Otávio Calegari é militante do PSTU e integra um grupo de estudantes da Unicamp que está no Haiti realizando pesquisa de campo. Acompanhe o relato do estudante que testemunha o sofrimento do povo haitiano e a completa omissão da Minustah.“Hoje (dia 13) o nosso grupo ficou a maior parte do tempo dentro de casa. Eu mesmo não saí. Varias pessoas que saíram e passaram por aqui trouxeram notícias.

Na parte da manhã, ouvimos vários tiros. Parece que a polícia continua bastante agitada para defender os locais com mais mercadorias (que são poucos, diga-se de passagem). Pela tarde, chegou um dos rapazes da ONG Viva Rio de Bel-Air, o bairro central e um dos mais pobres da capital. Ele disse não ter visto qualquer carro da Minustah na rua. O que ele viu foi um cenário de bastante devastação, tiroteios e muita gente nas ruas.

Em frente à casa que estamos hospedados há dezenas de pessoas. Parece que um dos vizinhos aqui é membro da OEA. Ele armou uma barraquinha e as pessoas passam o dia todo debaixo dela. O que vimos aos arredores foram pessoas sentadas conversando.

No fim da tarde um de nós saiu junto com um rapaz do Viva Rio que já morou vários anos aqui e conhece uma parte do centro. Eles gravaram algumas entrevistas com haitianos, que disseram estarem totalmente abandonados. Também viram bastantes pessoas se ajudando – tirando pessoas de escombros e colocando em frente a um posto dos Médicos sem Fronteiras. O clima estava mais tranqüilo.

Durante todo o dia demos entrevistas para diversos canais – nacionais e internacionais. Omar, o professor que nos orienta na pesquisa, deu uma entrevista para Folha de S. Paulo. Ele também escreveu um artigo bastante interessante que a Folha disse que publicará amanhã (dia 14).

Agora à noite o clima parece mais tranqüilo. Há dezenas de pessoas em frente a nossa casa conversando, dormindo, cantando, rezando. Inclusive vieram, após um dos tremores de hoje, nos convidar a nos juntarmos a eles, já que é perigoso ficar dentro de casa. Quando mostramos que estávamos dormindo no jardim eles ficaram mais tranqüilos.

Amanhã sairemos logo cedo para ir até a sede do Viva Rio em Bel-Air. Parece que há centenas de haitianos dormindo lá e eles também estão prestando auxílio, dando água e outras coisas na medida do possível. No momento em que estamos o que mais falta é uma direção para organizar qualquer iniciativa.

Estamos numa situação privilegiada. Apesar de termos muita gente na casa e a comida ir muito rápido. Hoje conseguimos comprar alguma coisa através de haitianos que trabalham pro Viva Rio e temos água para pelo menos mais um dia. A energia é um problema, pois temos de comprar diesel para abastecer o gerador e ainda não sabemos como fazer isso.

A cada dia avaliaremos as condições de permanecermos aqui. Caso a coisa se complique mesmo com relação a comida, energia e outras fontes, acredito que nosso trabalho aqui ficará impossibilitado.”

  • Leia o blog do grupo de estudantes no Haiti