Na semana passada, Lula viajou para a China liderando uma imensa delegação, composta por mais de 400 empresários. O objetivo da viagem é fazer avançar as relações comerciais entre os dois países.

A grande imprensa, inclusive muitos setores da esquerda impressionados pelos dados sobre o crescimento econômico chinês, acreditam que esse país possa se converter em uma grande potência econômica do futuro. Outros, como o PCdoB, sustentam que o socialismo “com peculiaridades chinesas” – uma combinação de economia capitalista e socialista – é uma longa estratégia que irá fortalecer o socialismo daqui a uns 90 ou 100 anos.

Não concordamos com essas opiniões. Para nós, o que se verifica na China é a restauração do capitalismo combinada com um processo de recolonização do país, conduzida por uma ditadura burocrática que oprime o povo chinês.
Por um lado, a economia chinesa hoje está assentada na produção e na exportação de equipamentos de baixa tecnologia (Cds, rádio-gravadores, roupas baratas etc). O papel da China no mercado mundial é abastecer com essas mercadorias os mercados imperialistas. Com isso, a China vai se transformando numa imensa semicolônia com uma boa capacidade de exportação.

Por outro, não existe mais nem sobra de uma economia socialista no país. Nos últimos anos, na China, houve uma verdadeira invasão de grandes empresas estrangeiras, atraídas por incentivos estatais. Por trás do “milagre chinês” existe uma brutal exploração da classe trabalhadora imposta por multinacionais que se instalaram no país pagam cerca de oito dólares de salário. Essas condições fazem da China um paraíso para os capitalistas, que arrancam dos trabalhadores uma taxa de mais-valia quase única no mundo inteiro. Muitas maquiladoras, inclusive, estão abandonando o México e trocando o Nafta pelas vantagens oferecidas pela China. Isso explica o baixo custo de suas exportações. É possível dizer, sem exageros, que os produtos “made in China” são fabricados por uma das classes trabalhadoras mais exploradas do planeta.

Mas é claro que isso passa ao largo das preocupações de Lula e de sua comitiva. O programa do Partido dos Trabalhadores tem promovido um bombardeio na mídia, dizendo que a viagem de Lula é para “ajudar o Brasil” a promover “nossas” exportações. Mas quem se beneficia realmente com as “nossas” exportações? No ano passado, os maiores beneficiados foram a turma do agronegócio, que exportou mais de US$ 45 bilhões. Nos primeiros dias da visita de Lula, a Companhia Vale do Rio Doce – controlada por uma multinacional – faturou um contrato de US$ 2 bilhões. O governo espera que o aumento do faturamento das exportações chegue a US$ 82 bilhões este ano. Quem vai sair lucrando com essa história toda? Um punhado de grandes multinacionais, empresários e latifundiários. Nenhum desses investimentos vai significar a melhoria das condições de vida do povo trabalhador.

O arrocho e o desemprego continuarão porque Lula vai manter a política econômica do FMI. Só a ruptura com esse modelo vai propiciar uma melhoria real nas condições de vida dos trabalhadores.

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