Após vários anos de acordos de flexibilização de direitos, redução de salários, banco de horas e de dias, os metalúrgicos das montadoras do ABC reapareceram no cenário nacional protagonizando um importante enfrentamento com a patronal e com a política econômica do governo Lula.

Eles impuseram à direção do Sindicato (Articulação) uma greve que ela não queria. Os membros da comissão de fábrica Francisco (Tico) e Sinval (Sassá) contam o que aconteceu na Volkswagen: “A direção do sindicato não superou a desconfiança depois da aprovação do acordo que criou a Autovisão e demitiu 1.923 companheiros até 2006. Mesmo antes do início da greve, os diretores do sindicato não conseguiram falar na assembléia de tanta vaia. Queriam passar a proposta de compensação e não conseguiram nem apresentá-la”.

A assembléia que decidiu pela greve mostrou bem o ânimo de luta dos trabalhadores e sua desconfiança em relação à direção. Às 14 horas, a direção do sindicato fez uma assembléia no pátio da Volks que, pra variar, começou com vaias. Um diretor do sindicato apresentou a seguinte proposta: os trabalhadores deveriam entrar para trabalhar e sair às 17h, já que haveria assembléia no sindicato às 18h. Os trabalhadores decidiram não entrar e foram ao sindicato votar contra a proposta.

A orientação da direção era aprovar o acordo na assembléia

A orientação da direção do sindicato era aprovar a proposta de acordo no setor de auto-peças. Na Ford, um trabalhador que não quis se identificar contou que “a comissão e os diretores do sindicato estão chamando os trabalhadores para ir à assembléia votar a favor da proposta porque do contrário os trabalhadores da Volks, Scania, e Mercedes votarão pela greve”.

Antes de começar a assembléia, a direção reuniu o comando às pressas, para constatar que não conseguiriam aprovar a proposta e teriam que decretar a greve. Debaixo de chuva, pouco mais de 15 minutos foram suficientes para a direção reconhecer que “as montadoras estão em greve”.

A greve conquistou aumento real na maioria das montadoras. Quando fechávamos esta edição, os operários da Volkswagen continuavam em greve e aguardavam o julgamento no Tribunal Regional do Trabalho, pois a empresa não quis dar o reajuste conquistado nas demais empresas.

A revolta contra o congelamento da tabela do imposto de renda também é generalizada nas fábricas.

Post author Emmanuel de Oliveira,
de São Bernardo do Campo (SP)
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