sindicais e os partidos de esquerda também discursaram, como o dirigente estadual da Conlutas e pré-candidato a senador pelo PSTU, Heitor Fernandes, que explicava à população a importância daquela manifestação histórica do 1º de Maio, que ocorria ali unificando as reivindicações históricas das lutas da classe trabalhadora incorporando as reivindicações das comunidades e populações carentes por moradia digna, saúde, educação e transportes públicos de qualidade. Heitor morou por mais de 20 anos no Caramujo, e conhece bem a relação que os governantes têm com aquele bairro, um dos mais pobres da cidade. Ele denunciou o descaso e a omissão de Jorge Roberto Silveira (PDT), prefeito de Niterói, cidade onde é cobrado o segundo IPTU mais caro do país.

Cyro Carcia, presidente estadual do PSTU, aproveitou sua fala para questionar os governos de Lula e Sérgio Cabral e denunciar suas medidas eleitoreiras. Além disso, sua fala ajudou a manter o caráter internacionalista do 1º de Maio. Ele defendeu “a retirada imediata das tropas brasileiras do Haiti , por cumprirem ali uma papel de repressão sobre um povo vítima do imperialismo”.

Bumba
A chegada no Morro do Bumba foi memorável, com um minuto de silêncio seguido de aplausos em memória aos mortos. O cenário ainda é de pós-guerra, e os manifestantes se emocionaram ao verem o que restava do que até semanas atrás era o local de moradia de centenas de pessoas. De cara era possível ver que a maior parte do entulho do desabamento ainda estava lá, já que as buscas dos corpos foram encerradas.

O ato teve seu desfecho em frente ao verdadeiro monte de entulho que restou do Morro do Bumba. Entidades como a Anel, o Sepe, o IAB, a FIST, entre outras, e parlamentares de esquerda se revezaram nas saudações finais.

Um 1º de maio histórico de luta. E outro, governista
Enquanto isso, mesmo com a cidade ainda em luto, no centro de Niterói ocorria um show festivo de artistas patrocinados pela Força Sindical e com apoio da prefeitura e do PDT, partido do prefeito e do ministro do Trabalho do governo Lula. Ironicamente, reprisando a nefasta política do pão e circo, no tal show foram “sorteados” eletrodomésticos e um carro zero quilômetro, enquanto a população sofre com a perda de seus familiares, de suas casas e pertences.

A realização do 1º de Maio classista e de luta nas comunidades de Niterói demonstrou-se um acerto político histórico. A exemplo do ato ocorrido no ano passado, no bairro Santa Cruz, na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, quando foi denunciado o impacto da siderúrgica CSA, este ano o ato conseguiu unificar as bandeiras mais importantes dos movimentos sindical, estudantil e popular, além de denunciar os governos e suas políticas opressoras.

Mesmo com alguns problemas de condução, o objetivo maior do 1º de Maio de luta foi cumprido, que era levar a solidariedade de classe aos trabalhadores atingidos e denunciar o descaso dos governos em relação às tragédias do início de abril, levantando as bandeiras de luta, como a garantia de moradia popular digna para todos.

Agora é preciso dar continuidade as lutas e mobilizações e garantir a eleição dos delegados ao 2º Congresso da Conlutas e ao CONCLAT, que se realizarão em junho e que com certeza encerrarão este primeiro semestre histórico para a classe trabalhadora brasileira, com a unidade dos lutadores.

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