O Portal do PSTU conversou por telefone com a egípcia Amal Sharaf, dirigente do movimento 6 de Abril. Formado em 2008 para apoiar as greves dos operários têxteis de Mahalla, o movimento é um dos maiores articuladores das manifestações que levaram à queda do ditador Hosni Mubarak há duas semanas. Denunciando o pouco caso que a Junta Militar que assumiu o poder tem feito com as demais reivindicações democráticas do movimento, a direção convocou novos atos para essa sexta-feira. Novamente, centenas de milhares de egípcios encheram a praça para o que chamara de “Dia da Limpeza: proteger a revolução!”. Ao final do dia, além da praça, ocuparam também o entorno do gabinete do primeiro-ministro Ahmed Shafik, outro dos vestígios do regime de Mubarak que eles também exijam que caia. Leia a entrevista.

Luiz Gustavo Porfírio – Como está a direção do movimento 6 de abril se relacionando com outros movimentos e o que está planejando para as próximas etapas?
Amal
– Nós estamos organizando um ato para amanhã [sexta-feira, 25/2]. Nós não vamos sair da Praça Tahrir enquanto nossas exigências não forem atendidas, pois pensamos que o governo está muito devagar nisso. Esse governo ainda está atuando sob a Lei de Emergência, o aparato da segurança do Estado ainda está ativo, não se consegue ver mudança nas principais questões.

Os outros movimentos também estão integrando esse chamado?
Amal
– Sim, toda a Coalizão da Juventude [da Revolução] está apoiando: 6 de Abril, a [Juventude da] Irmandade Muçulmana, HASHD (Movimento Popular Democrático por Mudança), Gabha (Frente Democrática) e o grupo Khalid Said. Todos decidimos que não vamos sair da Praça Tahrir.

O que você pensa que a Junta Militar pretende fazer sobre o movimento? Por que os detidos não foram libertados ainda?
Amal
– O que eu penso é que pegaram o país numa situação péssima: regime corrupto, polícia corrupta… Eles têm lá suas desculpas, mas eu penso que eles protelam o cumprimento de nossas exigências. Eles dizem que tudo está corrompido e precisam de tempo para sanar, mas não penso que sirva para explicar algumas coisas, como não ter libertado os detidos, por exemplo, ou não ter montado um ministério, um governo como pedimos. Então há coisas que deveriam ser feitas e eles não fizeram. E há outras coisas que precisam de tempo, como a Constituição, por exemplo, não queremos que seja mudada até as 3 da madrugada de amanhã. Queremos uma Constituição correta, precisamos de eleição para isso. Há coisas que podem ser feitas agora, e não vemos motivos para que não as façam.

E o que o movimento 6 de Abril está fazendo sobre os movimentos de trabalhadores, as greves e demandas trabalhistas?
Amal
– Nós temos ligações com os movimentos, eles estão planejando uma nova central sindical pois a antiga é completamente corrompida. Eles farão sua própria central e acho que será um passo importante. Eles estão apoiando o movimento em Tahrir, muitos comparecem. Mas na maioria das vezes eles tocam o movimento deles por conta própria.

E o movimento nas universidades?
Amal
– A mesma coisa. Estão tentando organizar uma federação própria, os grupos de juventude estão se articulando para isso.

E há tratativas para criar um novo partido político para as próximas eleições?
Amal
– Até agora, da parte do 6 de abril, não há conversas para formar nenhum novo partido, não. Para nós, o movimento de libertação não acabou, só acabará com as próximas eleições presidenciais, se forem livres. Então discutiremos a formação de uma organização para monitorar as eleições e os partidos, para ser um grupo moderador. Um partido não é nosso plano agora.

A mídia continua sob assédio do governo egípcio?
Amal
– Sim, estamos tentando ajudar a mídia o máximo possível, mas o exército está proibindo a mídia de cobrir as novas manifestações na praça Tahrir, está barrando os jornalistas. Eu tinha três entrevistas com canais de notícias que não aconteceram porque eles não conseguiram entrar na praça.

Como o movimento vê a política do governo na fronteira com Gaza e os acordos com o Estado de Israel?
Amal
– Não queremos mudar nenhum acordo com país algum agora. Nada mudou na fronteira com Gaza.