Há três semanas a Nicarágua tem sido palco de protestos populares contra o aumento da tarifa dos ônibus e da alta dos preços da gasolina e dos alimentos. No dia 26 de abril, diversos manifestantes jogaram pedras no presidente Enrique Bolaños quando ele saiu da residência oficial, em Manágua. Segundo a polícia, cerca de 5 mil manifestantes cercavam o local. Bolaños não foi ferido, mas uma pedra atingiu um familiar seu.

Durante as últimas semanas, houve greves do transporte público, bloqueios de estradas e grandes manifestações populares que se intensificaram no dia 26, após a divulgação de um documento assinado por 96 dos 152 prefeitos do país pedindo a renúncia de Bolaños por incapacidade de controlar os protestos. Nesta semana, os atos, antes concentrados na capital, se alastraram por todo o país e se voltaram diretamente contra o presidente Bolaños.

No dia 25, uma forte repressão policial às manifestações teve como conseqüência 22 feridos e 68 presos. A fumaça provocada pela queima de pneus e pelas bombas de gás lacrimogêneo tomou conta da cidade, onde se ouviam fortes explosões e sirenes de carros da Cruz Vermelha e da polícia. Na altura do aeroporto internacional, a 12km de Manágua, o tráfego na estrada estava interrompido.

Em todos os protestos do país, os estudantes e a juventude são maioria. Nesta semana, cerca de 300 alunos da Universidade Nacional Autônoma da Nicarágua (UNAN) ergueram barricadas numa avenida a leste da capital. A polícia reprimiu o protesto e abriu fogo contra a sede do diretório acadêmico, onde foram vistos jovens ensangüentados buscando abrigo. As ambulâncias da Cruz Vermelha foram impedidas de entrar da UNAN para socorrer os estudantes feridos.

Bolaños afirmou que não vai renunciar ao cargo, que ocupa desde 2002. “Estive aqui durante toda a década de 80, durante a Revolução Sandinista. Me caluniaram, me fizeram grosserias e hoje sigo tranqüilo, como Johnny Walker“, disse o presidente, parodiando o slogan do whisky escocês (“Keep walking“).