A reunião promovida pela Presidência da República com lideranças das centrais sindicais em São Paulo, nesta segunda feira, acabou se transformando em uma lamentável sessão de bajulação explícita sem nenhum tipo de serventia para a classe trabalhadora brasileira. Para o governo com certeza foi útil, passou a impressão que suas políticas, em particular a reforma da Previdência, tem o apoio dos trabalhadores.

Dois aspectos merecem destaque no episódio: O primeiro tem a ver com o suposto “debate democrático” que o governo estaria promovendo com a
sociedade. O governo não está negociando uma proposta com os trabalhadores, mas apenas penduricalhos de uma proposta já fechada. Além disso, nas reuniões com sindicalistas, realizadas até agora pelo Ministro Ricardo Berzoini, depois de uma imensa exposição do “diagnóstico” da situação da Previdência Social, abria-se a palavra para que os dirigentes pudessem falar por 1 ou 2 minutos para “expressar” sua opinião (em Minas Gerais não houve sequer esse espaço). Na reunião desta segunda feira nem isso aconteceu.

Escolheu-se a dedo, com antecedência, quem teria direito a palavra na reunião, para que o presidente ouvisse apenas elogios e tietagens de todo o tipo. Dirigentes da CUT que tinham opinião crítica às propostas apresentadas, foram impedidos de expressar sua opinião por um acerto entre governo e a direção da CUT.

Mas há um aspecto ainda mais grave. Em nome de quem dirigentes da central
apoiaram a proposta apresentada pelo governo, ao ponto de só aparecer
divergência acerca do valor a ser estabelecido para o teto da aposentadoria?
O presidente da CUT chegou a falar na reunião que “esta é a reforma da
previdência que a nossa Central sempre defendeu”. Ora, em nome de quem fala o presidente da CUT? Em nome da direção da Central não é. Não houve nenhuma reunião da Executiva ou do Secretariado da CUT que o autorizasse a fazer uma declaração como essa. As deliberações que a Central tem sobre o tema exigem claramente a revogação das medidas constantes da emenda 20 aprovada no governo anterior (restabelecendo a aposentadoria especial para quem trabalha em ambiente insalubre ou de alta periculosidade; a volta da aposentadoria por tempo de serviço ao invés de contribuição; revogação do “fator previdenciário”; uma política agressiva de correção do valor dos benefícios pagos aos trabalhadores da iniciativa privada; a defesa da Previdência pública; a manutenção dos direitos dos servidores públicos; etc). Nada disso está presente na reforma proposta pelo governo.

Mas se não está falando em nome da direção da Central, quem sabe o nosso
presidente fala em nome da base da CUT? Também não. A assembléia da Apeoesp, o sindicato dos professores da rede pública do estado de São Paulo, ao qual pertence o presidente da nossa Central, votou em assembléia concorrida (com mais de 3 mil trabalhadores) neste dia 11 de abril, uma declaração de guerra à proposta de reforma apresentada pelo governo. Os servidores públicos federais, representados em sua grande maioria pela CUT também estão em guerra contra essa reforma da Previdência. Os trabalhadores da iniciativa privada não tiveram nenhuma de suas reivindicações aceitas pelo governo na composição da sua proposta de reforma da Previdência. Então, em nome de quem fala o presidente da CUT?

Na verdade, o que estamos assistindo é uma prévia daquilo que se prepara para a nossa central no Congresso que acontece no início de junho. A indicação de Lula – aceita pela cúpula do setor majoritário da nossa Central – para que Luís Marinho venha a presidir a CUT, objetiva transformá-la em uma central “Chapa Branca”, de apoio ao governo.

No entanto, uma coisa é calar a voz da oposição em um evento controlado como o que ocorreu nesta segunda feira. Outra coisa é calar a base da nossa central. A luta dos trabalhadores vai continuar, e vai se enfrentar com o governo buscando derrotá-lo, caso ele não recue das políticas que tem defendido até agora. O papel das nossas organizações – a CUT em primeiro lugar – deve ser o de estar ao lado da sua base, a serviço dessas lutas, para que se mantenham os direitos dos trabalhadores, para que haja emprego, salário digno e reforma agrária.

Zé Maria é 1º tesoureiro da Executiva Nacional da CUT, e também presidente nacional do PSTU

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