Está se impondo uma conjuntura eleitoral no país, com o governo recuperando parte de seus índices de popularidade. Já se vê nas conversas das fábricas, empresas em geral, escolas, a velha polarização entre PT de um lado e PSDB-PFL de outro. Nenhuma dessasA grande crise política de 2005 foi como uma explosão política, com as massas trabalhadoras fazendo sua experiência concreta com o governo Lula e o PT. No entanto, naquela época já alertávamos que era imprescindível que existisse uma intervenção do movimento de massas, para que a crise não terminasse em pizza.

A Conlutas realizou o maior ato nacional contra o governo, em 17 de agosto, com 12 mil pessoas em Brasília, e mobilizações nas principais capitais. Foram atos maiores que as forças reunidas pelo governo, e seus braços no movimento (CUT, UNE, MST). Mas, ainda assim, foram manifestações de vanguarda. A massa de trabalhadores e jovens não saiu à rua, nem para apoiar o governo, nem para protestar contra ele. Os que se opunham, majoritários, não viam ainda uma alternativa de peso ao PT e à CUT, e se mantiveram passivos.

O resultado é que hoje está sendo costurado um acordão entre PT-PCdoB e PSDB-PFL para que tudo acabe em pizza. Poucas cassações, mandato de Lula preservado, Palocci mantido. Tudo caminha para a eleição.

Além disso, ao contrário do que previa a oposição burguesa, Lula está recompondo seu apoio eleitoral. A modesta elevação do salário mínimo para R$ 350, a extensão do Bolsa-Família para quase 9 milhões de famílias, e o alívio da crise política pelo acordão, fez o governo voltar a crescer em termos eleitorais. Está se impondo de novo a falsa polarização PT x PSDB-PFL.

A crise política de 2005 deixou, no entanto, marcas profundas. Em muitos sentidos, não terminou. Engana-se quem pensa que 2005 passou em vão. Apesar de não terem acontecido grandes mobilizações de massas, ocorreram grandes experiências políticas. Em primeiro lugar, o PT nunca mais será o mesmo, ainda que se recomponha eleitoralmente e ganhe em outubro. Os setores mais avançados dos trabalhadores e jovens romperam majoritariamente com o PT, ainda que com muitas desigualdades de categoria para categoria, de região para região. Deixaram de ver no governo Lula seu governo, e no PT seu partido.

Como o ascenso não se aprofundou, a ruptura não se completou a ponto de construir uma nova alternativa de esquerda. Agora, nessa conjuntura eleitoral, os trabalhadores podem votar de novo no PT, mas já sem as expectativas de antes. Podem votar no PT, mas já não são mais petistas.

A base social real do PT hoje está cada vez mais nos setores pauperizados que dependem dos programas de compensação social, como o Bolsa-Família, e não em setores mais avançados dos trabalhadores.
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