Leia depoimento sobre o jornalista, morto no dia 31 de outubroPeter Fryer já era um jornalista e escritor trotskista experiente e consagrado em 1986, quando esteve no Brasil, e depois em viagem por outros países da América Latina, para conhecer as seções da Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT-QI) de Argentina, Bolívia, Peru e Colômbia. Fryer viajou ao Brasil a partir de um relacionamento estabelecido, naquele momento, pela corrente do WRP inglês e a LIT-QI.

A partir dos relatos dessa viagem, ele produziu o livro “Crocodiles in the Streets: a report on Latin America” (“Crocodilos nas Ruas: um relato sobre a América Latina”) – ironia que traduz como a maioria dos europeus e norte-americanos imagina os países da região.

O internacionalismo proletário e os possíveis laços com o movimento trotskista na América Latina, bem como seus interesses pessoais – sua filha casara-se com um brasileiro –, levaram-no a realizar a viagem.

Convidamos Fryer a conhecer algumas cidades de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Seu interesse não eram as “exóticas paisagens tropicais” do Brasil, mas sim a genuína intenção de conhecer a experiência e organização do movimento operário brasileiro, em particular os setores mais explorados e lutadores e – em especial – as frentes de trabalho da então Convergência Socialista (principal corrente formadora do PSTU) neste movimento.

O jornalista esteve com os trabalhadores das minas de ouro da cidade de Nova Lima (MG), exploradas por uma multinacional de origem sul-africana. Ali Fryer falou, emocionado, para uma assembléia de mineiros. A mesma categoria havia protagonizado uma grande greve nos anos anteriores, na terra natal de Fryer, medindo forças com o governo de Margaret Tatcher. Ele discursou em apoio aos mineiros em inglês, idioma usado pelos donos e gerentes das minas. Uma experiência inédita para os trabalhadores.

Ele também foi ao Rio de Janeiro – conhecendo tanto os bancários da capital, quanto os trabalhadores da Baixada Fluminense – e passou também por São Paulo. Na Baixada Fluminense, visitou sua filha que morava no Brasil, casada com um trabalhador fluminense, o qual só nessa viagem pôde conhecer pessoalmente.

Como gostava de dizer Nahuel Moreno – dirigente trotskista e fundador da LIT-QI –, é um “tipo humano” que irá deixar saudades.

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    Post author Eduardo Almeida, da redação, e Joseph Weil, da revista Marxismo Vivo
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