No dia 27 de novembro o Frei Dom Luiz Cappio retomou de forma heróica sua greve de fome em Sobradinho (BA), contra o projeto de Transposição do Rio São Francisco imposto pelo governo Lula. O Frei tomou tal medida extrema após ser traído e enganado pelo governo, que havia prometido, através do governador Jacques Wagner (PT), paralisar as obras e dialogar com a sociedade sobre um projeto de desenvolvimento para o Nordeste.

O primeiro jejum de Cappio ocorreu em 2005 e durou 11 dias. Terminou com um acordo realizado com o governo. Com o descumprimento do acordo, o Frei afirmou que Lula “enganou a nós todos”. Dom Luiz enviou em outubro uma carta a Lula, indignado com o início das obras de transposição pelo exército. “O senhor não cumpriu sua palavra. O senhor não honrou nosso compromisso. Enganou a mim e a toda a sociedade brasileira”, afirma.

“Se todo mundo fosse fazer greve de fome por alguma coisa, ficaria complicado”, chegou a afirmar Lula. Por “alguma coisa”, leia-se, o projeto de transposição que ameaça o rio de cuja existência depende o sustento de inúmeras famílias. O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira (PMDB), também foi a público atacar a atitude do frei, tentando desmoralizar o protesto. No entanto, Cappio mantém-se firme em sua decisão de prosseguir com a greve de fome até o fim. Enquanto fechávamos essa edição, o frei completava quase uma semana sem comer, ingerindo apenas água.
Além da visita de religiosos e ativistas dos movimentos sociais, a greve de fome ganhou novos adeptos, como integrantes do grupo católico “Legião de Maria”. Movimentos como o Grito dos Excluídos de São Paulo, a Pastoral Operária, o MST, o Movimento dos Atingidos por Barragens e a Pastoral da Terra declararam apoio ao frei. A Coordenação Nacional de Lutas, a Conlutas, divulgou uma nota de apoio incondicional ao protesto do Frei Cappio, chamando à unidade e mobilização contra o projeto de transposição.

“Nesse momento é necessário organizar e intensificar as mobilizações de rua em todo lugar onde for possível, em solidariedade ao frei e contra a transposição. É preciso fortalecer o comitê de solidariedade em torno do Frei Luiz Cappio reunindo o maior número de movimentos sociais para preparar e organizar as ações“, afirma a nota da Conlutas.

A traição de Lula e a ruptura unilateral das negociações mostram a quem serve este governo, ou seja, aos grandes latifundiários e usineiros, únicos setores que se beneficiarão com o projeto. Não podemos vacilar neste momento. Só poderemos derrotar esse projeto derrotando o próprio governo.
A vida de Frei Cappio está nas mãos de Lula. Mas ele não está só. É necessário o mais amplo apoio ao protesto do Frei e à luta contra a transposição do Rio São Francisco.

Post author CARLOS sEBASTIÃO “CACAU”, de Belo Horizonte (MG)
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