Conlutas recolhe dinheiro de trabalhadores que constroem novo Centro da Petrobras, no Rio de Janeiro, em greve desde o dia 9A campanha de solidariedade aos trabalhadores do Haiti teve um de seus momentos mais significativos em um canteiro de obras. No dia 10, no segundo dia de sua greve, os operários que constroem as instalações do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Miguez (Cenpes), da Petrobras, recolheram dinheiro para enviar aos trabalhadores do Haiti.

A iniciativa foi proposta pela Conlutas, que está apoiando a mobilização. Júlio Condaque, o Julinho, apresentou a proposta na assembleia. “Foi muito bem aceita. Havia cerca de 500 pessoas e todos aplaudiram muito e depois contribuíram com a sacolinha”, afirmou. Julio, que faz parte do movimento Quilombo Raça e Classe, da Conlutas, fez um paralelo entre a situação do povo haitiano e a exploração dos operários. “Como os haitianos, eles estão pedindo água para beber, nesse calor que está o Rio de Janeiro. Por incrível que pareça, esse é um dos pontos da greve” .

Julinho falou do salário miserável que os haitianos recebem, e de como o imperialismo pretende ocupar o país para manter a mão-de-obra barata. Ele comparou com o salário pago aos operários da construção civil. “A maioria dos trabalhadores daqui são jovens, que, sem opção, deixam suas casas no norte e no nordeste do país e recebem um baixo salário no canteiro de obras”. Julinho exigiu a retirada das tropas de ocupação e falou ainda da importância de praticar uma solidariedade de raça e classe com o povo negro do Haiti. “Nas obras, a maioria absoluta é de negros e negras” , lembrou.

Uma pequena quantia, um grande gesto
Ao todo, foi recolhido pouco mais de R$ 250. Incluindo muitas moedas, até de dez centavos. “Se você tivesse avisado antes, eu teria trazido mais dinheiro. Vim só com o da passagem” , era o que muitos diziam, conta Julinho. “Muitos perguntaram quando a gente iria voltar, para trazer dinheiro” , conta.

“Mesmo com o valor baixo, o importante foi o gesto, a solidariedade de classe. Não teve ninguém reclamando e quem deu moedas era porque não tinha mesmo mais nada no bolso” , diz Julio.

A importância desse tipo de contribuição individual, por menor que seja, foi destacada por Zé Maria, da coordenação da Conlutas, em um debate no Fórum Social Mundial. Após uma primeira fase da campanha de contribuições feitas pelos sindicatos, agora começa a fase de recolher doações de cada trabalhador, nos locais de trabalho, nas escolas e universidades. “Essa segunda fase tem uma importância fundamental, não só financeira, mas também política, educativa. É decisiva” , apresentou Zé Maria. “Que todos possam contribuir. Que seja 1 real, que um trabalhador, um estudante possa tirar do bolso e mandar ao Haiti. É pouco financeiramente. Somando o de todo mundo, vai ser muito. Mas, politicamente, é ainda mais importante. Vamos estar construindo o futuro, a consciência, da nossa classe, da nossa juventude.” , afirmou.

Zé Maria emocionou-se ao destacar o espírito de solidariedade que a Conlutas tem encontrado junto aos trabalhadores, principalmente entre os que mais necessitam. “O trabalhador, quando compreende uma situação, ele reage”. Como se estivesse falando dos operários das obras do Cenpes, ele afirmou: “Quanto mais pobre, mais ele ajuda, proporcionalmente. É assim que funciona”.