Todo complexo do etanol é gerenciado pela Petrobrás. Sua expectativa é de atender a uma demanda internacional de 4,5 bilhões de litros de álcool a partir de 2010, quando a demanda brasileira será de 25 bilhões de litros.

A Petrobrás, melhor do que ninguém, expressa essa dupla cara do Brasil. Multinacional odiada pelos trabalhadores da Bolívia, cada vez mais amplia seu domínio sobre a América do Sul. Diz-se estatal, porém, já funciona para o mercado, já não é uma empresa estatal porque funciona para o lucro.

A participação de investidores privados no capital da Petrobrás cresceu 300% desde quando a companhia lançou ações na Bolsa de Nova York em 2000. Os estrangeiros detêm 38,8% do capital da empresa, mais que a União que detém somente 32% do capital total da empresa.

Hoje, a Petrobrás é mais estrangeira que nacional, apesar de que 55,7% do capital votante da empresa seguem em mãos do governo brasileiro.

Os investidores não querem “controlar” a Petrobrás e gerenciá-la no dia-a-dia. Este setor exige investimentos pesados. Eles deixam a parte dos investimentos para o Estado brasileiro fazer e se apropriam dos lucros líquidos da empresa, que hoje já tem todo seu estatuto a serviço do lucro dos investidores. Coisa, aliás, que é norma para uma empresa ser negociada na Bolsa de Valores de Nova York. A dinâmica de privatização da Petrobrás fica evidente ao abrir seu capital em bolsa de valores. O que se chama “governança corporativa”, regras para uma companhia atuar na Bolsa de Valores, determina que a empresa esteja à serviço dos acionistas, dos investidores e não dos interesses do país.

A distribuição total do capital total da Petrobras se distribui da seguinte maneira:
Governo: 32,2%
BNDESPar: 7,6%
Privado estrangeiro: 38,8
Privado nacional: 21,4%

Em 2005, a Petrobrás distribuiu de lucro aos acionistas R$ 4,387 bilhões, deste total R$ 1,4 bilhão foi para a União. Outros R$ 1,3 bilhão foram destinados aos investidores estrangeiros da Bolsa de Nova York que tem ADRs (American Depositary Receipts). Outro acionista, o BNDES ficou com R$ 330 milhões. Isto quer dizer que, já em 2005, a parte do leão foi entregue aos investidores privados estrangeiros. A União, que detêm a maioria das ações de controle, arca com os gastos de investimentos (que são altíssimos no ramo do petróleo).

Em 2006, o lucro da Petrobrás foi de R$ 25,9 bilhões. A empresa entregará de lucro aos acionistas R$ 7,9 bilhões. O governo receberá R$ 2,54 bilhões. Novamente os acionistas privados, na sua maioria estrangeiros receberão a maior parte dos lucros da “estatal”.

Os estrangeiros, individualmente, já têm mais ações que o Estado, portanto recebem o grosso dos lucros e determinam a forma de gestão, pois a Petrobrás já atua no mercado internacional, em 18 países, não para garantir as necessidades energéticas do Brasil e sim o lucro privado com suas operações. Utiliza a atividade no exterior como uma plataforma de crescimento e de exploração dos vizinhos sul-americanos. Não está buscando economias de escala para suprir energia para o Brasil. Na Bolívia, explora o país associado com a espanhola Repsol e a francesa Total. Daí seu merecido ódio por parte do povo boliviano, que está sendo dominado por esta suposta empresa estatal brasileira.

Isso é o que explica porque a Petrobrás entrará no mercado do etanol, favorecendo as empresas privadas. A Petrobrás pretende investir US$ 2,4 bilhões de dólares para exportar 3,5 bilhões de litros de álcool. Assim, a empresa garante a infra-estrutura necessária para que o setor privado cresça de forma espetacular. Estes planos compreendem a participação acionária em mais de 40 novas usinas, construção de uma rede de transportes para exportação de álcool e terminais de recebimento no Japão. Este projeto foi feito em parceria com a Mitsui, grande corporação japonesa, que entrará com a metade do dinheiro necessário. Este projeto trata de garantir o mercado japonês de álcool combustível para as empresas “brasileiras”. A Petrobrás tem o objetivo, neste caso, de desenvolver a iniciativa privada e, ao mesmo tempo, como parte do contrato com o Japão, terá ingerência na gestão da iniciativa privada para evitar riscos de interrupção do fornecimento de álcool.

Por outro lado, a quebra do monopólio estatal do petróleo por FHC e sua continuidade pelo governo Lula já entregou uma parte considerável, além do lucro visto acima, da produção de petróleo no Brasil para grandes transnacionais do petróleo, que estão atuando associadas com a Petrobrás e vão investir US$ 25 bilhões para extrair petróleo no Brasil, nos próximos 3 anos. Aí estão a Devon, Chevron, Shell, Repsol, etc. Os leilões de entrega do patrimônio nacional hoje são chefiados por Haroldo Lima, dirigente do PCdoB. Outra ironia da história: um “comunista” entrega o petróleo do país para grandes corporações transnacionais.

Este acordo de Bush-Lula compreende nas entrelinhas, que a produção de etanol do Brasil somente ganhará o mercado norte-americano em grande escala, se estiver subordinado a um acordo da Petrobrás com as grandes petroleiras americanas, que levarão o grosso dos superlucros.

Aqui se mostra, com toda evidência, o papel da Petrobrás a serviço do mercado externo e ao mesmo tempo, da transformação do Brasil em uma colônia fornecedora de matérias-primas para o desenvolvimento dos países imperialistas.

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