Presidentes da Câmara e do Senado estarão no 1º de maio das centrais Foto: Marcos Corrêa/PR
Atnágoras Lopes

O 1º de Maio se impôs no mundo capitalista como um dia internacional de luta da classe trabalhadora, e isso é uma conquista histórica. “Oito horas de trabalho, oito horas de descanso e oito horas de estudo”, esta foi uma das marcas registradas da luta que originou esta data.

Após a greve de 1886 em Chicago, que teve muitos operários presos e alguns assassinados pela repressão, a luta e a conquista pela redução da jornada de trabalho, que chegava a 17h diárias, foi se tornando uma conquista real pelo mundo afora. Três anos depois, num congresso de operários franceses, a data foi elevada e marcada em homenagem àquela greve. E até hoje o 1º de Maio é tomado por manifestações classistas, muitas delas anticapitalistas e até defensoras de uma sociedade socialista como uma necessidade de lembrar nossos mártires, defender as conquistas históricas e apontar caminhos que permitam libertar a classe trabalhadora do jugo da exploração e opressão capitalista.

Neste ano, numa ofensa a essa tradição e num sentido oposto às necessidades de nossa classe, as maiores centrais sindicais brasileiras como CUT, Força Sindical, CTB, UGT, NCST, dentre outras, resolveram se juntar no mesmo palanque com uma série de algozes que, nessa conjuntura, são diretamente responsáveis pelas mazelas que estão submetidas o nosso povo trabalhador e, em pleno o 1º de maio, vão realizar um ato que dizem ser um ato em ”comemoração ao dia dos trabalhadores”.

Isso justamente quando o conjunto da nossa classe sofre com a política genocida de Bolsonaro, Mourão e Guedes, com quase 400 mil vítimas pela Covid-19, sem vacina, com um desemprego avassalador, sem auxílio emergencial e sem qualquer ajuda consistente aos pequenos comerciantes, com a fome atingindo dezenas de milhões pessoas e o preço dos alimentos e combustíveis nas alturas, além dos ataques permanentes aos direitos trabalhistas, sociais e ameaças às nossas liberdades democráticas. Não em nosso nome! A CSP-Conlutas não será parte de uma coisa desse tipo!

Diante desta infeliz e consciente decisão da cúpula dirigente dessas centrais, pois não cremos ser esse o pensamento de grande parte dos trabalhadores e das entidades de base que representam, nós da CSP-Conlutas estamos convocando, juntamente com Intersindical – Instrumento de Luta, um outro ato nesse 1º de maio. Sim, um ato classista, de luta e internacionalista. Nesse ato sem patrões e sem governos, ergueremos as bandeiras em defesa de um “lockdow nacional, com auxílio emergencial de pelo menos R$ 600,00 e apoio financeiro aos pequenos proprietários do campo e da cidade”; “Vacina para todos, com quebra das patentes e fortalecimento do SUS”; “Defesa do emprego, direitos e contra as privatizações”; “Contra a reforma Administrativa e em defesa dos serviços e servidores públicos”, bem como de nossa luta por “despejo zero, nas ocupações urbanas ou rurais”.

Nossa decisão se dá em honra às tradições do surgimento do 1º de Maio e, por conseguinte, também serve como forma de denunciar esse desserviço praticado pela direção das demais centrais sindicais brasileiras, principalmente por optarem a dar ao seu ato o caráter de uma unidade nacional com setores e projetos burgueses em meio ao caos social que nossa classe está vivenciando. Isso é inaceitável.

Nesse último período foram muitos os momentos em que pudemos unificar todas as onze centrais sindicais brasileiras em torno a uma ou mais pautas comuns e atuarmos em ação conjunta. Isso foi e ainda será importante e necessário em nossa luta contra esse governo e esse Congresso na luta em defesa dos interesses imediatos de nossa classe. Mas aqui, sobre que o estão fazendo no 1º de Maio, trata-se de opção política vergonhosa e que não tem nada a ver com a defesa das necessidades mais sentidas de nosso povo, nada. Por esse motivo não poderíamos compor tal iniciativa. Trata-se de um erro muito grave.

Os companheiros convidaram dezenas de governadores e parlamentares de todo tipo, membros de instituições do Estado, como os presidentes da Câmara e do Senado e um longo etc. O que essa gente tem a ver com a defesa de nossa classe neste momento se são eles os algozes que hoje nos imprimem uma agenda de retirada de direitos e empurram o nosso povo à fome, ao desemprego, à miséria e à morte? Por que e para que fizeram isso, ainda mais no 1º de maio?

Opinamos que fazem isso pelo distanciamento ou mesmo pelo consciente abandono de uma estratégia classista do papel que devem cumprir, contra o capitalismo, as organizações de nossa classe. Esse tema já é uma diferença e um debate presente ao longo da história da luta de classes e das organizações do movimento, porém, a atitude unitária de nove centrais sindicais, incluindo as maiores, de construírem este 1º de Maio junto com a burguesia nacional, nessa dura conjuntura para a vida de nossa classe, sinaliza uma submissão à ordem do Capital que deseduca e desmoraliza a nossa classe. Contribui para sepultar os sonhos, a necessidade e a possibilidade de superarmos o capitalismo e construirmos um mundo justo, fraterno, igualitário e socialista e esse é um forte motivo pelo qual nossa central não poderia corroborar com essa infeliz atitude.

Convidamos todas as lideranças e organizações do movimento sindical, popular, de juventude, movimentos de luta contra as opressões, culturais, coletivos e partidos políticos comprometidos com a defesa da vida e dos direitos de nossa classe, dispostos a fortalecer a luta imediata para botar para fora já Bolsonaro e Mourão, a virem fortalecer nossa iniciativa de construção de um ato classista, de luta e internacionalista, nesse 1º de Maio. O fortalecimento deste ato alternativo à conciliação de classes e ao projeto de unidade nacional com a burguesia brasileira é um gesto necessário, pois, além de apontar o caminho da unidade de ação da classe trabalhadora contra as mazelas impostas às nossas vidas, nos permite honrar, com coerência e amor de classe, a vida dos que tombaram e tombam, desde Chicago em 1886 até os dias hoje, na luta contra o capital e em defesa do socialismo.

Vamos juntos!

Membro da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas/ Central Sindical e Popular