Acabou a mais melancólica edição do Fórum Social Mundial, realizado no Quênia. Seu esvaziamento político foi evidenciado pela ausência de suas principais “estrelas” em potencial, como os presidentes Chávez, Lula e Evo Morales (Bolívia). Lula, pela primeira vez, foi direto para o Fórum Econômico de Davos, na Suíça, sem passar pelo Fórum Social, como em anos anteriores.

O “charme” e poder de atração do Fórum estavam ligados às expectativas que despertavam governos reformistas como o de Lula e à “luta contra a globalização”. A crise do Fórum coincide com o desgaste deste tipo de governo junto aos ativistas de todo o mundo e com a necessidade de avançar mais concretamente na luta dentro de uma perspectiva socialista.

Um balcão de negócios
Apesar de ter participado das primeiras edições do FSM, o PSTU nunca omitiu suas profundas diferenças com o evento, particularmente com sua pregação por um “outro mundo possível”, pensado e construído nos marcos do capitalismo. Tampouco o Fórum servia, pela recusa de seus organizadores, para encaminhar qualquer proposta de luta unificada concreta.

A falência do FSM (mesmo dentro dos limitados propósitos a que se propunha) foi debatida em seu próprio interior. O intelectual marxista e organizador do Fórum Social Europeu, Alex Callinicos, por exemplo, afirmou que “o Fórum Social Mundial está morrendo por causa da sensação terrível de repetição e de que não avançamos” e completou: “O que será do Fórum em 50 anos? Como queremos ser lembrados? (…) Será que seremos considerados pessoas legais, inovadoras, mas que jogaram fora uma ótima chance de fazer diferença?”

A depender da grande maioria dos organizadores do evento, nada será modificado. Defensores “radicais” da Carta de Princípios do FSM, os parceiros do governo Lula, como Chico Whitaker, defendem que o FSM não deve encaminhar ações concretas.

No 7º Fórum, esta situação chegou ao limite. Para começar, houve uma política deliberada para afastar os ativistas. Realizado num país onde 50% da população vive com menos de US$ 2 por dia, o evento tinha uma taxa de inscrição, para africanos, de US$ 7. Para habitantes do hemisfério Norte eram US$ 110 e, para os do hemisfério Sul, US$ 28. Junte-se a isso os preços exorbitantes cobrados pela alimentação, hospedagem e demais serviços e é fácil entender porque apenas 10 mil pessoas participaram de um evento que esperava reunir 100 mil.

Dentro dos auditórios, representantes governamentais como Luiz Dulci (representante de Lula) “debatiam” as melhores formas de se acomodar no sistema e negociar as vidas de seus povos. Enquanto isso, os corredores do FSM de Nairóbi foram transformados num verdadeiro balcão de negócios, com ONGs do mundo inteiro se utilizando do evento para vender seus projetos.

Como demonstração dos resultados desta orientação, pela primeira vez desde seu lançamento, no ano que vem não vai haver Fórum, só em 2009.
Post author
Publication Date