As marcas da brutalidade
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Lutador camponês é assassinado: é a primeira morte sob o governo de LugoA luta pela terra em nosso país está novamente no centro da cena política. Ao questionar diretamente a propriedade privada capitalista, as numerosas ocupações dos sem-terra atingiram um impacto de nível nacional e marcam o auge da luta de classes em nosso país.

As massas camponesas, empobrecidas e à beira de desaparecerem pela expulsão de suas terras, por causa, sobretudo, pelo agronegócio, lançam-se decididamente a lutar por seu direito a um pedaço de terra onde possam trabalhar dignamente. Por outro lado, os latifundiários sojeiros, bem como as grandes empresas multinacionais, organizam bandos armados e exigem do governo uma repressão total em defesa de suas propriedades.

O governo Lugo-PLRA é neutro?
A imprensa burguesa e as associações de latifundiários, no marco desta política de exigir mão-de-ferro contra os camponeses pobres, tentam apresentar o governo de Lugo como indeciso, desentendido, morno, em que impera a descriminalizacão das lutas ou que diretamente estimula as ocupações. Nada mais falso.

Os fatos demonstram que o governo Lugo-PLRA, fiel a seus discursos eleitorais, está defendendo a propriedade privada e os investimentos capitalistas no campo com todo o poderio do aparelho repressivo do Estado burguês.

Esta proteção armada do governo Lugo aos interesses da burguesia rural não tem nada de morna, pelo contrário. Prova disso é o assassinato do companheiro Bienvenido Melgarejo, no dia 1° de outubro, que caiu morto após levar um tiro no peito durante uma feroz repressão policial contra uma ocupação situada em Colônia Guarani, localidade do Alto Paraná.

Melgarejo foi um dirigente e lutador camponês da Associação de Agricultores do Alto Paraná (Asagrapa). Tinha 45 anos e deixou órfãos seis filhos pequenos. O maior tem doze anos e o menor, somente dois.

O governo é o responsável
O Partido dos Trabalhadores (PT) condena e responsabiliza o governo de Fernando Lugo por este assassinato que, em seu afã de defender a propriedade privada latifundiária, reprime, prende e mata a humildes lutadores sociais.

Após o lamentável fato, o ministro do Interior, que se diz socialista, Rafael Filizzola, disse de forma grosseiramente hipócrita que lamentava a morte do dirigente, mas, agregou em seguida que “por instrução do Presidente, (…) deixamos claro que em nenhum caso o governo admitirá nenhum tipo de atropelo à propriedade privada. Vamos fazer respeitar todos os direitos constitucionais, principalmente o da propriedade privada” (jornal ABC, 4/10/08).

Posteriormente, em declarações que nada têm a invejar os anteriores ministros do Interior colorados, disse: “Quando se produzirem as invasões, vamos proceder a desocupação. A polícia tem de cumprir essas ordens”. Filizzola finalizou sua intervenção criminalizadora no meio de uma reunião com dirigentes de Asagrapa em que estava presente a própria viúva de Melgarejo, sentenciando que “o governo de Fernando Lugo não permitirá que se instalem o caos e a anarquia sob a bandeira de uma luta social” (UH 6/10/08).

Se alguém ainda acha que estas declarações de Filizzola não são compartilhadas por Lugo, vejamos sua opinião sobre o assassinato do dirigente camponês: “Acho que a Promotoria fez seu trabalho, a polícia também”. Depois de justificar a repressão, para que não fiquem dúvidas sobre sua posição ante o conflito, Lugo afirmou: “as invasões de terra não são o caminho da reforma agrária” (UH 6/10/08).

A propriedade capitalista acima da vida
O governo de Lugo-PLRA continua com a mesma política de criminalizacão das lutas que aplicou o governo colorado Duarte Frutos. Este plano tem o único objetivo de defender os privilégios da classe dominante pela força, tratando como delinqüentes os que lutam contra as injustiças. Bienvenido não era um delinqüente, foi um humilde camponês, pai de seis filhos, que brigava por um pedaço de terra para alimentar a sua família!

Estes tipos de fatos deixam nu o capitalismo e seus governos de turno. Para eles a vida dos pobres não vale nada diante de um trator, um terreno ou algumas sementes.

Exigimos que Fernando Lugo ordene o Ministro do Interior, Rafael Filizzola, a cessar imediatamente a repressão às lutas camponesas, bem como a imediata liberdade de todas as companheiras e companheiros que foram detidos injustamente. Exigimos também o castigo exemplar aos executores do assassinato de Bienvenido e que o Estado outorgue uma pensão para manter sua família.

Lutamos, também, pelo fim imediato do Código Penal, perversa norma capitalista de repressão ao povo trabalhador. Chamamos à FNC e a MCNOC, bem como a todas as organizações sociais e à esquerda em geral a se mobilizar de maneira unitária contra a criminalizacão das lutas por parte do governo Lugo-PLRA.

Os números da repressão
Segundo o relatório oficial dos Ministérios Público e do Interior intitulado Ameaças, invasões e desocupações, desde 1° de janeiro até 26 de agosto, registraram-se 121 ocupações, 56 desalojamentos e 193 prisões.

Neste sentido, o ministro Rafael Filizzola informou orgulhoso sobre novos dados que demonstram sua eficiência à frente dos órgãos repressivos da burguesia: desde que assumiu, ocorreram 35 ocupações, das quais 34 foram desalojadas com ordem judicial (ABC, 3/10/08)

O que disse a esquerda?
A esquerda oportunista, no marco de sua capitulação total ao governo Lugo-PLRA, manteve um silêncio cúmplice ante o assassinato de Bienvenido. Neste sentido, nem sequer pronunciaram-se o P-MAS nem Tekojoja.

O Partido Comunista emitiu um comunicado à Promotoria, ao Poder Judiciário e a outros poderes, vários dias depois, em que responsabiliza o ministro Filizzola pelo fato.

E sobre o governo de Lugo? Não só não lhe dão a mínima responsabilidade neste crime, como afirmam que “este tipo medidas criminosas”, supostamente, “conspira contra as intenções progressistas do atual governo de Lugo.

Finalmente, fiéis em sua defesa do governo, clamam o movimento social: “Unamos as forças majoritárias de nosso povo (…) contra a conspiração contra-revolucionária que atua dentro e fora do governo de Lugo!”.

Como se Lugo não soubesse das ações de Rafael Filizzola e do Comandante da Polícia Nacional! Em todo caso, se existisse tal conspiração do “setor mais espoliador de nossa sociedade contra o “progressista” Fernando Lugo, por que este não o denuncia? Por que mantém, então, em seus cargos os conspiradores?

A histórica política do stalinismo e a social-democracia é evitar por todos os meios – incluídos os mais delirantes – que as lutas e as denúncias do movimento social apontem os governos burgueses “progressistas” que eles apóiam.