Por vezes, é necessário nadar contra a corrente. Neste momento, em que existe um bombardeio incessante da mídia santificando João Paulo II na sua morte, nós levantamos uma voz dissonante, uma bandeira distinta. Não choramos sua morte como faríamos com a de um lutador dos movimentos sociais contra a exploração capitalista, tivéssemos ou não acordo político com ele.

Respeitamos os trabalhadores e jovens religiosos que vivem este momento com consternação. Respeitamos sua religião, sua tristeza. Este não é, porém, o tipo de morto pelo qual choramos.

Lembramos de um episódio ocorrido no Peru, na década de 70. Hugo Blanco, um revolucionário peruano, tinha sido eleito parlamentar. Depois de um ataque terrorista que matou alguns policiais, executado por um grupo com o qual Blanco não tinha nada a ver, foi realizada uma sessão no Congresso peruano em homenagem aos mortos, com a presença dos parentes dos policiais, e todos os parlamentares se levantaram apoiando o ato. Todos, menos um: Hugo Blanco. Enfrentando o ambiente adverso, Blanco tomou a palavra para afirmar que respeitava o sentimento dos parentes ali presentes, mas disse que aqueles não eram os mortos do movimento, mas do aparelho policial.

Choramos pelos mortos na revolução nicaragüense, que o papa combateu junto com Reagan. Choramos pelos que morrem de fome depois da restauração do capitalismo no Leste europeu, apoiada por João Paulo II. Nós choramos os mortos da ditadura argentina, que foi apoiada pela Igreja daquele país. Choramos pelos que morrem de AIDS, quando o Vaticano condena o uso de camisinhas.

Nós não somamos ao ôba-ôba da imprensa, ao espetáculo da mídia. Não somamos ao PT e PCdoB que renegam mais uma vez sua origem de esquerda para louvar o papa. Nós nos educamos em um sentido de classe, socialista e revolucionário, que sabe nadar contra a corrente quando é necessário.

Post author Editorial do jornal Opinião Socialista 213
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