O verso da canção Sorriso Negro não poderia ser mais atual. País afora, negros e negras estão a anos-luz de qualquer coisa que possa ser chamada de igualdade, principalmente quanto ao mercado e às condições de trabalho.

Segundo pesquisa realizada pelo IBGE em setembro, somos a maioria dos desempregados (50,8%) e dos que exercem os trabalhos mais pesados (55,4% dos ocupados na construção civil e 57,8% dos trabalhadores domésticos). Enquanto no setor privado 59,7% dos trabalhadores brancos têm carteira assinada, somente 39,8% dos negros têm acesso a esse direito. O que se reflete na média salarial nacional: R$ 660, quase metade do rendimento médio dos brancos (R$ 1.292).

Na educação, além de os brancos comporem 82,8% dos que têm nível superior completo, a escolaridade média dos negros é de 7,1 anos, contra 8,7 na população branca. E pior: os números também demonstram que o aumento da escolaridade não se traduz, de forma alguma, em redução da exploração de negros e negras.

Ao contrário. A diferença salarial aumenta na medida em que o nível de escolaridade é maior. Entre os trabalhadores com menos de um ano de estudo, os brancos ganham, em média, 15% a mais que os negros; já entre aqueles que têm nível médio, a vantagem sobe para 92%. E o abismo não pára de crescer. Com 11 anos de estudo, um branco ganha em média R$ 1.728, ante R$ 899 pagos a um negro (uma diferença de 149%).

Tais números jogam por terra as ilusões e os argumentos daqueles que acham que o caminho para acabar com o abismo racial é promover a ascensão de negros e negras na sociedade capitalista, algo comum entre lulistas e aliados.

Índices ainda piores podem ser verificados em todas as outras áreas, particularmente quando aplicados às mulheres negras, que têm contra elas o acúmulo do machismo e do racismo.

Há muito se sabe que, em média, uma mulher negra ganha um terço do que é pago aos homens brancos. Mas cabe ressaltar que, mesmo entre as mais exploradas, a diferença persiste: enquanto a renda média de uma empregada doméstica branca é de R$ 405, a de uma negra é de R$ 354 – 12,4% a menos. Quanto ao desemprego, a situação é a mesma: entre 1992 e 2005, o índice de desemprego entre as brancas aumentou em 38,5%; entre as negras houve um salto de 58,0%.

O resultado não poderia ser outro: 66,6% dos negros encontram-se entre os 10% mais pobres do país. Uma situação que praticamente criou “dois Brasis”. De acordo com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 2002, estabelecido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento a partir de quesitos como salário, educação e condições de saneamento e moradia, o Brasil ocupava o 73º lugar.
Quando a mesma pesquisa é aplicada a negros e brancos em separado, abre-se uma distância de 61 posições: a população branca salta para o 44º lugar e a negra despenca para a 105ª posição.

Por essas e muitas outras, as razões do desassossego dos negros não são poucas. Diante de tudo isso, é preciso lembrar de um outro verso do samba de Jorge Portela e Adilson Barbado, imortalizado na voz de Dona Ivone Lara: “negro é a raiz da liberdade”. É por se encontrarem entre os mais explorados e oprimidos que negros e negras têm na luta a única saída para sua situação.

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