Espremida na parede, a elite boliviana articula golpes e divisão do paísNos últimos dias, a Bolívia voltou a explodir. Enfraquecido, o presidente Carlos Mesa não conseguiu nem mesmo impor a nova Lei dos Hidrocarbonetos, passou a batata quente para Poder Legislativo. Com isso, o imperialismo obteve o que queria: uma lei que garanta os negócios das multinacionais que exploram o gás boliviano, entre elas, a Petrobras. Em essência, é a mesma lei saqueadora aprovada por Gonzalo Sánchez de Lozada em 1997, e que foi um dos motivos centrais de sua derrubada pelas massas em outubro de 2003.

A nova lei cria um imposto de 32% para as multinacionais e assegura sua permanência no país, o que provocou um enorme protesto de todos os setores da população. Uma grande marcha cercou a sede do governo, exigindo a nacionalização do gás, enfrentando até mesmo a proposta de Evo Morales, do MAS (Movimiento al Socialismo), que quer somente aumentar os impostos para 50%. A cidade de El Alto, próxima a La Paz, entrou em greve geral, e a polícia e o exército cercaram pontos estratégicos do país, como o aeroporto de La Paz e a YPFB (a petroleira estatal).

Queda de braço
A maldição que assola a Bolívia é a necessidade das multinacionais de controlar as fontes de matérias-primas, assim como fazem com os setores estratégicos da economia e as instituições políticas.

A resposta das massas a esses processos de recolonização tem sido a resistência e a mobilização, como vem ocorrendo em toda a América Latina, com a Bolívia na vanguarda. Lá se assiste, há bastante tempo, a uma queda de braço entre as multinacionais e os governos capachos, de um lado, e as massas de outro, que já deram mostras de uma disposição de luta incansável. O problema no front interno são suas direções, sobretudo o MAS, de Evo Morales, que se recusam a levar a luta contra o imperialismo e aposta na preservação da democracia burguesa e do calendário eleitoral.

O problema de
Santa Cruz
Para fugir da pressão das massas e garantir seus negócios, o imperialismo articula uma jogada de mestre. Quer separar a cidade de Santa Cruz do restante da Bolívia. Essa região, a 600 quilômetros da divisa com o Brasil, é uma das mais ricas do país, porque concentra os poços de petróleo e gás, além de terras férteis e baratas usadas na produção de soja. Aí estão instaladas as principais petroleiras e fazendas, muitas delas nas mãos de latifundiários brasileiros.
A burguesia de Santa Cruz, com o apoio do imperialismo norte-americano (e talvez do governo Lula), chamou um plebiscito para 12 de agosto, quando será votada a autonomia regional.

A separação da rica Santa Cruz, além de enfraquecer a Bolívia, vai condenar à pauperização o restante do país.

Jogadas democráticas e golpistas
Nessa queda de braço em que se transformou o país, o governo Mesa tenta recuperar o controle político acenando com eleições para prefeitos e uma Assembléia Constituinte. Mas nada indica que conseguirá. No dia 25, sua renúncia foi exigida por um grupo de militares “patrióticos” liderados pelo tenente-coronel do exército Júlio César Galindo, logo desautorizado pelo comando das forças armadas.

O perigo de um golpe militar está sempre presente. Hoje, no país, há duas articulações golpistas. A primeira feita pela alta cúpula das forças armadas que pretende impor uma ditadura do tipo “Pinochet”, apoiado pelo imperialismo ianque.
A segunda é articulada por militares nacionalista que propõem um governo “cívico-militar” nos moldes do regime de Chávez na Venezuela. Até mesmo Jaime Solares, presidente da Central Operária Boliviana (COB), defendeu na semana passada que a Bolívia precisava de um coronel tipo Chávez. Contudo, um regime assim substituiria as organizações operárias e camponesas, submetendo-as à vontade dos militares.

Os trabalhadores, camponeses e indígenas bolivianos estão diante da necessidade de continuar mobilizados para garantir a greve geral pela nacionalização do gás, exigindo, ao mesmo tempo, a imediata suspensão do plebiscito de Santa Cruz. Agora, mais do que nunca, a grande bandeira do povo boliviano volta à ordem do dia: todo o poder à COB!

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