Duas datas históricas, uma mesma tradição. Existe um fio de continuidade entre o Manifesto Comunista e o Programa de Transição votado na Conferência de Fundação da IV, em 1938.

O Manifesto foi o primeiro programa do movimento operário moderno, o primeiro programa da revolução socialista. O Programa de Transição é o Manifesto Comunista da fase imperialista do capitalismo. A palavra de ordem do Manifesto “Proletários de todos os países, uni-vos” tem hoje uma concretização na reconstrução da IV Internacional.

O acerto histórico da fundação da IV

Impedido de estar presente na conferência de fundação, Trotsky enviou uma saudação gravada. Nela dizia:

“Queridos amigos, não somos um partido igual aos outros. Não ambicionamos somente ter mais filiados, mais jornais, mais dinheiro, mais deputados. Tudo isso faz falta, mas não é mais que um meio. Nosso objetivo é a total libertação, material e espiritual, dos trabalhadores e dos explorados por meio da revolução socialista. Se nós não a fizermos, ninguém a preparará nem a dirigirá. As velhas internacionais estão completamente podres.” (…) “Sim, nosso partido nos toma por inteiro. Mas, em compensação, nos dá a maior das felicidades, a consciência de participar na construção de um futuro melhor, de levar sobre nossos ombros uma partícula do destino da humanidade e de não viver em vão.”

A conferência se realizou em um momento de profundo retrocesso da revolução. Anos antes, Hitler tinha conquistado o poder na Alemanha. O stalinismo se consolidava como aparato contra-revolucionário, que levou às derrotas das revoluções na França e na Espanha.

Numa situação internacional desfavorável, a Conferência se reuniu, fundou a IV Internacional, votou o Programa de Transição, os estatutos, um manifesto contra a guerra e uma direção.

Respostas aos céticos
O próprio Programa de Transição respondeu com clareza aos argumentos do setor centrista do movimento que se opunha à fundação da IV:

“Os céticos perguntam: mas chegou a hora de criar uma internacional? É impossível, dizem, criar uma internacional ‘artificialmente’, ‘só grandes acontecimentos podem fazê-la surgir, etc’. A IV Internacional já surgiu de grandes acontecimentos: as maiores derrotas do proletariado e da história. (…) Se nossa internacional é débil numericamente, é forte por sua doutrina, seu programa, sua tradição, a têmpera incomparável de seus quadros”.

Trotsky defendia a formação da IV para unir os revolucionários ao redor de um programa. Era preciso continuar a obra da III Internacional em seus quatro primeiros congressos, no programa e na concepção de partido nacional e internacional.

Isso tinha uma enorme importância em um momento em que a ofensiva stalinista buscava eliminar da consciência histórica a continuidade do marxismo revolucionário, sintetizada no Programa de Transição.

Mesmo no SWP (partido norte-americano filiado à IV Internacional) se pôde comprovar também a importância de ter construído a nova Internacional. Logo depois da fundação, surgia a primeira grande crise. Na época, o repúdio ao stalinismo era muito grande e se confundia com o repúdio ao Estado Operário por parte de grupos democráticos da pequena burguesia. Eles eram pressionados pela campanha imperialista em defesa da “democracia”.

Essa pressão caiu sobre o SWP através de uma fração conhecida como “antidefensista”, que considerava errado defender a União Soviética contra a ameaça capitalista. Avaliava que não se tratava mais de um Estado Operário. Mesmo no marco de uma internacional sob a direção de Trotsky, a ruptura dessa fração levou 40% do SWP, na época o maior partido da Internacional.

A tarefa da vida
Em seu Diário do Exílio, escrito em 1935, Trotsky opinava que nenhuma de suas tarefas anteriores poderia se comparar à que ele considerava a principal de toda sua vida: a construção da IV Internacional. Isso porque sua fundação foi um grande acerto histórico, preservando a continuidade do marxismo revolucionário mesmo no período de maior retrocesso da luta de classes. Mas sua formação também tinha um objetivo ofensivo, de preparar uma sólida organização internacional para o ascenso revolucionário previsto por Trotsky como inevitável conseqüência da II Guerra Mundial que se avizinhava.

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