Ilustração: Fábio Fernando

Crime permanece impune; julgamento do assassino foi transferido para BrasíliaNesse dia 6 de outubro, terça-feira, completaram-se 10 anos do assassinato do servidor público e militante do PSTU Gildo Rocha no Distrito Federal. Um crime que permanece até hoje impune. Gildo, que trabalhava no serviço de limpeza urbana do estado, foi morto brutalmente durante uma greve de servidores em 2000, pela polícia do então governador Joaquim Roriz.

Crime bárbaro
Gildo contava com apenas 33 anos, era casado e tinha uma filha. Participava de um piquete com outros servidores quando foi alvejado pelas costas pela polícia. Em 2000, o governador Joaquim Roriz tinha dado ordem para reprimir a greve da SLU (Serviço de Limpeza Urbana). Policiais a paisana abordaram os grevistas de madrugada e, durante uma perseguição, dispararam 17 tiros, atingindo e matando Gildo.

Tentando esconder o crime, os policiais forjaram uma cena, afirmando que Gildo havia disparado primeiro. Para isso, plantaram armas e drogas em seu carro. A perícia, porém, desmentiu a falsa versão, provando que o sindicalista não havia consumido drogas ou efetuado qualquer disparo antes de ser morto.

Impunidade
Até hoje ninguém foi punido pela morte de Gildo. No dia 8 de junho havia sido marcado finalmente o julgamento do policial civil Arnulfo Alves Pereira, autor dos disparos que tirou a vida do ativista. No dia do julgamento, cerca de 50 manifestantes, incluindo sindicalistas e familiares de Gildo realizaram um protesto exigindo justiça. Policiais civis amigos do réu, porém, intimidaram ostensivamente os manifestantes, exibindo armas e distintivos.

O julgamento foi adiado, pois um dos jurados trabalhana na SLU com Gildo. O Ministério Público exigiu a transferência do julgamento, já que o local em que ele seria realizado, em Ceilância, cidade satélite de Brasília, é a cidade do réu. O julgamento foi então para o Fórum da capital Brasília, mas ainda não tem data para ocorrer.

“Eu fico muito angustiada, é uma coisa muito ruim, que vai durar até que haja de fato uma punição”, conta Gleicimar Souza Rocha, viúva de Gildo. Mais angustiante que agüentar 10 anos de impunidade, para ela, é ver o mandante do crime, o ex-governador Joaquim Roriz, não só solto, como disputando novamente as eleições do governo. Ameaçado de ser barrado pela Lei do Ficha Limpa, Roriz colocou sua mulher, Weslian Roriz, para concorrer em seu lugar, nem ao menos tendo a preocupação de esconder a manobra.

“É muito angustiante ver esse bandido, poderoso, solto e ainda mandando por aí, e as pessoas vêem isso e ficam apáticas com a política”, relata Gleicimar. “Não podemos deixar que esse crime bárbaro seja esquecido e permaneça impune”, finaliza.

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