Nem dia 13, nem dia 15: PT e PSDB não nos representam


No discurso da presidente Dilma, em 8 de março, ela comparou o país a uma família. Disse que, às vezes, somos obrigados a controlar os gastos para que as contas não saiam do controle. Disse que a crise internacional atingiu o Brasil mais fortemente, e o governo foi obrigado a usar armas diferentes e mais duras, mas garantiu que as medidas que seu governo está adotando preservam direitos e asseguram conquistas sociais que estão igualmente distribuídas sobre todos os setores segundo ela. Disse, ainda, que a seca é responsável pelo aumento temporário dos alimentos e pelos custos da energia.
 
“Isso traz reflexos na sua vida e você tem direito de se indignar e de se preocupar”, disse a presidente. E continuou: “peço sua paciência e compreensão”. Por fim, pediu que confiemos na condução do governo e do Congresso. Isso mesmo: pediu que confiemos nesse Congresso corrupto, em que a maioria dos parlamentares teve sua campanha milionária financiada por empreiteiras, e os presidentes do Senado e da Câmara estão na lista da operação Lava-Jato.
 
O discurso de Dilma gerou mais indignação. Primeiro, porque não é verdade que suas medidas preservam conquistas dos trabalhadores. Menos ainda que os sacrifícios estão distribuídos de forma igual. A crise não foi criada pelos trabalhadores, mas pelos capitalistas. Em segundo lugar, o governo Dilma, com suas medidas, está tirando dos pobres para dar aos ricos. Está retirando conquistas sim!
 
A mudança nas regras do seguro desemprego, do PIS, da pensão por morte, entre outros, atinge gravemente os setores mais pobres da classe trabalhadora, bem como o aumento do preço dos alimentos e das tarifas. E quanto mais pobre for, mais prejudicado será, além de atingir também setores médios. Os cortes nas verbas da saúde e da educação atingem, especialmente, a juventude trabalhadora. Há, ainda, as demissões em massa nas obras da Petrobras e na indústria.
 
Na verdade, Dilma quer economizar cerca de R$ 66 bilhões este ano com os cortes no Orçamento (1,2% do PIB) para aumentar o superávit primário (economia para pagar juros da dívida, que hoje já consomem 47% do Orçamento do país). Além disso, garante mais remessa de lucros e privatização da Petrobras pelas multinacionais. Resumindo, governo e Congresso, com o apoio da oposição de direita (PSDB), concordam em jogar nas costas dos trabalhadores o preço da crise para preservar os lucros indecentes de banqueiros e grandes empresários.
 
Impeachment é trocar seis por meia dúzia
O sentimento de indignação dos trabalhadores com o governo do PT é mais do que justo. Indignados, muitos querem o “Fora Dilma”, e acabam caindo na armadilha do impeachment. Mas o impeachment é, na verdade, uma alternativa de direita que entrega o poder para o vice-presidente Michel Temer ou, na impossibilidade desse assumir, para o corrupto e homofóbico Eduardo Cunha, presidente da Câmara, ambos do PMDB.
 
O PSDB e outros setores da oposição de direita aderiram à manifestação pelo impeachment do dia 15 de março. Porém o PSDB não defende o impeachment e até cogitou um pacto em defesa do ajuste fiscal. Esses setores defendem as mesmas medidas de ajuste fiscal em prol dos banqueiros e as aplicam nos estados em que governam. Que o digam o funcionalismo do Paraná e os professores de São Paulo. Esses mesmos governos e setores vão surfar na manifestação para tentar crescer eleitoralmente, em 2018, como espaço de oposição.
 
Por outro lado, CUT, CTB, MST, UNE e Consulta Popular convocam manifestação para defender o governo, no dia 13 de março, apesar de dizerem que se opõem às medidas contra os direitos. Alardeiam um golpe da direita que não existe para defender e tentar empurrar para a esquerda um governo que governa contra a classe trabalhadora. É preciso romper essa falsa polarização.
 
No dia 6 de março, a CSP-Conlutas e o Espaço Unidade de Ação realizaram um dia de luta que demonstrou ser possível construir um campo da classe trabalhadora, de esquerda e independente. A indignação dos trabalhadores precisa se converter em ação contra o governo, o Congresso, a oposição de direita, os corruptos e os patrões.
 
Não podemos aceitar pagar pela crise. Podemos derrubar essas medidas do governo, impedir as demissões e exigir o controle dos preços de alimentos e tarifas. Devemos defender a suspensão do pagamento da dívida aos banqueiros. Que cortem os salários dos deputados e ministros, coloquem na cadeia os corruptos e corruptores, expropriem os bens de todas as empresas envolvidas em corrupção e as estatizem.
 
Um chamado à unidade
CUT, MST, UNE, CTB, Consulta Popular precisam romper com o governo. Essas organizações têm cumprido um papel nefasto, que desarma a classe trabalhadora. Tentam aparecer como esquerda, mas defendem o governo. Inclusive, têm se reunido com setores do PSOL e do MTST para tentar construir um campo que, em essência, não se oponha ao governo do PT, dizendo que há ameaça de golpe no país.
 
A CSP-Conlutas está fazendo um chamado a essas organizações e demais centrais sindicais, como a Força Sindical, para que rompam as negociações com o governo e unifiquem esforços para realizar um dia de greve geral no país. O PSTU entende que o caminho e o calendário apontado pela CSP-Conlutas devem ser tomados pelas organizações de esquerda.