Apesar do boicote da mídia e da truculência do governo Alckmin, greve se fortalece em sua terceira semana

Não teve chuva, assédio moral ou invisibilidade na imprensa que impedisse o crescimento da greve das professoras e professores do estado de São Paulo. A cada assembleia dobra o número de pessoas nas principais avenidas de São Paulo. Em 13 de março fomos cerca de 10 mil, no dia 20 passamos a ser 30 mil (as duas primeiras assembleias ocorreram sob forte chuva) e neste dia 27 já éramos cerca de 60 mil em uma gigante passeata pelas avenidas Paulista e Consolação, rumo à Secretaria Estadual de Educação, coloridas ora por guarda-chuvas, ora por cartazes. Sempre embaladas por palavras-de-ordem que desnuda a indignação de uma categoria que vem sofrendo há anos com a desvalorização e desmotivação.

A greve questiona fortemente Geraldo Alckmin (PSDB), que venceu as eleições de 2014 com 57,33%, em primeiro turno. Em suas promessas afirmava que não faltaria água e que Educação seria sua prioridade. Agora, os professores e as professoras estão nas ruas e estão determinados. A palavra-de-ordem mais cantada nesta última sexta-feira era: “Não tem arrego!”. A mesma palavra-de-ordem ouvida já na greve dos metroviários contra o mesmo patrão Alckmin!

Por salário, emprego e condições de trabalho
O governo de São Paulo apresentou 0% de reajuste salarial para o professorado em 2015 e cortou mais de R$ 1 bilhão das verbas da Educação. Um professor paulista tem defasagem de 75,33% em seu rendimento quando comparado à média salarial dos demais profissionais com Ensino Superior. O salário de quem não conseguiu ter o total de aulas atribuídas no início do ano e têm “estabilidade” de 12 horas/aula (Professor Categoria “F” que fica à disposição da escola para substituição de docentes quando não tem aulas atribuídas) é de R$ 724,50 por esta jornada. Se este for reajustado pelo índice reivindicado, os profissionais desta categoria receberão R$ 1.270,00. E cá para nós… quem vive com este salário? E, pior ainda, em meio ao aumento absurdo dos preços de energia, combustível e alimentos.  A situação é ainda mais cruel em uma categoria majoritariamente feminina que tem duplas e triplas jornadas.

Em dezembro de 2014 o governo descumpriu o acordo feito na greve de 2013, no qual se comprometia em não aplicar a “duzentena” aos contratados pela Lei 1093/09 (categoria O). Por esta famigerada lei, os professores temporários, após o término do contrato, ficam proibidos de trabalhar em qualquer pasta do Governo do Estado de São Paulo por 200 dias, exceto se ingressar por concurso público. Desta forma, mais de 20 mil professores foram demitidos.

Mas não parou por aí. Entre dezembro e janeiro o governo orquestrou a operação tesoura afiada: fechou mais de 3 mil salas em todo o estado, enquanto a categoria estava em suas férias divididas (sim! O governo dividiu as férias dos docentes: 15 dias em janeiro e 15 dias em julho). Isso foi possível fechando o noturno em centenas de escolas e reduzindo turmas com a superlotação de salas. Resultado: no início do ano, durante a atribuição, não havia aulas suficientes sequer para todos os titulares de cargo (concursados). Há milhares de professores Categoria “F” e “O” sem nenhuma aula atribuída, desempregados ou subempregados. Por isso defendemos a estabilidade para todos pela jornada de opção do docente.

Indignação e greve
Condições de trabalho é o que não temos nas escolas públicas paulistas. Com o fechamento de milhares de salas, muitas das que restaram abertas estão abarrotadas. Há denúncia de salas com até 80 alunos matriculados. Com o corte de verbas as escolas iniciaram o ano de 2015 sem papel sulfite, giz ou papel higiênico. É fácil andar na periferia e encontrar as escolas sem quadras, destelhadas, com vidros quebrados, reformas e obras de escolas abandonadas ou mesmo escolas de lata. Este ambiente torna a escola um lugar hostil que não apaixona ninguém a querer aprender ou ensinar. Nestes espaços com esta desorganização, o governo estimula o desânimo, a falta de perspectiva e a violência.

Em meio à maior crise hídrica desde 1931, nas periferias da capital e da grande São Paulo o problema é mais sentido. Em dias em que o abastecimento não ocorreu no início do ano, professores foram orientados a pedir para que os alunos trouxessem garrafinhas cheias de casa e as escolas estavam proibidas de dispensar as aulas.

