Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Redação

“Não vou ser mulher de malandro para ficar apanhando e achando bom”, disse Rodrigo Maia durante evento em Brasília

Em meio ao festival de absurdos a que estamos submetidos, em que a declaração mais estapafúrdia de um ministro ou do próprio presidente já não causam tanta comoção, uma em especial deveria ter tido mais atenção.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que não vai ser “mulher de malandro para ficar apanhando e achando bom“, referindo-se aos ataques que vem recebendo por parte dos apoiadores de Bolsonaro enquanto é escalado pelo próprio governo para fazer a articulação em torno da reforma da Previdência no Congresso. A plateia formado quase que exclusivamente por homens engravatados, representantes do mercado financeiro e empresários, riu.

A fala ocorreu durante o evento realizado pelos jornais O Globo e Valor Econômico, “E agora Brasil?”, na capital federal nesse dia 8 de abril. Contou também com a presença do ministro da Economia, Paulo Guedes, que na semana anterior havia perdido as estribeiras ao ser chamado de “thuthuca” dos banqueiros, após uma tarde inteira de duros ataques.

Para contextualizar a fala: Maia discursava sobre as dificuldades de formar uma base para a aprovação da reforma e a necessidade da entrada mais firme e comprometida de Bolsonaro nas negociações. “O presidente da Câmara coordena 512 deputados, todos iguais. Eu recebo na residência da Câmara 50, 60 deputados. É diferente ser presidente da Câmara e presidente da República no sistema presidencialista. Só não vou ficar no meio dessa briga levando pancada da base do presidente. Não vou ser mulher de malandro, de ficar apanhando e achando bom”, disse.

É sintomático que a fala machista do presidente da Câmara tenha sido dita para defender uma reforma que ataca os direitos e condições de vida, sobretudo, das mulheres pobres e trabalhadoras. A expressão “mulher de malandro gosta de apanhar” culpabiliza as mulheres vítimas da violência machista. É a mesma coisa que dizer que determinada mulher foi estuprada por usar roupa curta, por exemplo.

Mas não seria “só” uma expressão, sem um sentido propriamente machista? O problema é que são exatamente essas expressões, essas piadas, essas “brincadeiras” aparentemente inocentes, que perpetuam o machismo em nossa sociedade, reforçando um senso comum que dá base para a violência “real”. E essa violência cresce a cada dia. Só para se ter uma ideia, os casos de feminicídio dobraram em São Paulo no primeiro bimestre deste ano em relação ao período anterior.

Não podemos deixar esse tipo de coisa passar “batido”, principalmente num momento em que a violência e a barbárie machista se faz presente cada vez mais no dia-a-dia das mulheres.