Lula vai passar esse final de semana com George W. Bush. Ele foi recebido na casa de campo oficial dos presidentes norte-americanos de Camp David, arredores de WashingtonPoucos presidentes latino-americanos foram convidados a ficar nesse local. Camp David é um lugar especial. Já foi palco de importantes reuniões e de decisões históricas. Foi ali que se planejou o “Dia D”, desembarque a Normandia que abriu um novo front na segunda guerra mundial. Foi também o local onde os presidentes dos EUA recebiam representantes soviéticos nos tempos da chamada “guerra fria”.

A visita de Lula ocorre a pouco mais de três semanas da viagem de George W. Bush ao Brasil. O encontro já estava acertado quando Bush resolveu dar seu giro pela América Latina tentando recuperar a influência do imperialismo na região.

América Latina em pauta
Novamente o que estará em pauta será a situação política do continente, marcada por grandes greves, mobilizações de rua e insurreições que derrubaram governos no início deste século. Com o crescimento da resistência dos povos, o imperialismo ianque viu sua influência diminuir na região.

Bush quer obter de Lula a colaboração necessária para restabelecer a influência do imperialismo na América Latina. Diante do enfraquecimento do governo Bush, provocado, sobretudo, pelo atoleiro iraquiano, a serventia de Lula é inestimável. Por outro lado, o presidente brasileiro, já deu inúmeras provas de que aceita agir como interlocutor do imperialismo nas crises políticas do continente. Uma boa prova disso é a ocupação militar do Haiti, liderada por tropas brasileiras.

Etanol
Em Camp David, os dois presidentes anunciarão um pacote de investimento financeiro de US$ 9,2 milhões para que países da América Central e do Caribe. O principal destino do dinheiro será o Haiti (US$ 7 milhões). O objetivo é implementar uma indústria de etanol no país. A mão de obra haitiana é a mais barata de todo o continente. O salário médio pago pelas multinacionais é de apenas US$ 1,50 ao dia. O que significa que as empresas instaladas no Haiti terão uma enorme margem de lucro.

Por outro lado, confirma-se o interesse do imperialismo investir no lucrativo negócio do etanol. O recente acordo entre EUA e Brasil sobre o etanol tem como objetivo estender a produção de álcool em países da América Central e caribe. Assim, esses países utilizariam tecnologia brasileira para o processamento do combustível. No entanto, toda a produção seria exportada para os EUA. Muitos desses países têm acordos comerciais com os EUA, por isso não pagariam taxas para enviar seu etanol ao mercado norte-americano. Dessa forma, o Haiti e outros países da região seriam transformados em uma plataforma de exportação do etanol.

Ingerência
Pouco antes de embarcar para Camp David, uma matéria do jornal Valor Econômico mostrava o nível de ingerência dos EUA na política brasileira. Segundo o jornal, os EUA estariam pressionando o governo brasileiro para que a Petrobras “contenha” seus investimentos no Irã. O objetivo seria aumentar o isolamento do país que hoje enfrenta sérias ameaças dos EUA. Neste momento os porta-aviões norte-americanos estão posicionados próximos na costa do Irã. Outro objetivo seria impedir maiores prejuízos das petroleiras norte-americanas, proibidas de realizar negócios com os iranianos.

Desde 2004, a Petrobras tem contrato com o governo do Irã para pesquisar jazidas de petróleo e gás num bloco chamado Tusan, no Goldo Pérsico. Um diretor da NIOC, estatal iraniana, disse que a Petrobras deverá assinar em breve um contrato de US$ 470 milhões para explorar dois blocos oferecidos na licitação.

O embaixador dos EUA no Brasil, Clifford Sobel, discutiu o assunto recentemente com o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli. Segundo o Valor, a Petrobras vai acatar o “conselho” do norte-americano, restringindo seus investimentos a um só bloco de Tusan.