Na manhã seguinte à votação do aumento do salário mínimo na Câmara dos Deputados, a reportagem do Opinião conversou em um canteiro de obras da Aldeota, bairro nobre da capital cearense. Diante da indignação dos trabalhadores com o aumento ridículo do mínimo, um de nossos camaradas perguntou: “Sabe de quanto foi o aumento dos parlamentares? Sessenta e dois por cento. Esses mesmos 62% aplicados ao salário mínimo dariam em torno de R$ 826. Agora eu pergunto, dá pra uma família viver com pouco mais de R$ 800 sem ter que fazer uma hora extra sequer?”.

Enquanto a maioria respondia “não” a uma só voz, um servente falou: “Agora imagina com R$ 545, não dá pra viver”. E o companheiro tem toda razão. É um grande exercício de abstração imaginar uma família de trabalhadores vivendo dignamente com R$ 545.

A votação do mínimo, além de demonstrar a “força” do governo Dilma, também cumpriu o papel de dar a senha aos empresários para determinar o índice de aumentos de salários. Na mesa de negociação salarial, os mesmos 6% foram apresentados como o limite da patronal, e a única cláusula a mais que os patrões da construção civil se dispuseram a discutir foi sobre fardamento. Isso em um setor que cresce tanto na cidade que chega a importar mão de obra de outros lugares do país, e até mesmo de fora.

Dinheiro não faltou nos bolsos deles nos últimos anos e, pelo que tudo indica, não faltará nos próximos, tendo em vista as inúmeras obras que serão realizadas até a Copa do Mundo de 2014. Mas, como estão seguindo a orientação da presidente, não se dispõem a negociar nada além de míseros 6%.

A indignação com que o ridículo aumento do mínimo foi recebido pelos trabalhadores está sendo minúscula quando comparada ao limite imposto pela patronal. Principalmente quando se leva em consideração o aumento do custo de vida sentido pelos trabalhadores em Fortaleza.

No último dia 23, a prefeitura petista, seguindo a onda nacional de reajuste na tarifa de transporte coletivo, anunciou um aumento de 11,1% na passagem de ônibus. Assim, dos R$ 35 a mais no mínimo nacional, pelo menos R$ 8 irão para os donos das empresas de ônibus da cidade. Se somarmos isso à variação da cesta básica, que em Fortaleza foi de 23,08%, o que sobra do que já era muito pouco é praticamente nada.

É nesse cenário que se abre a campanha salarial de uma das categorias mais combativas na capital cearense, a construção civil, e parece que uma forte greve se aproxima.

Post author Giambatista Brito, de Fortaleza (CE)
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