Aldo Rebelo (PCdoB-SP) resolveu mexer na decoração do gabinete da Presidência da Câmara dos Deputados e meteu os pés pelas mãos. Retirou os quadros e objetos colocados por Severino Cavalcanti e pendurou uma série de quadros de personagens da História brasileira. Segundo o repórter Leandro Colon, que publicou a notícia no dia 9 de novembro, no Blog do Noblat, Aldo pendurou retratos de Duque de Caxias, Zumbi dos Palmares e Raposo Tavares, entre outros, e batizou a série de ‘Construtores do Brasil´.

O deputado do PCdoB cometeu um verdadeiro crime, ao colocar, lado a lado, a imagem de Zumbi dos Palmares e de personagens como Caxias e Raposo Tavares. Como se não bastasse, o fez durante o Mês da Consciência Negra, quando o herói de Palmares é lembrado em todo o país.

Não é possível que Aldo, ex-presidente da UNE e com uma longa trajetória política, desconheça aqueles que escolheu para homenagear. Duque de Caxias, por exemplo. Liderando as tropas brasileiras na Guerra do Paraguai e agindo a serviço dos interesses britânicos, ele entrou para a História como um grande assassino de mulheres e crianças daquele país e é o patrono do Exército brasileiro. Não foi só contra os paraguaios que Caxias foi carniceiro. Antes, o militar recebeu medalhas e honrarias por ter derrotado quilombos e movimentos revoltosos. Para cada uma dessas medalhas, são incontáveis os mortos.

Em novembro de 1838, ainda jovem, Caxias foi destacado para liderar a repressão contra a Revolta de Vassouras, no interior do Rio de Janeiro, liderada por Manoel Congo e Maria Crioula. Não chegou a entrar em combate, pois os soldados subjugaram os 500 escravos. Dois anos depois, em 1840, Caxias foi requisitado mais uma vez. Foi para a província do Maranhão, com 8 mil homens, para sufocar os últimos integrantes da ‘Balaiada´. Levou um ano para derrotar os quilombolas, dirigidos por Cosme Bento das Chagas, o Negro Cosme, que foi enforcado. Nos confrontos, as tropas lideradas por Caxias queimaram aldeias inteiras. As chacinas deram a ele, em 1842, o título de barão.

O outro escolhido por Aldo como ‘construtor do Brasil´, o bandeirante Raposo Tavares (1598-1658) foi algoz dos indígenas que aqui viviam. Sob a desculpa de expandir e garantir as fronteiras, ele empreendeu campanhas país adentro, armado até os dentes. Para cada campanha, aprisionava milhares de índios, vendidos como escravos nas vilas. Assim, foi responsável pelo fim de diversas nações indígenas. Apenas em uma de suas empreitadas, em 1628, saiu de São Paulo com 900 homens e aprisionou 2.000 indígenas. Essa foi a sua grande construção.

Zumbi, ao contrário, é um legítimo herói de nosso povo. Liderou o Quilombo dos Palmares, que resistiu a diversas investidas do Império, por quase 100 anos, entre 1590 e 1694. Só foi derrotado quando o também bandeirantes, Domingos Jorge Velho, reuniu outros bandeirantes e mercenários que massacraram Palmares. Em determinado momento, Zumbi chegou a liderar cerca de 3 mil escravos fugitivos, em uma grande área em Alagoas, ironia das ironias, terra natal de Aldo Rebelo.

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