A disputa eleitoral de outubro já está definida em torno das candidaturas dos dois grandes blocos burgueses majoritários: Alckmin é o candidato da direita tradicional, do PSDB-PFL, de setores importantes do capital financeiro, industrial e agrário. Lula é candidato à reeleição (apesar de não ter ainda formalizado o anúncio), apoiado por setores importantes também do capital financeiro e industrial, assim como pela CUT, UNE e MST.

A direção do PT disseminou a idéia do “mal menor”, que logo penetrou na consciência de amplas parcelas de trabalhadores, apoiadas materialmente nas pequenas concessões que o crescimento da economia permite, como o reajuste do salário mínimo ou a Bolsa Família.

Mal menor?
A falsa consciência do “mal menor” se compõe basicamente de duas idéias. A primeira pode ser sintetizada assim: “é tudo a mesma coisa, mas pelo menos veio de baixo”. Ou seja, Lula seria assim um governo dos trabalhadores, ou dos que “vieram de baixo”.

Na verdade, Lula não é um governo dos trabalhadores. O que define um governo não é a origem social de seu presidente, mas para que classe social o governo trabalha. Com a cara de um ex-trabalhador, estamos frente a um governo que aplica uma política econômica claramente a serviço da grande burguesia, em particular dos banqueiros e do imperialismo.

A segunda falsa idéia é que “o governo Lula tem seus problemas, mas é preciso evitar a volta da direita”. Na verdade, a “direita” já está presente no governo Lula em sua política econômica, em sua corrupção. Ganhe qualquer um desses campos (PT ou PSDB-PFL), o programa de governo será o mesmo – do governo FHC, deste primeiro governo Lula. Sempre a serviço do grande capital, dos banqueiros e do imperialismo.

Falta definir a oposição de esquerda
Ainda falta a definição de vários elementos importantes do processo eleitoral. Um deles é se o PMDB vai ter ou não candidato próprio, o que pode significar a existência ou não de um segundo turno.

Mas o elemento mais importante é o terreno da oposição de esquerda ao governo: se vai ou não se construir uma frente classista e socialista. A necessidade é evidente. Para se contrapor à falsa polarização entre os dois grandes blocos eleitorais burgueses (PT-PCdoB x PSDB-PFL), é preciso apresentar uma candidatura unitária, que demonstre uma força superior, capaz de se mostrar como alternativa ao jogo perdido PT x PSDB.

As batalhas pela frente
Nesse terreno, a boa notícia é a de que começaram as conversas entre os partidos de oposição de esquerda ao governo.

A Executiva do P-SOL apontou uma perspectiva de frente eleitoral com o PSTU e PCB (e outros setores), não aprovando a princípio uma frente com o PDT. Esta é uma resolução positiva, mas sobram grandes dúvidas sobre suas conclusões.
Em primeiro lugar, as negociações com o PDT seguem. Como existem setores importantes no P-SOL que defendem a aliança com o PDT, as discussões com este partido seguem existindo, e não existe até o momento uma definição categórica a respeito.

Como o PDT é um partido burguês, uma frente sinalizaria repetir o mesmo percurso do PT, com suas alianças eleitorais em que valia tudo. Não existe possibilidade de um programa comum: como o PDT inclui latifundiários, não se poderia ter um programa pela reforma agrária ou de apoio às ocupações de terras do MST. Como inclui setores da burguesia industrial, seria difícil apoiar as greves sem crises na frente. Além disso, como explicar a presença atual do PDT na prefeitura de São Paulo, junto com Serra? Uma aliança com o PDT inviabilizaria qualquer frente classista dos trabalhadores.

Em segundo lugar é preciso definir com clareza um programa. A oposição clara ao governo e à democracia dos ricos deve se somar a uma perspectiva anticapitalista e antiimperialista. A questão da dívida externa, por sua gravidade, deve ser encarada como um eixo de campanha, por expressar a necessidade de ruptura com o imperialismo e o modelo neoliberal.

Por último é preciso saber se o P-SOL quer realmente uma frente, ou quer somente apoio dos outros partidos ao próprio P-SOL. A candidatura de Heloísa Helena pode ser um ponto de convergência para formar a frente classista e socialista, caso signifique mais do que o P-SOL. Ela tem um peso eleitoral inegável e pode ser a expressão unitária da reorganização do movimento de massas, das lideranças das greves, mobilizações estudantis e populares. Mas para isso será necessária uma cultura de frente por parte do P-SOL, e não uma postura sectária, hegemonista, ocupando todos os cargos majoritários, por exemplo.

Recentemente a maioria dos partidos da esquerda argentina deu um péssimo exemplo durante o processo revolucionário ocorrido neste país, por não saber construir a unidade quando ela é necessária e possível. Não conseguem ter acordos nem para articular um ato pela mesma reivindicação. A esquerda brasileira precisa apresentar outra cultura: preservando suas diferenças, saber atuar de forma unitária, quando se apresentam as condições.

A Frente de Esquerda, Classista e Socialista é uma necessidade. É hora de construí-la.

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