O Egito vive uma situação cada vez mais explosiva, resultado, por um lado, da reação dos trabalhadores e do povo contra os contínuos aumentos do preço dos alimentos (que também tem provocado protestos em vários países do mundo, como recentemente no Haiti) e contra os baixos salários, insuficientes para cobrir as necessidades mínimas da população. Por outro lado, existe uma crescente indignação contra a ditadura de Hosni Mubarak, que governa o país há 27 anos, apoiado pelos EUA e por Israel.

No dia 6 de abril, operários das fábricas têxteis da cidade de Al Mahalla realizaram uma paralisação e uma manifestação reivindicando aumento de salários. Os trabalhadores tiveram uma ampla solidariedade da população da cidade e do restante do país, onde também se realizaram manifestações que se combinaram com protestos contra o aumento de preços dos alimentos. A resposta do governo foi uma dura repressão, que produziu enfrentamentos com os manifestantes.

O salário médio no país é de 250 libras egípcias, cerca de 40 euros ao mês. As condições trabalhistas, o ataque aos direitos sociais, a alta dos preços básicos, a falta de democracia e, não menos importante, a descarada colaboração do governo com os EUA e Israel, representando pelos massacres de seus irmãos palestinos, vem acabando com a paciência dos trabalhadores egípcios nos últimos anos. Contudo, a temperatura social do país já vem aumentando há pelo menos um ano e meio.

Antecedentes
Em dezembro de 2006, mais de 27 mil trabalhadores da indústria têxtil da cidade de Mahalla realizaram uma greve por aumento salarial que o governo havia prometido. A greve começou quando três mil trabalhadoras da fábrica de confecção se manifestaram e tomaram outras plantas. A vitória de Al Mahalla desatou uma onda de lutas que segue crescendo.

O não cumprimento das reivindicações, porém, provocou mais lutas em 2007. As lutas em Al Mahalla, começam a se ampliar para outros setores. Comitês de trabalhadores são eleitos em assembléias, dando origem a um incrível fenômeno: o surgimento de sindicatos independentes do estado.

Repressão
As manifestações estão sendo duramente reprimidas pelo governo. Em meio ao clima de tensão, foram realizadas eleições municipais. Mas todos esperam a vitória do partido de Mubarak, uma vez que o processo eleitoral foi claramente fraudado. Além disso, o principal partido de oposição do país, a Irmandade Islâmica, se retirou do processo depois que seus candidatos foram vetados.