Na madrugada do dia 9 de abril, o governo venezuelano de Hugo Chávez anunciou a nacionalização da Siderúrgica de Orinoco (Sidor). Sem dúvida alguma, trata-se de uma grande vitória conquistada pela luta dos trabalhadores da empresa e que terá repercussões no país e em todo continente.

Privatizada em 1997 pelo governo pró-imperialista de Rafael Caldera, a Sidor é administrada pela holding Ternium, integrante do grupo argentino-italiano Techint, um dos conglomerados siderúrgicos mais fortes do continente. A Usiminas também integra o consórcio da Ternium.

A Sidor é a maior siderúrgica da região andina e do Caribe. Com 12 mil funcionários, está localizada em Ciudad Guayana, onde se concentra a maior parte do parque industrial venezuelano.

Como em toda privatização, foram os trabalhadores que saíram perdendo. Menos de um terço dos operários da empresa são efetivos. Os outros 70% trabalham como terceirizados, em condições salariais e trabalhistas extremamente precárias. Além disso, as 300 empresas terceirizadas que prestam serviços à Sidor são pertencentes aos próprios acionistas da Techint ou de representantes governamentais da CVG (Corporação Venezuelana de Guayana), que supervisiona sua produção.

Repressões e manobras
A nacionalização da Sidor é fruto de uma longa dolorosa batalha dos trabalhadores que não se chocou apenas com a direção da empresa, mas também teve de se enfrentar com as manobras e a repressão policial do governo Chávez.

Há anos, os operários vêm exigindo (através do Sindicato Único dos Trabalhadores da Indústria da Siderúrgica Sidor – SUTISS) reajustes salariais que cubram as perdas inflacionárias, a reestatização da empresa e a contratação pelo Estado de todos os terceirizados. Nos últimos meses, os operários da Sidor promoveram uma longa e heróica luta pela reestatização e por um reajuste salarial que repusesse as perdas inflacionárias.

Mas, apesar dos altos lucros, a direção da Sidor não aceitava a proposta de reajuste. Vale lembrar que a superexploração dos trabalhadores permitiu à Ternium obter imensos ganhos. Algo que se expressa na valorização de mais de 100% de suas ações na Bolsa de Nova Iorque no último ano.

Diante da intransigência da empresa, os operários organizaram diversas paralisações. No dia 4 de março, foi organizada uma passeata que foi duramente reprimida pela Guarda Nacional (polícia chavista). O protesto ocorreu em frente às instalações da empresa venezuelana de Guayana (CVG) quando os trabalhadores aguardavam para ser atendidos por membros de uma comissão de negociação.

Como se não bastasse, na manhã de 14 de março, os trabalhadores se concentraram em frente ao portão de acesso à planta, manifestando-se pacificamente. Contudo, batalhões da Guarda Nacional e da polícia foram deslocados e reprimiram violentamente os trabalhadores, com balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. O saldo foi de 53 trabalhadores detidos e pelo menos 12 feridos.

Não foi a primeira vez que os trabalhadores do país amargaram a repressão sob o governo Chávez. No ano passado, petroleiros também sofreram a repressão da Guarda Nacional. Os trabalhadores da Sanitarios Maracay e a greve dos funcionários públicos do próprio Ministério do Trabalho também foram brutalmente reprimidos.

Ao mesmo tempo em que reprimia, o governo Chávez também deslocava o seu ministro do Trabalho, José Ramón Rivero, para mediar a crise. No entanto, as ações do representante do governo foram nitidamente favoráveis a multinacional.

Para tentar acabar com o conflito, o governo propôs a formação de uma “junta arbitral”, designada pelo governo, cuja decisão seria de cumprimento obrigatório. Tratava-se de uma clara manobra contra os trabalhadores e o sindicato que os obrigava a aceitar qualquer aumento definido pela junta. Confiantes em sua capacidade de mobilização, os trabalhadores rejeitaram a proposta.

O governo, porém, tentou emplacar outra manobra e propôs formar uma Comissão de Alto Nível. Numa reunião dessa comissão, no dia 12 de março, o Ministério do Trabalho propôs que se realizasse um referendo para que os trabalhadores da Sidor definissem se aceitavam a oferta da empresa ou se queriam ir à greve. Tratava-se de mais uma atitude a favor da patronal, pois o plebiscito significava desconhecer o sindicato como representante natural dos trabalhadores no conflito. Novamente, a proposta foi rejeitada.

Segundo o sindicalista Orlando Chirino, coordenador nacional da UNT e membro da Corrente Classista Unitária, Revolucionária e Autônoma (C-CURA), a nacionalização foi uma vitória da mobilização independente dos trabalhadores. “Os derrotados são a empresa multinacional Ternium e o próprio governo Chávez que até semana passada apoiava a empresa, por meio da postura do ministro do Trabalho”, disse. O sindicalista ainda alerta: “tampouco podemos nos esquecer que no dia 14 de março os sidoristas foram brutalmente agredidos pela Guarda Nacional, e que até poucos dias atrás o governo e seus aliados sindicais acusavam de contra-revolucionárias as paralisações escalonadas”.

Uma vitória arrancada pela luta
Logo após assumir o poder, Chávez prometeu que nacionalizaria a empresa. Mas ao longo de quase uma década, a promessa do presidente ficou apenas nas intenções. Não foi a benevolência de Chávez que resultou na nacionalização. Foi a paciente e heróica mobilização dos trabalhadores da Sidor que conquistou esta grande vitória e forçou o presidente a decretar a medida. Algo que, certamente, terá profundas repercussões nas futuras lutas dos trabalhadores venezuelanos e no conjunto da América Latina.

Para efeito de comparação, a nacionalização da Sidor seria algo semelhante, no Brasil, à reestatização da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), privatizada em 1993.

Mas é preciso avançar. Os trabalhadores devem exigir que o governo Chávez aprove o contrato coletivo assumindo as exigências salariais feitas pelos trabalhadores, assim como a contratação imediata de todos operários que trabalham como terceirizados.

A nacionalização da Sidor deve ser o primeiro passo para seguir em direção ao controle dos trabalhadores sobre a empresa: única maneira de garantir as demandas salariais e as melhoras nas condições de trabalho.

“Os trabalhadores devem continuar alertas e mobilizados para conquistar suas reivindicações, assim como uma verdadeira nacionalização da Sidor, sob controle e gestão direta dos operários. Chávez tem razão quando recorda que os trabalhadores da Sidor se mobilizaram para defender o processo revolucionário contra a paralisação de sabotagem golpista. Nessa ocasião, eles demonstraram que só os trabalhadores, com o apoio das comunidades, podem garantir a produção e a segurança de empresa estratégica como Sidor”, concluiu Chirino.

É preciso estender a nacionalização a todas as empresas, cujos donos sabotam a economia do país, conduzem ao desabastecimento e desrespeitam os direitos dos trabalhadores.