Quanto à saúde, o governo criou uma lei que limita as faltas médicas da categoria e persegue os professores nas perícias médicas. Os peritos são orientados a negar ou cortar as licenças médicas. Devolvê-los para sala de aula, contra a vontade dos médicos que os afasta. Isso acontece até com professores em tratamento contra câncer, com sérios problemas psiquiátricos ou cardíacos, muitos deles adoecidos pelas péssimas condições de trabalho. Estes são apenas alguns motivos de indignação que levaram a categoria à greve. Há outros em uma gigante lista, expressos nos cartazes das passeatas, reclamando aposentadoria, assédio moral, contra a Escola de Tempo Integral privatizante, valor de ticket alimentação, etc.

Nossa luta furou o bloqueio da mídia e abriu negociação
O governo tem mostrado intransigência e autoritarismo.  Tem tentado coibir a entrada dos comandos de greve nas escolas e orientou a substituição de grevistas, juntar alunos de várias turmas em uma única sala de aula, convocar por telefone os alunos para estudar, além de afixar cartazes nos portões informando que as aulas estão “normais”.  Para cumprir este papel conta com o apoio da mídia que tentou invisibilizar nossa luta. Não conseguiu. No início da greve, Alckmin veio à imprensa dizer que nossa luta era mais uma “novela” que acontece todo ano, tentando nos desqualificar. Mas a reação da categoria, em luta, tem sido outra: a greve está recompondo a moral da categoria. Teremos uma primeira audiência com o Secretário da Educação, Hermann Voorwald, nesta segunda-feira, dia 30. Ter esta primeira reunião já é uma conquista da categoria frente a um governo que dizia que não havia greve e que não negociaria nela. Não depositamos nenhuma confiança neste governo. Por isso, milhares farão vigília durante a reunião para pressionar pelo atendimento de nossa pauta de reivindicações.

Que os ricos paguem pela crise: todo apoio aos professores
Esta era a frase de uma faixa estendida na fachada de um prédio na Avenida Consolação muito aplaudida nas nossas três passeatas. A greve acontece em um contexto de insatisfação geral dos trabalhadores que estão sentindo arrocho, carestia, tarifaço, desemprego e retirada de direitos vindos dos patrões e governos. Ao conhecer de perto a realidade da categoria, a população imediatamente apoia o movimento.

Dilma também ataca a educação e não nos representa.
Dilma anunciou no discurso de posse que o lema de seu governo será “Brasil, Pátria Educadora”.  E foi justamente da pasta da Educação o maior corte realizado (mais de R$ 7 bilhões). Assim como Alckmin, Dilma manteve seu compromisso com os banqueiros que levam 47% do orçamento do país. Se fosse pouco atacou os trabalhadores que mais precisam dificultando o acesso ao seguro-desemprego, ao PIS, a pensão por morte e ainda quer aprovar a Medida Provisória da terceirização que ataca ainda mais os direitos trabalhistas.

Por esse motivo, no dia 13 de março após os professores aprovarem o início de nossa greve, cerca de 2/3 dos participantes saíram em passeata se recusando a participar do ato em apoio a Dilma, promovido pela CUT e outras entidades. A marcha dos professores e professoras se posicionou contra Dilma do PT e seus ataques aos trabalhadores e contra o Alckmin do PSDB que também ataca os trabalhadores.  Os professores não apoiaram nem o ato pró-Dilma do dia 13 e nem ato pró-impeachment do dia 15, pois também não temos nenhuma confiança na oposição de direita.

Construir a Greve Geral
Os professores estão fazendo sua luta para construir um campo distinto do governo Dilma e da oposição de direita. Defendemos a construção de uma Greve Geral nesse país, pela pauta dos trabalhadores, que derrote o ajuste de Dilma e dos governadores, que exija a prisão e confisco de bens de corruptos e corruptores. Nossa luta se fortalece e nesse momento que professores do Pará, Roraima e Santa Catarina estão em greve, e após o exemplo de luta dos trabalhadores em educação do Paraná, temos unificar nossas lutas.  É no calor destas lutas, junto com os estudantes que construímos o 26 de março – dia Nacional de luta em defesa da Educação Pública!

Nossa luta é a defesa de uma escola pública gratuita e de qualidade para os filhos e filhas da classe trabalhadora. É urgente 10% do PIB já para a escola pública.

Chega de Dilma , PT, PSDB e PMDB. Só nossa luta pode garantir melhoria da educação e preservação de nossos direitos!

Eliana Nunes é professora de Língua Portuguesa, da executiva da APEOESP eleita pela Oposição Alternativa/CSP-Conlutas e militante do PSTU