Embora os negociadores da OEA (Organização dos Estados Americanos) saíssem de Honduras de “mãos vazias” na semana passada, o processo de negociação não deixou de avançar. “Até agora tem tomado um caminho positivo. Avançou-se. Na terça-feira [dia 13] podemos ter notícias bastante otimistas”, disse John Biehl, assessor do secretário geral da OEA, José Miguel Insulza.

No último final de semana, negociadores ligados a Zelaya e ao presidente golpista Micheletti, realizaram conversas com seus partidários. “Em reuniões informais de ontem e hoje (sábado e domingo) aproximaram-se muito para achar soluções na terça-feira. Tem tido muita atividade”, comentou Biehl.

A base das negociações é o Acordo de San José, cujos pontos garante anistia para todos os golpistas; preservação das instituições que tramaram e executaram o golpe (Justiça, Forças Armadas, Igreja e Congresso); além de varrer para debaixo do tapete a reivindicação pela Assembleia Constituinte.

É intensa a pressão por uma saída negociada da crise. As entidades patronais e a Igreja propuseram que Zelaya retorne ao governo, mas com poderes limitados. Defendem que o presidente deposto permaneça à frente de um governo de “coalizão nacional”, formado por golpistas e zelaystas até janeiro de 2010, quando haverá a sucessão presidencial.

Mas o movimento de massas resiste às pressões do processo de negociação. Muitos setores colocam-se contra a posição de Zelaya em abrir mão da luta pela Constituinte e exigem a punição dos golpistas. Para falar sobre isso, o Opinião Socialista conversou novamente com Tomás Andino, integrante da Frente de Resistência Contra o Golpe.

Na semana passada, a delegação da OEA reuniu-se com Micheleti. Mas o governo golpista tem retrocedido da hipótese de fechar um acordo e não aceita o regresso de Zelaya ao poder. O que pensa sobre isso?
Tomás Andino –
Os golpistas acharam que poderiam colocar na agenda um documento base chamado “Acordo de Tegucigalpa” feito pelos empresários, que não contemplava a restituição do presidente Manuel Zelaya. Mas, ao que parece, as delegações estrangeiras e a OEA [Organização dos Estados Americanos] impuseram a agenda do Pacto de San Jose. Os golpistas não se sentem bem com esta agenda, pois contempla a volta de Zelaya à presidência, ainda que de forma condicionada. Eles não querem a restituição de Zelaya, já que temem que seja interpretado pelas massas como um triunfo, e estas reativem sua luta e saiam do controle. Nesse ponto os golpistas dividiram-se, pois enquanto alguns (empresários e políticos) defendem que se chegue a um acordo com Zelaya, implicando na sua restituição ou em uma Junta Cívica integrada por todos os partidos, outros (como a cúpula militar-policial e Micheletti) buscam o prolongamento do atual governo até o dia 27 de janeiro.

Zelaya tem falado que aceita voltar à presidência com poderes limitados. Inclusive, abandonou a defesa da Assembleia Constituinte. Como estão os lutadores da Frente de Resistência diante disso?
Tomás –
Ninguém na resistência está pensando em abandonar a luta pela Constituinte. Nos setores mais avançados, a Constituinte é inclusive considerada mais importante que a volta do presidente Zelaya. Acontece que, em função do respeito que o povo tem por Zelaya, o presidente diz que está disposto a aceitar a renúncia à Constituinte em razão da pressão internacional, “enquanto for presidente” [até 27 de janeiro de 2010].

Por outro lado, o que agora motiva fortemente a luta, e que inclusive coloca o povo em confronto com o processo eleitoral, é a ideia de que, deste movimento tão grande, deve-se sair uma Constituinte que mude de fato o país.
Isso significa um importante nível de maturidade das massas, que sabem ver a diferença entre seu líder e a causa pela qual lutam.

A Frente de Resistência fez uma reunião no domingo, dia 5. Quais as principais conclusões?
Tomás –
A principal foi um giro para o trabalho nos bairros e comunidades, e colocar menos ênfase nas marchas de rua. Programam-se atividades sincronizadas em toda a cidade de Tegucigalpa, a capital. Seu exemplo começou a ser seguido em bairros na cidade de San Pedro Sula.
Outra conclusão foi participar do processo de diálogo organizado pela OEA, para exigir perante a comunidade internacional as reivindicações da Frente de Resistência e denunciar as manobras do golpismo.

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